Música

Oreia lança o terceiro álbum solo e está de volta ao "rap das antigas"

Com oito faixas marcadas pelo boom bap, rapper fecha um ciclo. Djonga, Clara Lima e talentos da nova geração são os convidados do disco 'Oreia'

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O novo disco de Oreia traz a foto do rosto dele estampada na capa e foi batizado apenas com seu nome. Isso diz muito do conteúdo do terceiro trabalho solo do rapper mineiro, que despontou em meados da década passada junto de Hot, com quem formou dupla de 2013 até 2021. Trata-se de um álbum que sintetiza tudo o que ele já produziu, ao mesmo tempo em que marca o retorno à sonoridade do início da carreira.


O sucessor do EP “Pé do ouvido” (2016) e do álbum “Gangsta da roça” (2022) é uma expressão de sua personalidade, aponta Oreia. O novo trabalho fecha um ciclo. “Diria que a temática do disco sou eu, o que já fiz, mas aí entram músicas de amor, de ciúmes, de protesto. Então, é a junção de tudo, que me prepara para uma nova fase”, destaca.

Oreia salienta que as oito faixas inéditas partem mais da lírica do que de qualquer outro elemento. “É um disco em que volto ao boom bap”, diz, aludindo ao subgênero do hip-hop caracterizado por batidas secas do bumbo e da caixa, cuja origem remonta ao final dos anos 1980 e início da década de 1990, nos Estados Unidos.

De acordo com ele, a atual cena do rap em Belo Horizonte, de modo geral, tem se dedicado à revisão de vertentes do gênero, o que é revelador das mudanças constantes que o hip-hop atravessa ao longo dos anos.

“Teve a onda do boom bap no Brasil, aí veio uma galera em Minas que explodiu entre 2016 e 2017 – Djonga e DV Tribo (do qual ele fez parte), por exemplo. Depois foi a vez do trap, que entrou até em trilha de novela da Globo, e agora o boom bap voltou com força. A galera saturou de falar de bunda, dinheiro e droga, então todo mundo está fazendo rap 'das antigas' de novo. Isso sem combinação, é uma questão de sintonia mesmo, quem é do meio sente isso no ar”, afirma.


Nessas idas e vindas do gênero, ciente de suas inúmeras possibilidades, Oreia criou a expressão – e o estilo – Gangsta da Roça, que nomeou seu último álbum. O trabalho foi fruto da imersão de um ano em sua cidade natal, Medina, no Norte de Minas, onde foi morar com os pais após a dissolução da dupla com Hot, motivada pelo imbróglio envolvendo o “cancelamento” do companheiro, acusado de relacionamento abusivo pela namorada.


“A roça também está presente nos becos e vielas das grandes cidades, porque tem o movimento de migração das pessoas em busca de oportunidades. O 'Gangsta' foi um trabalho importante, me colocou nesse lugar de representante do rap da roça”, destaca.


“O novo trabalho não tem foco específico, é um conjunto de coisas, um apanhado do que já fiz. É mais comercial, com a participação de convidados especiais e a presença de vários beatmakers”, acrescenta.

Coletivo de amigos


Os beatmakers de que ele fala – Cido, Fantini, Oculto, Fumaça e Dope – não estão exatamente ligados ao universo do hip-hop, mas são “o coração do disco”. Oreia diz que essa distinção se deve, sobretudo, ao fato de serem todos amigos próximos.


“Criamos todas as músicas juntos. Colei na casa deles, fomos levantando referências e ideias para chegar à sonoridade do disco. Eles são músicos, instrumentistas, alguns mais ligados na MPB, uma onda mais 'tilelê', e outros se apresentam em raves”, explica.


Todos eles são de Belo Horizonte, com exceção de Dope, de Maceió (AL), cidade de onde vem uma das convidadas do álbum, Luii Lil, representante da cena trap local. “Fiz uma viagem para Alagoas, conheci os dois, nos aproximamos e acabamos fazendo a música (“Vacilei”, quinta faixa do álbum) no home studio do Dope, tudo num esquema bem informal”, conta.


Djonga e Malaca, em “Praça do Papa”; Abu, em “Satisfaciones”; Luiz Brasil, em “Pequi”; e o paulista Massaru, em “Bebim”, são outros convidados.


“Seis das oito faixas têm participações especiais, entre nomes consagrados e gente da nova geração. Não me preocupei em pegar só famosos. 'Praça do Papa' mesmo tem o Djonga e tem a Malaca, uma menina foda, que está despontando. O Massaru é representante do trap de São Paulo. E tem a Clara Lima na faixa 'Pulêro', boom bap da pesada que a galera tem curtido muito. Essas presenças completam o jogo, deixam a coisa toda bem parruda”, ressalta.


Um detalhe curioso de “Oreia” é que os visualizers – elemento audiovisual que acompanha a música sem ser necessariamente um clipe – das oito faixas têm intérpretes de Libras como protagonistas. Todos estão disponíveis no YouTube, de acordo com o rapper.


Libras em destaque

O álbum foi viabilizado pela Lei Paulo Gustavo, que exige a acessibilidade em Libras do material patrocinado. Oreia conta que resolveu potencializar essa presença.

“Para muita gente, isso é uma questão, mas não para mim, tanto que amplifiquei e transformei na melhor coisa possível, colocando os intérpretes de Libras (Fabiana de Souza e Crizin) como protagonistas dos visualizers. Eles aparecem como artistas principais e eu fico no cantinho da tela. São mais de 10 milhões de surdos no Brasil. Me envolvi com essa comunidade, com os intérpretes, a galera ficou emocionada e fiquei muito feliz com isso, pois é um público a mais que abraço e que me abraça”, destaca.


A programação de shows de lançamento já indica a circulação extensa da turnê de “Oreia”. “Estou com nove datas agendadas para abril, com apresentações em Natal, João Pessoa, Recife e também cidades mineiras e do Centro-Oeste, como Uberaba, Brasília e Goiânia. Exu, Xangô e Ogum estão abençoando este trabalho, e a gente vai para cima”, festeja o rapper.

Na contracapa do álbum 'Oreia', vê-se a foto de mãos masculinas com unhas pintadas de verde sobre a cabeça abaixada de um homem
Contracapa do álbum 'Oreia' Instagram/reprodução


“OREIA”


• Álbum do rapper Oreia
• ONErpm
• Oito faixas
• Disponível nas principais plataformas

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