O rapper BK está cada dia mais próximo de voltar a ser Abebe Bikila. O nome de batismo do artista foi escolhido pela mãe, Ana, em homenagem a um maratonista da Etiópia que correu descalço e conquistou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Roma de 1960.




Já o nome artístico surgiu como um apelido que ele recebeu na adolescência, enquanto vivia na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, devido à dificuldade das pessoas em pronunciar seu nome verdadeiro.


É como Abebe que o músico se apresenta durante a chamada de vídeo feita com o Estado de Minas. Com pouca marra e muita simpatia, ele não esconde o nervosismo diante do lançamento de seu quinto disco de estúdio, “Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer (DLRE)”, disponível nas plataformas desde a última terça-feira (28/1).


“É sempre coração a milhão. Tô aqui com a expectativa e a ansiedade lá nas alturas”, disse sobre a expectativa em relação à reação do público. E o resultado foi positivo. Com mais de 5 milhões de reproduções nas primeiras 24 horas desde o lançamento, “DLRE” se tornou uma das 10 maiores estreias do Spotify Brasil.


Com 16 faixas inéditas, o projeto não economiza no tempo de duração. É o maior de BK até agora e também onde ele se mostra mais vulnerável. Ao trazer suas vivências pessoais como protagonistas dos versos, o artista fala de amor, mudanças na vida profissional, dores e conquistas. “Acredito que o disco é um caminho para esse novo lugar da minha carreira”, afirma.


Samples

“É um trabalho bem detalhadinho. Acho que ele tem uma audição fácil, é bem explicado e cheio de referências legais”, continua. “É um disco de quase uma hora, e eu gosto disso para poder contar bem a história, detalhar melhor as coisas, ter músicas que a galera vai descobrindo no meio do caminho”, completa.


Um dos grandes destaques é o uso de samples (são pelo menos 10) de grandes nomes da música brasileira, como Djavan, Milton Nascimento e até mesmo Evinha, cantora de sucesso na época da Jovem Guarda, que, nos últimos meses, vem sendo redescoberta pela juventude.


O processo de construção foi assim: depois da escolha dos samples, o artista começou a fazer rimas que dialogassem com os trechos das faixas escolhidas. “Criei minha interpretação e minha ideia a partir daquilo dali pra montar as músicas.” Além das rimas, o disco também conta com arranjos complexos, incluindo instrumentos pouco usuais no rap, como sax, trompete, flauta, violino, violoncelo, viola, percussão e trombone.


A escolha por usar referências da música brasileira veio como uma forma de homenagear a nostalgia da infância, com músicas que BK presenciava a mãe, as tias e as madrinhas escutarem. “Todo mundo é muito fã, todo mundo viveu muito a música brasileira”, relembra.


“É um disco que tem esse lugar de colocar a nossa cultura nas alturas. A gente tem o costume de samplear muita coisa de fora, mas, se temos condição de fazer isso acontecer, de pagar por isso, então vamos investir na nossa música”, diz.


Fã de Djavan

Ainda sobre o processo de produção do disco, BK conta que evita ouvir rap para não ser indiretamente influenciado. Fã assumido de Djavan, usou um sample de “Esquinas” para produzir “Só eu sei”. “Sempre pirei nessa música”, conta ele, que já encontrou o ídolo várias vezes nos bastidores de apresentações.


Além dos samples, o álbum traz parcerias com revelações da nova geração, como Melly, Luedji Luna e Fye, do selo Pirâmide Perdida, criado pelo próprio BK. O resultado é uma mistura de diferentes pontos de vista ao longo das faixas.


O artista conta que “Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer” chega após um momento de grandes mudanças em sua vida profissional e pessoal. “Queria mostrar um pouco mais de mim, do que eu estava sentindo no meio de tudo o que estava acontecendo. Consegui acessar esses meus sentimentos e jogá-los para o público em forma de rima”, diz.


“Todas as músicas eu fiz de coração, me identifiquei bastante. Cada uma tem seu papel dentro do disco. Em algumas você pesa mais na caneta, em outras o beat aparece mais”, comenta. Ele também revela que muitas faixas ficaram pelo caminho. Ao todo, foram mais de 70 beats produzidos para o álbum, alguns já descartados e outros guardados na gaveta.


“DLRE” também ganhou um curta gravado na Etiópia que complementa a narrativa das canções. A ideia do audiovisual, com aproximadamente 10 minutos de duração, é ajudar o ouvinte a mergulhar no universo do disco e entender um pouco mais do conceito do projeto.


Tido como um dos maiores nomes da nova geração do rap, BK diz que o que o inspira a continuar é a movimentação da cena. “Fazer rap e ver a cena acontecer, ver a movimentação acontecendo, é inspirador pra mim. É um lugar que eu gosto muito e quero sempre estar presente. Fazer a cena girar e ser uma peça importante nisso é muito maneiro. A arte me liberta. Quero sempre experimentar coisas novas, formas diferentes de fazer rap. Isso é o que me mantém e me alimenta.”


Sobre a volta às origens, ele diz acreditar que hoje é muito mais Abebe e menos BK. “Até ‘Castelos e ruínas’, eu era aquele BK de rua, que só pensava em rima. Agora, me sinto mais à vontade para explorar meu lado artístico, minhas ideias, o que quero explorar de conceito.”


A questão do nome artístico, ele diz, é algo que quer deixar de lado em algum momento, mas ainda não sabe quando. “Não tenho pressa com isso. Pode ser que demore 10 anos”, afirma.


BK se apresenta em Belo Horizonte no dia 24 de maio, como um dos headliners do Festival Sarará, que ocorre no Parque das Mangabeiras.


“DIAMANTES, LÁGRIMAS E ROSTOS PARA ESQUECER”
• Álbum de BK
• 16 faixas
• Disponível nas plataformas digitais

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