(FOLHAPRESS) - Walter Salles não quer saber de polêmicas, ele quer saber é de cinema. O diretor está em Los Angeles para mais uma fase de divulgação de "Ainda Estou Aqui", indicado em três categorias do Oscar. E, apesar de seguir pessimista com suas chances, ele segue firme e forte para fazer uma campanha "mais honesta possível" e "sem truques", em suas palavras.
"Como eu não tenho mídia social, e também não me interesso pelo entorno, toda vez que tem algum ruído, eu volto ao cinema", disse Walter Salles à Folha na tarde deste sábado, ao ser questionado sobre o que achava da corrida atual do Oscar, mergulhada em polêmicas por conta do filme "Emilia Pérez" e sua atriz Karla Sofía Gascón, concorrentes do longa nacional.
"Eu chego ao hotel, e vejo filmes quase todas as noites", continuou, mudando de assunto. "Um deles, aliás, é um filme que nos permite entender o que está acontecendo do ponto de vista geopolítico aqui neste país."
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Salles falou então sobre "Trilha Sonora para um Golpe de Estado", indicado ao Oscar de melhor documentário. O longa aborda as influências norte-americanas em países africanos, chegando ao assassinato do líder congolês Patrice Lumumba, em 1961.
"Foi uma extensão ou uma antecipação daquilo que aconteceria com a gente na América Latina", disse. "É um documentário absolutamente imperdível, você entende o quão tentacular continua a ser o colonialismo mesmo depois da independência, entre aspas, de certos países africanos."
"Ainda Estou Aqui" disputa três categorias do Oscar: melhor filme, produção internacional e atriz para Fernanda Torres. Salles repetiu que segue pessimista.
"O lançamento de um filme é um pouquinho como entrar num oceano. As correntes vão te levando, e você tem que saber nadar, e evidentemente você tem escolhas ali. Nesse processo, nós estamos tentando honrar a memória daqueles que o filme abraçou."
No sábado, Salles estava em Los Angeles para participar de um bate-papo com o diretor mexicano Guillermo del Toro após a exibição de "Central do Brasil", de 1998, na American Cinematheque. O filme de Salles levou duas indicações ao Oscar na época, uma delas para a mãe de Fernanda Torres, Fernanda Montenegro.
"Toda vez que encontro o Guillermo, e às vezes acontece entre muitos anos, parece que, na verdade, a gente se viu anteontem", disse Salles.
"É uma pessoa com uma extraordinária generosidade e humanidade. E acima de tudo, ele tem um amor pelo cinema e pela memória do cinema", continuou, lembrando que o mexicano ganhou um prêmio da Federação Internacional de Arquivos Cinematográficos.
Ao sair da sessão, Salles ficou sabendo que "Ainda Estou Aqui" havia ganhado o prêmio Goya de melhor filme ibero-americano. O longa brasileiro foi o primeiro trabalho nacional a concorrer e vencer a categoria, numa premiação considerada o Oscar do cinema espanhol.
"Fazer parte dessa tradição narrativa tão ampla foi um presente muito especial", disse. "É diferente de qualquer outro prêmio, e de qualquer um que venha."
Com tantos encontros internacionais na rota de divulgação do "Ainda Estou Aqui", o diretor diz que ainda não tem próximos projetos ou planos de filmes internacionais.
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"É a última coisa que estou pensando", disse, rindo. "Agora só quero chegar ao final desse processo e poder continuar a fazer justiça àquilo que nos motivou a contar essa história, que é a história de Eunice e Rubens Paiva."
"O filme continua nos surpreendendo. Jamais poderia imaginar que chegaria até aqui. É impossível saber até que ponto isso vai continuar."