Crítica da BBC avalia as chances de 'Ainda Estou Aqui' e Fernanda Torres no Oscar
Crítica americana Caryn James afirma que produção brasileira é "emocionante e eloquente" e destrincha as chances do filme na premiação
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Siga noEm clima de Copa do Mundo e em pleno Carnaval, o Brasil pode ganhar uma primeira estatueta no Oscar neste domingo (2/3).
Estrelado por Fernanda Torres e dirigido por Walter Salles, Ainda Estou Aqui concorre a três prêmios importantes — Melhor Filme Internacional, Melhor Filme e Melhor Atriz.
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O "exército de likes" de brasileiros se engajou em promover — e defender — a atriz brasileira e Ainda Estou Aqui.
Para a crítica americana Caryn James, que escreve para a BBC e colocou o título em sua lista de favoritos do ano passado, a produção brasileira é "emocionante e eloquente".
O filme, de acordo com James, agora parece ser o favorito na categoria de Melhor Filme Internacional, e Torres tem uma chance realista de surpreender a favorita ao prêmio de Melhor Atriz, Demi Moore.
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Ainda Estou Aqui acompanha Eunice Paiva (Fernanda Torres) e seus cinco filhos após o desaparecimento ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), após ser interrogado pela Polícia durante a ditadura militar.
Embora o roteiro seja sobre um episódio específico da história política brasileira, e tenha sido um grande sucesso comercial no país, ele também emociona públicos ao redor do mundo, diz James.
A produção arrecadou mais de US$ 25 milhões em todo o mundo, incluindo mais de US$ 3 milhões em apenas um mês nos EUA, onde ainda está em cartaz.
"Poucos filmes retrataram os efeitos devastadores da política sobre os indivíduos de maneira tão íntima, visceral e oportuna, chegando num momento em que o crescimento do autoritarismo se tornou uma preocupação global", escreveu James em seu texto para a BBC Culture.
À BBC News Brasil, ela destrinchou as possibilidades de Ainda Estou Aqui na 97ª edição do Oscar neste domingo.

Melhor Filme Internacional: 'favorito absoluto'
"Acredito que Ainda Estou Aqui seja o favorito absoluto para vencer como Filme Internacional. Ficarei muito surpresa se não vencer essa categoria, especialmente agora que Emilia Pérez desmoronou", diz Caryn James.
A crítica americana avalia que Emilia Pérez e Ainda Estou Aqui estavam bem posicionados no início da temporada de premiações, e talvez o filme francês, que levou o Bafta e o Globo de Ouro, estivesse em uma ligeira vantagem.
No entanto, críticas da comunidade mexicana ao filme e controvérsias envolvendo a atriz principal, Karla Sofía Gascón, criaram um cenário de resistência ao filme.
"O acúmulo desses fatores realmente prejudicou Emilia Pérez, tornando Ainda Estou Aqui o grande favorito para Filme Internacional", crava a crítica.
Em consonância com a avaliação de James, o jornal The New York Times e a revista Variety também apostaram na produção brasileira como vencedor da categoria.
"Acredito que o filme ressoa incrivelmente bem com o público ao redor do mundo, em parte porque é uma história muito pessoal, então as pessoas se conectam com o lado humano", diz James.
"Mas também porque o autoritarismo é uma realidade em muitos países hoje. Muitas pessoas identificam paralelos entre aquele período retratado no filme e os perigos do autoritarismo em seus próprios países."
Melhor Atriz: Fernada Torres é competitiva

A atriz Fernanda Torres encantou a imprensa internacional em sua campanha ao Oscar e após ganhar o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama. A história de sua indicação após 25 anos de sua mãe, Fernanda Montenegro, também concorrer ao Oscar em 1999 por Central do Brasil, também tem apelo.
"Acho que a campanha do filme tem sido muito centrada em Fernanda Torres, o que faz sentido. Desde o início, parecia que a melhor chance de Oscar para o filme seria por meio da performance dela", diz James.
"Embora Fernanda Torres não seja uma grande estrela fora do Brasil, isso não prejudicou o filme. Na verdade, quando ela ganhou o Globo de Ouro, isso colocou um enorme holofote sobre o filme, chamando a atenção de outros votantes de prêmios e do Oscar", continua a crítica americana.
No entanto, Caryn James aposta que Demi Moore é a favorita da categoria.
"Moore já ganhou vários prêmios na temporada e fez um discurso perfeito no Globo de Ouro. Um discurso modesto, enfatizando como ela não era levada a sério antes, e essa é uma narrativa que ressoa muito bem com os votantes", afirma.
Para James, Fernanda Torres e Mikey Madison (de Anora), nessa ordem, são candidatas competitivas e com alguma chance.

"Não descarto uma vitória de Fernanda Torres, mas acho que Demi Moore tem uma vantagem por outro motivo: o Oscar gosta tradicionalmente de atuações exageradas, dramáticas, com gritos, lágrimas e explosões emocionais", explica James.
"A atuação de Fernanda Torres é o oposto disso: é muito contida, e essa contenção faz com que a dor e o luto transpareçam de maneira sofisticada e poderosa. É uma performance sutil e sofisticada, mas a Academia tem um histórico de premiar atuações mais explícitas."
Essa indefinição na categoria é vista também nas apostas dos jornais: enquanto a Variety coloca as fichas em Demi Moore, o palpite do jornal The New York Times é que a brasileira leva a estatueta.
Melhor Filme: indicação já é surpreendente

Por fim, na principal categoria da premiação, as chances são quase nulas, diz Caryn James, que afirma que a indicação de Ainda Estou Aqui como Melhor Filme foi surpreendente.
"Ninguém esperava essa indicação, e isso diz muito sobre como as pessoas que decidiram assistir ao filme depois da vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro realmente se impactaram com ele", afirma a crítica.
"Não vai ganhar Melhor Filme, mas o fato de ter sido indicado mostra que tem muito apoio, o que torna a vitória em Filme Internacional ainda mais provável."
Caryn James destaca o desempenho do filme nas bilheterias dos EUA e elogia a campanha da produção brasileira.
"Eles foram muito inteligentes na estratégia de lançamento: fizeram uma exibição qualificatória no outono para o Oscar, mas o lançamento oficial nos cinemas aconteceu há poucas semanas e continua se expandindo", argumenta a crítica.
"Isso o coloca em um momento estratégico para o período de votação do Oscar. Nos EUA, foi um lançamento bem pensado, aproveitando que a maioria dos grandes filmes da temporada de prêmios já estrearam no fim do ano passado."
Mas isso não será suficiente para desbancar filmes como Anora e Conclave, diz.
"O impacto nas redes sociais parece ser maior no Brasil do que aqui. Li bastante sobre as campanhas virais e sobre a forte presença de Fernanda Torres no Instagram, mas nos EUA isso não foi tão relevante", diz James.
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