CINEMA

Robert Pattinson é ‘descartável’ que morre várias vezes em "Mickey 17"

Primeiro filme do sul-coreano Bong Joon Ho depois de "Parasita" traz mistura de " todos os líderes terríveis que já existiram" em trama interplanetária

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Um bilionário se candidata à presidência dos Estados Unidos pregando contra o status quo, inflama uma massa de seguidores apaixonados que portam bonés vermelhos e incentiva uma nova corrida espacial, alternativa que considera mais fácil do que simplesmente ceder a uma agenda ecologista para preservar a Terra.


Parece realidade, mas é ficção. Novo filme de Bong Joon Ho, “Mickey 17”, em cartaz no cinema, talvez seja um de seus maiores delírios cinematográficos, um retorno às situações absurdas, aos personagens caricatos e à dramédia escrachada que apareceram de forma mais palatável em seu último trabalho, o vencedor do Oscar e da Palma de Ouro “Parasita”.


Seis anos depois de fazer história com o primeiro filme em língua estrangeira a vencer o Oscar, o sul-coreano retorna com um longa falado em inglês, bancado pela Warner Bros. e com um orçamento entre US$ 80 milhões e US$ 150 milhões, segundo estimativas do setor.


Mesmo que “Mickey 17” seja uma aventura espacial futurista, o filme tem os pés fincados na Terra, numa realidade em que Donald Trump e Elon Musk não apenas coexistem, mas trabalham juntos na Casa Branca. É como se Joon Ho usasse os dólares que recebeu para tirar sarro dos americanos.

Mas o filme, assim como o livro que o precede, “Mickey7”, não tem como intenção personalizar seus heróis e vilões. Joon Ho vê paralelos com a realidade americana, mas tem consciência de que o populismo de direita retratado na história é reflexo de um movimento global, que chegou também à Coreia do Sul, que declarou o impeachment do presidente Yoon Suk-yeol, em dezembro, após uma tentativa de autogolpe.


"Neste filme eu queria misturar todos os líderes terríveis que já existiram. Independentemente da intenção, é verdade que sentimos um gostinho de Trump ao olhar para o personagem do Mark [Ruffalo]. Nós conversamos muito sobre como esses ditadores, não importa quão horríveis e frustrantes sejam, têm charme e apelo surpreendentes, o que os torna populares e perigosos", disse o diretor.


Eleições

Em “Mickey 17”, o bilionário vivido por Ruffalo perde as eleições americanas e por isso decide embarcar seus seguidores numa espaçonave para colonizar um planeta qualquer, que seria habitado por uma "raça pura" e de pensamento homogêneo.


Ao seu lado, Toni Colette faz uma primeira-dama igualmente afetada e religiosa. Ela joga lenha na fogueira de caprichos do marido, que proíbe o sexo em sua nave para evitar a queima de calorias e dá ração a seus apoiadores enquanto desperdiça comida em banquetes suntuosos.


Os delírios de grandeza de Kenneth e Ylfa Marshall, porém, são apenas o pano de fundo de “Mickey 17”. A alma do filme é o personagem-título, vivido por Robert Pattinson. Perseguido por agiotas, ele se alista para a viagem ao espaço e, para furar a fila, concorda em trabalhar como um "descartável".


A função consiste em morrer repetidas vezes. Mickey dá autorização para que cientistas de ética duvidosa o clonem e transfiram suas memórias para o novo corpo sempre que o anterior padece. O sacrifício, dizem eles, é essencial para a missão – o protagonista vai testar, entre outras coisas, quão venenoso é o ar ou quão mortíferas são as espécies dos planetas que encontram pelo caminho.


Equilíbrio desconfortável

"Quando li o roteiro, achei que essas cenas seriam engraçadas, algo como ‘Tom e Jerry’, mas na hora de gravar pareceu algo horrível, muito realista", diz Pattinson, que vomita sangue, leva porrada e é incinerado vivo ao longo do filme. "É a assinatura do Bong, misturar tragédia à comédia, num equilíbrio desconfortável."


Seu personagem, bobão e desajeitado, ao chegar em sua 17ª versão e ser equivocadamente dado como morto, é obrigado a coexistir com um 18° Mickey, mais agressivo e determinado. Pattinson precisou contracenar com ele mesmo em várias cenas do longa.


"Criei vozes e maneirismos que ajudassem o espectador a distingui-los logo de cara, mas o problema é que, no fundo, eles não são tão diferentes assim. Foi preciso encontrar maneiras sutis de apartá-los, buscar suas essências, em vez de apostar no exterior", diz o ator.


"Nunca houve uma espécie que destruísse o planeta tão rapidamente quanto o ser humano. Não podemos controlar nossa própria espécie, temos países deixando o Acordo de Paris, o que é trágico", diz o cineasta, em referência ao decreto de Trump que retira os EUA do plano mundial de combate à crise do clima.


Ecologista e politizado – esteve na lista de artistas sul-coreanos que pediram a prisão de Suk-yeol –, Joon Ho é também uma das munições mais poderosas de seu país natal na conquista do mundo pela cultura sul-coreana.


Com os seis anos que o separam da vitória no Oscar, no meio dos quais outros fenômenos surgiram, como a série vencedora do Emmy "Round 6", ele acredita que pouco mudou em sua forma de trabalhar. "A única coisa que mudou de ‘Parasita' para cá é que eu estou ficando velho", brinca. (Leonardo Sanchez/Folhapress) 

“MICKEY 17”
(Coreia do Sul, EUA, 2025, 137 min.) Direção: Bong Joon Ho. Com Robert Pattinson, Steven Yeun e Mark Ruffalo. Classificação: 16 anos. Em cartaz em salas dos circuitos Cineart, Cinemark, Cinépolis e Cinesercla.

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