Flávia de Queiroz Lima relança o livro 'Círculo de giz'
Publicados originalmente em 1983, poemas foram escritos no período da ditadura militar. Noite de autógrafos será no Café do Centro Cultural Unimed-BH Minas
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Siga noNo romance “Saga”, Érico Veríssimo (1905-1975) compara o protagonista Vasco Bruno, soldado da Guerra Civil Espanhola, a um peru. A analogia se refere ao mito de que, ao se desenhar um pequeno círculo de giz ao redor da ave, ela se torna incapaz de sair, paralisada em sua prisão imaginária.
Assim como Vasco e o peru, a carioca Flávia de Queiroz Lima, radicada em Belo Horizonte, passou pelo processo de libertação do próprio obstáculo ilusório. A musicista foi uma das poucas mulheres a integrar um grupo de compositoras na década de 1960, encontrando na escrita musical o caminho para a poesia.
“As músicas e os poemas são coisas muito próximas, e a minha escrita é influenciada pelo meu passado. Quem lê meus textos sempre comenta que eles são musicais. Aliás, é a sonoridade que me guia, acima de tudo”, afirma.
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Os poemas foram compilados com ajuda do escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós (1944-2012) e publicados em 1983 em “Círculo de giz”, primeiro livro de Flávia. O título, além de remeter ao mito da ave, foi influenciado pelas ilustrações de Ferruccio Verdolin Filho.
Ao explicar a importância das imagens, Flávia cita um trecho da contracapa: “Os desenhos do Ferruccio sem querer me mostraram o círculo de giz que esteve presente em todo o trajeto. Ora num foco de luz, ora na cumplicidade de uma lua cheia, num relógio dominador, no retrato antigo, num quarto minguante. Compreendi, então, que a unidade estava nesse círculo percorrido e – finalmente – ultrapassado.”
Quatro décadas após a publicação de “Círculo de giz”, a segunda edição será lançada nesta quinta-feira (13/3), no Café do Centro Cultural Unimed BH-Minas. O conteúdo foi mantido, com alteração da capa. No final de 2025, a autora vai publicar “Resgate”, em comemoração a seus 80 anos.
Relançar o que escreveu há quatro décadas permite a Flávia não somente resgatar memórias de um período marcante, mas também levantar novas discussões sobre questões pessoais e sociais. Para ela, a ideia do círculo de giz permite que outras pessoas compreendam suas angústias.
“É comum a situação em que as pessoas se sentem presas, sem nada concreto as segurando. Frequentemente, elas se sentem impedidas de mudar de vida, profissão, cidade ou qualquer coisa. Na realidade, o empecilho é imaginário. Com o livro, é possível conhecer melhor o caminho que percorri”, explica.
Escritos a partir de 1966, os poemas têm forte caráter de registro social, pois se referem ao período da ditadura militar brasileira. “Não era só o aprisionamento psicológico e individual, mas o coletivo. A gente se sentia impedido de falar e de se expressar de uma forma muito nítida. Até a década de 1980, quando já havia me mudado para Belo Horizonte, a repressão da ditadura ainda era rígida. Então, vários poemas falam do sentimento de inquietude coletiva”, conclui a autora.
“CÍRCULO DE GIZ”
• De Flávia de Queiroz Lima
• Pangeia
• 96 páginas
• R$ 39,90
• Lançamento nesta quinta (13/3), às 19h, no Centro Cultural Unimed BH-Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Entrada franca.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria