Ronaldo Fraga revela lições de sua 'quase morte' causada por nó nas tripas
Após cirurgia de emergência, estilista alerta: 'A qualquer dor diferente, não espere, porque o tempo em que você procura ajuda é determinante'
Mais lidas
compartilhe
Siga no
Aos 58 anos, Ronaldo Fraga diz, com orgulho, que só entrou em um hospital duas vezes na vida, para acompanhar o parto dos filhos. Em fevereiro, esse histórico mudou de forma traumática, a ponto de quase lhe custar a vida.
Um dos mais celebrados estilistas do país, Fraga teve nó duplo no intestino delgado, foi submetido a cirurgia de emergência e o processo de recuperação deve durar até dois meses.
Leia Mais
Figura proeminente na cena cultural de Minas Gerais, ele compartilhou o fato de forma sucinta em suas redes sociais. Neste relato ao Estado de Minas, faz um alerta sobre a urgência do tratamento: “O nó nas tripas está na literatura, mas as pessoas levam isso de forma jocosa. A qualquer dor diferente, não espere.”
Numa manhã de domingo, Ronaldo foi ao mercado, em BH, comprou peixe e voltou para casa para fazer o almoço. Quando terminou a refeição, sentiu dor súbita, que foi aumentando rapidamente até ficar insuportável.
“Tomei analgésico, mas continuava terrível, como socos ininterruptos na boca do estômago. Por mim, apenas ficaria ali de repouso, esperando passar a dor. Liguei para meu namorado, que mora em Goiânia. Ao ouvir a minha voz, ele percebeu algo de muito errado”, conta o estilista.
O namorado, o odontólogo Rodrigo Januário, ligou para um amigo em Belo Horizonte, Fred Braga, que levou Ronaldo para o hospital. “O índice de óbito nesse tipo de ocorrência é alto por causa da demora em buscar socorro. Foi uma torção, no meu caso dupla, em 65cm do intestino delgado”, diz o estilista. A parte onde estavam os nós foi extirpada.
“Levado para o bloco cirúrgico imediatamente, essa rapidez no atendimento impediu que eu morresse”, relata Ronaldo. A cirurgia foi feita na madrugada de domingo para segunda-feira. Fraga acordou terça-feira no CTI, e só se lembrava da dor. Recebeu alta após 10 dias.

A recuperação vai bem. Além dos pontos na barriga, há um grampo para melhor cicatrização. O processo pode demorar até 90 dias. Em postagem no Instagram, o estilista diz que se viu frente a frente com a “indesejada das gentes” – como Ariano Suassuna e Manuel Bandeira nomeiam a morte.
No primeiro momento, o risco de morrer nem era o que mais lhe afligia. “Só pensava que a morte poderia me livrar daquela dor. Já tinha tomado morfina por três horas, o máximo que se pode administrar a uma pessoa, e a dor não passava. Pensava que morrer me aliviaria.”
Fraga relata que foi tomado por intenso fluxo de ideias e sentimentos. Antes da cirurgia, estava acompanhado do filho caçula, Graciliano.
“Ele pegou minha mão, eu só pensava no que poderia lhe dizer para me despedir. Naquele momento, vi que estava tudo dito, tudo estava em paz, a casa arrumada. Fiquei pensando que sempre busquei fazer tudo bem, sendo o amigo, o companheiro e o pai que tento ser. Me deu paz, nessa hora, pensar que não tinha nada a ser dito”.
'É rezar para não acontecer'
Nós no intestino não têm uma causa específica, diz ele. Ocorrem com qualquer pessoa, em qualquer idade. “Pode ser um resíduo que fica ali no intestino, ele tenta expelir, não consegue e aí vai torcendo. Não tem como prever. Então, é só rezar para não acontecer o tão temido nó nas tripas de que a gente ouve muito falar no interior do Brasil”, afirma Ronaldo.
“Em fevereiro, eu ficaria só três dias em Belo Horizonte. Estive na Ilha de Marajó no mês anterior e embarcaria para o Cariri paraibano no dia seguinte. Se estivesse em qualquer dessas viagens, com certeza não teria sido socorrido a tempo.”
A alimentação normal já foi liberada, mas ele não pode carregar peso nem se abaixar, o que impossibilita atividades domésticas. Depende de ajuda. “Sempre fiz tudo sozinho, então tem sido um exercício contar com o outro”, destaca.
Redes de apoio
“As tramas do amor” são o grande valor da vida, afirma Ronaldo. “É o que chamamos redes de apoio. O importante é entender as teias amorosas que a gente vai construindo. Meu namorado ligou para nosso amigo e comprou uma passagem para Belo Horizonte. Quando chegou, eu tinha acabado de entrar para o bloco cirúrgico. Ele ficou dois dias esperando no hospital. Viver o amor só na hora da festa é fácil”, diz.
“A morte é irmã xifópaga da vida, está sempre à espreita. Tenho pensado na lição desta aula, e isso só reforça algo que já sei: o momento é agora, porque a vida é atroz, de um segundo para o outro acabou tudo, vira a página e encerra a história”.
Ronaldo Fraga deixa o alerta: “O nó nas tripas está na literatura, mas as pessoas levam isso de forma jocosa. A qualquer dor diferente, não espere, porque o tempo em que você procura ajuda é determinante para o êxito de qualquer intervenção.”
Vida que segue
O estilista segue tocando seus projetos. Prepara o figurino de “Cobra Norato”, dirigida por Carla Camurati, que estreia em 26 de abril no Festival de Ópera de Belém, no Pará. “São 40 looks que tive de desenhar e produzir no meu ateliê”, conta.
Ronaldo também trabalha em projetos voltados para o "Brasil profundo", levando trabalho e renda a locais carentes do país. Além disso, o estilista vai se casar em 17 de abril, na Cidade de Goiás (Goiás Velho), com Rodrigo Januário. A data foi escolhida para que os convidados possam acompanhar, na véspera, a Procissão do Fogaréu, tradição da Semana Santa goiana.