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Minissérie "Bateau Mouche: O naufrágio da Justiça" estreia hoje

Produção da HBO se debruça sobre o caso do naufrágio que matou 55 pessoas no réveillon de 1988 e permanece impune até hoje 

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Um barco turístico cheio de remendos, alguns deles totalmente irregulares, com uma lotação muito superior à sua capacidade e em meio a péssimas condições de navegação. Estava tudo errado com o Bateau Mouche IV. A sequência de absurdos levou ao acidente que matou 55 pessoas, na Baía de Guanabara, em 31 de dezembro de 1988, simultaneamente à explosão de fogos do Ano Novo na Praia de Copacabana.


Com estreia nesta terça-feira (18/3), na HBO e Max, a minissérie “Bateau Mouche: O naufrágio da Justiça” mostra que a tragédia segue viva, 36 anos mais tarde. “Não é um trauma que ficou lá atrás. Como teve negligência, corrupção, a justiça não aconteceu, as pessoas foram revitimizadas. Até hoje tem gente lidando com isso. Uma pessoa estava literalmente falando com a gente e recebendo coisas do caso”, conta o jornalista Guto Barra, que divide a direção da minissérie com Tatiana Issa.


É a mesma dupla que assinou “Pacto brutal: O assassinato de Daniella Perez” (2022). Os dois crimes, que ocorreram com quatro anos de diferença (a atriz foi morta entre o Natal e o réveillon de 1992), são históricos no Brasil. Só que uma história é de um luto individual; a outra, de um luto coletivo.


Cicatriz

“São 55 vítimas, mas as vidas destruídas são inúmeras. Sejam as pessoas que sobreviveram e viveram o trauma; sejam pessoas que perderam seus familiares. Além disso, como as pessoas não foram amparadas, sempre há aquela esperança de ‘quem sabe agora vai’. É uma cicatriz que não fecha. Quando a gente começou a entrar nas histórias, tivemos que entender como poderíamos contá-las sem privilegiar uma vítima em função de outra”, afirma Tatiana.


Para os três episódios, os diretores ouviram mais de 30 pessoas, entre sobreviventes, familiares das vítimas, advogados, jornalistas e pessoas que participaram do resgate. Tomando os depoimentos como base, a série reconstitui tudo o que ocorreu antes do grupo de quase 150 pessoas subir a bordo de um barco que diariamente levava turistas para passear.


O pai que levou a mulher e o filho de 6 anos que sonhava em ver os fogos de Copacabana é Bóris Lerner, o único membro da família que se salvou – chegou no grupo de sobreviventes carregando o corpo do filho nos braços.


O adolescente que desistiu do passeio porque queria ficar com os amigos é Bernardo Amaral, filho da atriz Yara Amaral. Ele perdeu a mãe e a avó na tragédia e vem tentando, ao longo de todos esses anos, uma reparação. A jovem que sobreviveu com toda a família (eram sete pessoas) ao naufrágio é Renata Fiszman, que passou por vários estágios de trauma mais tarde.


Depoimentos

O Bateau Mouche deixou o cais às 21h; pouco antes da meia-noite, o barco afundou. Os depoimentos são muito detalhados, quase um minuto a minuto de toda a tragédia. Não é fácil de assistir, em especial o segundo episódio, que mostra também o salvamento. Os grandes heróis são dois pescadores, que, numa traineira, passeavam com as famílias – salvaram 32 pessoas.


Já o terceiro e último episódio mostra como o caso foi tratado pela Justiça e como os responsáveis – um grupo de espanhóis que comandava boa parte da diversão carioca, à frente de restaurantes, boates, motéis – se safaram. A culpa recaiu em dois sócios minoritários, que acabaram fugindo, e no comandante do barco, funcionário que morreu no acidente.


O único momento em que o espectador sente a presença dos realizadores é durante a fala dos advogados que defenderam os espanhóis. Ouvimos a voz de Tatiana, atrás da câmera, inquirindo a dupla. “Naquele momento foi impossível não se indignar, ficar calada diante de argumentos impensáveis e cruéis”, diz ela.


O maior desafio técnico da série foi a reconstituição do acidente. As filmagens foram realizadas em um tanque da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com 40 metros de comprimento, 30 de largura e até 25 de profundidade. “Ele é o segundo maior do mundo e o maior da América Latina. Reproduz as ondas do mar e é utilizado para treinamento de funcionários da Petrobras”, conta Patricio Diaz, gerente sênior de produção de conteúdos de não-ficção da Warner Bros. Discovery.


“Não é todo dia que você vai filmar um barco virando, pessoas caindo, gravando com câmeras debaixo d’água o tempo todo, com chuva, onda. Tecnicamente, foi uma produção complexa, porque recriamos todos os pequenos detalhes. Uma coisa é você estar fora da água, onde tem o controle da câmera. Embaixo, não. Os objetos se movem e, quando coloca onda, chuva, tudo sai do lugar”, comenta Tatiana.


A série ainda traz depoimentos de jornalistas que trabalharam na história, como Renato Machado e Fátima Bernardes. Mas vem da experiente repórter Elenilce Bottari, que cobriu o caso quando atuava para “O Globo”, as melhores análises. Ela considera o caso Bateau Mouche um resumo do Brasil: corrupção, desigualdade social, impunidade, está tudo ali. Na parte final, reflete sobre a falha memória do brasileiro e de tragédias que vão se sobrepondo umas às outras, provocando não mais do que esquecimento.


“BATEAU MOUCHE: O NAUFRÁGIO DA JUSTIÇA”
• A minissérie estreia hoje (18/3), às 21h, na HBO e Max. Novos episódios às terças, no mesmo horário.

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