CINEMA

Cillian Murphy vive drama de consciência em "Pequenas coisas como estas"

Em seu primeiro filme depois de "Oppenheimer", pelo qual ganhou o Oscar, ator interpreta comerciante em dúvida entre denunciar ou não uma injustiça

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No ano passado, quando retornou à sua casa na Irlanda procurando um lugar para colocar o Oscar de melhor ator conquistado por sua atuação em "Oppenheimer", Cillian Murphy já estava envolvido nas filmagens do seu filme seguinte, muito diferente do blockbuster dirigido por Christopher Nolan e grande vencedor na cerimônia da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.


"Pequenas coisas como estas" é uma produção muito modesta, ambientada em uma Irlanda cheia de tensões sociais, em 1985. Mostra Murphy como Bill Furlong, dono de um comércio de carvão, um item essencial em todas as casas das pequenas cidades da região. Ele parece ser respeitado por todos e tem uma casa cheia de mulheres: tem cinco filhas.


Murphy é um dos produtores do filme, que é baseado no romance de Claire Keegan, autora irlandesa que frequenta as listas de best-sellers pelo mundo. "Pequenas coisas como estas", publicado em 2021, foi finalista do Booker Prize. Um livro curto, com um personagem principal retraído, silencioso.


"Claire Keegan é uma das grandes escritoras que temos na Irlanda. O livro trata questões de fé, é uma obra muito importante para a nossa sociedade. Há muitas perguntas sobre o que aconteceu na Irlanda naquele período. E é desafiador fazer um personagem que, como você disse, não fala muito", afirma Murphy.


Escândalo

Os acontecimentos a que ele se refere formam um escândalo chamado "Magdalene Laundries", as "Lavanderias de Madalena", na tradução literal. Foi a revelação de que vários conventos na Irlanda abrigavam garotas abandonadas pelos pais, muitas vezes por terem perdido a virgindade, e davam a elas tratamento abusivo e cruel.


Claire Keegan diz em entrevistas que escreveu o livro para discutir se as pessoas devem interferir quando se deparam com injustiças. É o dilema de Bill Furlong: descobrir a coisa certa a fazer. "Eu acredito que aqueles que assistem devem encontrar a mensagem que o filme consiga oferecer. Não creio que eu deva dizer muito sobre isso. Boas histórias tocam pessoas diferentes de maneiras diferentes", opina Murphy.


O desempenho do ator é muito sólido. Ele passa em detalhes sutis como a rotina de seu trabalho é dura. Mesmo como dono do comércio, também precisa carregar diariamente pesados sacos de carvão. Murphy ri diante da observação de que o destino não foi gentil com Furlong, dando a ele cinco filhas e nenhum garoto forte para ajudá-lo. "Você está certo sobre isso, mas aí estaríamos contando outra história, não? Esta é uma história de mulheres."


Prêmio

Furlong testemunha maus tratos às meninas internas e pretende denunciar o que acontece no convento. Sua mulher não quer que ele faça isso, nem alguns de seus amigos, porque a igreja tem interferências em várias atividades da cidade. No comando do convento está a rígida Irmã Mary, personagem pela qual Emily Watson foi premiada no último Festival de Berlim.


Como produtor que convidou a atriz para o projeto, Murphy se empolga ao falar dela. "Emily é maravilhosa. Fiquei muito feliz por ela ter a atuação reconhecida. Temos uma cena juntos no filme que as pessoas vão ver e é incrível. Espero que nós possamos fazer outros filmes juntos. Para mim, é a principal atriz no mundo."


"Pequenas coisas como estas" é o primeiro filme de Murphy após "Oppenheimer". Ele reconhece a diferença brutal de orçamento entre os dois filmes. "Sim, é verdade. Para mim, o importante não é o tamanho do orçamento. O que eu procuro é a boa história, o bom roteirista. E, claro, o bom diretor. Não é o comportamento habitual em Hollywood, eu sei."


O ator destaca o entusiasmo em rodar filmes em seu país. "Ah, é ótimo fazer isso. Como disse, vou atrás de boas histórias em qualquer lugar, mas estamos num momento muito fértil na Irlanda. Filmes muito bons estão sendo produzidos continuamente, temos grandes diretores."


Fazer outra série para streaming não está nos planos imediatos de Murphy, que arrebanhou legiões de fãs com "Peaky Blinders". Foi produzida entre 2013 e 2022, com seis temporadas, mostrando uma gangue de criminosos nos anos após a Primeira Guerra Mundial. "Eu nunca digo nunca, mas não tenho nenhum projeto assim."


A pergunta óbvia é praticamente inevitável: como vencer um Oscar afeta a vida de um ator?


"É perturbador, mesmo que não tenha sido algo com que sonhei na minha vida. Creio que para atores jovens seja algo mais consequente, mas eu tenho 48 anos. Minha relação com o trabalho é a mesma. Tento fazer tudo do mesmo jeito que fazia antes. Mas a percepção das pessoas sobre você muda, é claro. Quanto ao Oscar, está numa estante em casa." (Thales de Menezes)

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