"Camões 500 anos" é o tema do projeto Letra em Cena, no MTC
Primeira edição da temporada 2025 do projeto do Minas Tênis Clube tem como tema a obra do poeta português, autor de "Os Lusíadas"
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Siga noA primeira edição da temporada 2025 do projeto Letra em Cena, do Minas Tênis Clube, celebra os 500 anos de Luís Vaz de Camões (1524-1580), com palestra sobre sua obra ministrada pelo professor da Faculdade de Letras da UFMG Sérgio Alcides, hoje, às 19h, no Centro Cultural Unimed-BH Minas. O evento contará também com leitura de textos do poeta português, a cargo do ator Arildo de Barros, do Grupo Galpão. As inscrições para participar são gratuitas e podem ser feitas pelo Sympla.
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Com relação aos aspectos que pretende abordar em sua palestra, Alcides adianta que seu principal intento é desfazer a imagem que se tem de Camões de um autor solene e difícil. Ele observa que sua obra continua atual, na medida em que aborda emoções e conflitos humanos que são atemporais. “Vou tentar separar a imagem do poeta de todas as apropriações ideológicas que ele sofreu ao longo dos séculos, como um porta-voz das glórias passadas de Portugal, o que de fato não é a parte que mais interessa”, diz.
Tomando como esteio “Os Lusíadas”, obra de poesia épica considerada uma das mais importantes da literatura de língua portuguesa, ele destaca que Camões pensava seu tempo de maneira crítica, com muito envolvimento e com uma preocupação aflita e existencial com os destinos de seu país. O livro, publicado em 1572, tem como ação central a descoberta do caminho para a Índia feita por Vasco da Gama, e em torno dessa expedição, evoca outros episódios da história de Portugal.
Decadência do império
“Vou tentar mostrar uma espécie de contraponto da exaltação da conquista da Índia. Ao mesmo tempo em que o poeta rememora o passado recente de seu país, referente a essa navegação e aos feitos supostamente heroicos dos portugueses, ele reflete sobre a decadência do império português no fim do século 16. Cheio de angústia e até imprimindo um aspecto trágico, Camões termina o livro com sinais claros de preocupação com essa decadência”, destaca Alcides.
Ele diz que a maioria dos intérpretes acredita que o poeta não apenas se refere a uma derrocada política, mas também a um crescente fanatismo religioso, com o poder algo fora de controle que a Inquisição tinha alcançado ao longo daquelas décadas, a partir em que se instaura em Portugal, em meados do século 16. “É possível traçar um paralelo e pensar que essa também é uma questão atual, do fanatismo religioso, se formos pensar o Brasil de hoje”, observa.
Além de explicitar esse contraponto nada otimista presente em “Os Lusíadas”, ele destaca que também pretende chamar a atenção para “o artesão, o grande poeta, incomparável”, falando não só de “Os Lusíadas”, que é a criação épica por excelência de Camões, mas também de sua produção lírica, principalmente os sonetos, que tratam do amor. “Vou chamar a atenção para aspectos dessa obra lírica, que permanece no horizonte do público, que ainda é buscada”, salienta.
Quando fala das apropriações ideológicas que Camões sofreu, Alcides se refere a diferentes períodos da história de Portugal. Ele destaca que o poeta foi “excessivamente sequestrado por projetos políticos” que se sucederam na história, no Antigo Regime e no século 19, quando Camões foi tomado como um símbolo da nação, uma figura que poderia representar uma grandeza perdida que Portugal deveria reconquistar.
“Isso se tornou um peso sobre sua obra no período fascista do século passado, durante a ditadura de Salazar. Ele passa a ser estudado como um objeto de culto cívico”, ressalta.
LETRA EM CENA – “CAMÕES 500 ANOS”
Com o professor Sérgio Alcides e leitura de textos com Arildo de Barros, hoje, às 19h, na biblioteca do Centro Cultural Unimed-BH Minas (rua da Bahia, 2.244, Lourdes, fone: 3516-1360). Para participar é necessário fazer a inscrição, gratuita, pelo site do Sympla.
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