MÚSICA CLÁSSICA

BH recebe a ópera "Suor Angelica", que aborda a repressão às mulheres

Obra de Puccini sobre jovem obrigada a ir para um convento por ter tido um filho antes do casamento será apresentada nesta quarta (19/3), no Palácio das Artes

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Obra composta pelo italiano Giacomo Puccini em 1918, “Suor Angelica” marca a sexta edição da Academia de Ópera Virtuosi com única apresentação, nesta quarta-feira (19/3), no Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes.

À Orquestra e ao Coro Virtuosi, sob regência do maestro André Brant, se junta um grupo de 12 solistas, encabeçado pela soprano Deborah Burgarelli, que interpreta a personagem-título, uma jovem de origem nobre forçada pela família a viver em um convento, por ter tido um filho antes do casamento.


Em italiano, a palavra “suor” significa freira. Ambientada em um convento italiano no final do século 17, esta é uma das raras óperas com personagens exclusivamente femininos. A montagem da Virtuosi Produções, no entanto, tem a peculiaridade de ter um homem no elenco: o contratenor Sérgio Anders, que interpreta a Tia Princesa e também responde pela direção vocal do espetáculo. O libreto explora questões humanas atemporais, como amor materno, a religiosidade e a repressão contra as mulheres.


Deborah considera que “Suor Angelica” tem uma trama muito bem construída, amparada em um drama intenso, abordando temáticas que ainda ecoam nos dias de hoje.

“Temos aí uma luta feminina por espaço e por respeito que atravessa séculos. É uma história escrita no início do século passado, ambientada no século 17, e situações que muitas mulheres viveram naquele período perduram, elas ainda enfrentam julgamentos severos, com consequências terríveis”, observa.


Esperança

Ela ressalta a carga dramática da obra, que a personagem principal carrega ao longo de todo o enredo. Depois que é obrigada a entrar para o convento, Angelica mantém a esperança de ter notícias do filho, até saber que ele morreu.

“Ela cumpre uma trajetória emocional que culmina de forma arrebatadora e que nos leva a refletir sobre várias coisas, como o amor materno, as pressões sociais, a resiliência e a necessidade de estar sempre pronta para enfrentar os desafios da vida”, diz a soprano.


A música em si é, conforme diz, carregada de emoção, o que é uma característica inerente ao romantismo italiano. “É desafiador, exige um preparo vocal grande e um cuidado especial com o texto, porque nossa arte é, em boa medida, baseada na entrega do texto. O que considero mais complicado é a entrega emocional, a parte teatral mesmo, pela intensidade do drama que essa personagem vive”, afirma.


Diretor cênico de “Suor Angelica”, Henrique Passini também chama a atenção para a dimensão da obra como um dos grandes desafios da montagem. “Embora a ópera tenha uma duração aproximada de 1 hora, sua instrumentação é muito cheia e a encenação exige uma organização minuciosa para comportar 12 solistas no palco simultaneamente”, diz.

Diretor da Virtuosi Produções, o pianista Ederson Urias considera que a força do enredo está no fato de abordar questões atemporais.


“A história de Angelica nos faz refletir sobre as injustiças e sobre como, muitas vezes, a sociedade impõe sofrimento a pessoas em situação de fragilidade”, afirma. Ele diz que a atualidade do tema que o libreto registra foi uma das razões para a escolha de “Suor Angelica” para fechar mais um ciclo da Academia de Ópera Virtuosi.

“Essa questão do feminino e da opressão de que as mulheres são vítimas permanece atual, então é uma obra que dialoga com a contemporaneidade”, pontua.


Montagem

A orquestração conta com 80 músicos selecionados para a 6ª edição da Academia de Ópera Virtuosi. Urias observa que os espetáculos apresentados são fruto de um longo processo, que inclui a elaboração de projetos que são submetidos às leis de incentivo e possíveis patrocinadores.


A montagem dos espetáculos, no entanto, é rápida. “Os músicos que se inscrevem na Academia de Ópera Virtuosi têm bagagem, são profissionais com um nível alto e, ainda assim, passam por uma seleção, então, a partir do momento que definimos que obra vamos trabalhar, é tudo muito dinâmico, muito rápido, com os ensaios, a montagem cênica e tudo mais condensado num período curto de tempo. Quando chega ao palco, entendemos que é o fechamento de um ciclo”, comenta.


“Suor Angelica” marca a primeira colaboração de Deborah Burgarelli com a Academia de Ópera Virtuosi. A soprano recorda que integrou o elenco de uma montagem da obra de Puccini há seis anos e diz que agora volta a esse trabalho com outra perspectiva.

“Seis anos fazem diferença tanto do ponto de vista vocal quanto emocional. A maturidade conta na forma como você enxerga a personagem. Acredito que agora chego com uma concepção mais abrangente desse trabalho. O cantor de ópera vai, com o tempo, refinando a parte interpretativa e, ao mesmo tempo, entendendo as nuances dos personagens.”


“SUOR ANGELICA”
Apresentação da ópera de Puccini, com Orquestra e Coro Virtuosi, e solistas convidados, sob regência de André Brant, nesta quarta-feira (19/3), às 20h, no Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes
(Av. Afonso Pena, 1.537, Centro – 31.3236-7400). Ingressos para a plateia 1 a R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia), plateia 2 a R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia) e plateia superior a R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia),
à venda na bilheteria do teatro e pelo site Eventim.

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