CINEMA

Diretora diz que doc "Milton Bituca Nascimento" é "retrato verdadeiro"

Flávia Moraes afirma que teve intenção de não "esconder as coisas, mas sem expor nada que fosse desnecessário". Filme chega nesta quinta (20/3) às salas

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Em 13 de novembro de 2022, no Mineirão, Milton Nascimento se despediu dos palcos com a derradeira apresentação da turnê “A última sessão de música”. Desde então, a despeito de sua fragilidade física, Milton já viajou bastante, conheceu Paul McCartney, gravou e lançou um disco (“Milton + Esperanza”, de 2024) que o levou ao Grammy. No início deste mês, desfilou na Portela, como homenageado da escola azul e branco.


Aos 82 anos, Milton é celebrado por seus pares da velha e nova geração e também por número enorme de fãs (também velhos e novos). É hoje, aliás, mais reverenciado do que há 20 anos. O tom laudatório do documentário “Milton Bituca Nascimento”, de Flávia Moraes, que chega nesta quinta-feira (20/3) aos cinemas, ratifica sua importância sem, contudo, apresentar algo de novo.


Tem um tom de road movie, já que a produção seguiu o cantor e compositor pelos seis meses que durou a turnê (que circulou por Europa e EUA, além do Brasil). Foi nesses lugares que a equipe registrou os depoimentos. Há também cenas dramatizadas que recuperam parte de sua trajetória pessoal. Diante disto, como filme, traz mais o que os outros falam sobre Milton do que ele em primeira pessoa propriamente.


“O filme não procura o conflito e situações esquisitas. Desde o início, tive uma postura de muito respeito e carinho pelo Milton, para criar um retrato verdadeiro sem esconder as coisas, mas sem expor nada que fosse desnecessário”, afirma Flávia.


Ela sabia que tinha um grande desafio pela frente. “Quando a gente fez as primeiras cenas na Itália (em junho de 2022, onde a turnê teve início), ele ainda estava muito fragilizado. Eu tinha dúvida se teria disponibilidade física e de tempo para fazer um filme, porque, além da turnê, tinha as viagens, deslocamentos, ensaios, passagem de som.”


Milton perguntou a ela se o filme daria muito trabalho. “Eu disse que muito, mas que conseguiria fazê-lo se ele fizesse junto comigo. Então, me pareceu que a coisa mais razoável e inteligente seria me manter no recorte da última turnê e entrar no documentário com alguns conceitos muito claros. A gente administrou o filme praticamente em real time, sem ter roteiro”, comenta Flávia, lembrando-se que Milton “termina a turnê (fisicamente) muito melhor do que quando começa.”


A música de Milton Nascimento, bem sabemos, é do mundo. E o filme faz justamente esse movimento, partindo do universal para chegar ao local. Flávia não tem o número exato, mas acredita que tenham sido ao menos 50 entrevistas.


Como a turnê começou no exterior, foram registrados depoimentos de Pat Metheny, Paul Simon, Herbie Hancock, Esperanza Spalding e Spike Lee. Um destaque é a participação de três grandes que morreram recentemente: Quincy Jones (1933-2024), Sérgio Mendes (1941-2024) e Wayne Shorter (1933-2023), cujo álbum com Milton, “Native dancer” (1975), abriu-lhe as portas para o mercado americano.


Intercalando com o registro na estrada, o filme vai trazendo pontos cruciais da trajetória pessoal de Milton: a perda da mãe biológica, a chegada a Três Pontas com os pais adotivos, o racismo, a descoberta da música, o nascimento do Clube da Esquina, a saúde frágil.


Fernanda Montenegro

Tudo isto é pontuado por um texto em off de Fernanda Montenegro. Há ainda narradores informais, como Chico Amaral; depoimentos de parceiros e colegas de geração (Caetano Veloso, Chico Buarque, Lô Borges, Simone, Márcio Borges, Ivan Lins, Ronaldo Bastos, Wagner Tiso, Beto Guedes, Djavan, João Bosco, Toninho Horta); e de novos nomes (Criolo, Maria Gadú, Zé Ibarra, Mano Brown, Tim Bernardes, Djonga).


É coisa demais para duas horas de filme, tanto que a edição é muito rápida, com depoimentos por vezes cortados no meio. Música também só é ouvida em partes. No meio de tanto material, Milton emerge algumas vezes. Fala de Elis Regina (1945-1982) e Fernando Brant (1946-2015), parceiros essenciais para sua obra.


Flávia gravou quatro grandes entrevistas com ele. A melhor delas, espinha dorsal do filme, foi rodada em um quarto de hotel em Los Angeles. Com a porta entreaberta e Milton sentado na cama, assistimos ao artista no momento mais íntimo do filme. Só a diretora (que não vemos) estava com ele.


“Coloquei a câmera fora do quarto, de um lugar onde ele esqueceria, e levei para ele o livro do Guimarães (Rosa, ‘Grande sertão: Veredas’, do qual Milton lê um trecho), uma playlist que eu tinha selecionado e comecei a conversar com ele. Foi a entrevista mais afetiva e despida dele”, diz Flávia.


É fato, tanto que o filme termina com Milton sozinho, ouvindo e “regendo” Ângela Maria interpretando “Babalu”. “Não é pra gostar dessa mulher?”, diz, entre risos. Neste único momento de respiro, o documentário finalmente se encontra com seu personagem.


Novo álbum

Projeto derivado do documentário, o álbum “ReNascimento”, com a nova geração interpretando as músicas de Milton, será lançado em 10 de abril pela Universal. Nesta quinta (20/3) vem a público o primeiro single, “Travessia”, na voz de Sandy. Produzido por Victor Pozas, diretor musical do longa, o disco terá 12 faixas. Alguns dos convidados do projeto participaram do longa, como Tim Bernardes, Zé Ibarra e Dora Morelenbaum (“Ânima”) e a portuguesa Maro (“Cais”). O disco traz Liniker (“Encontros e despedidas”), Os Garotin (“Bola de meia, bola de gude”) e Johnny Hooker e Kell Smith (“Paula e Bebeto”).


“MILTON BITUCA NASCIMENTO”
(Brasil, 2025, 110min., de Flavia Moraes) - O filme estreia nesta quinta (20/3), nos cines Boulevard 5, às 16h05 e 21h05; Centro Cultural Unimed-BH Minas 2, às 18h (sex a dom e qua); Cidade 5, às 16h10 e 20h40; Pátio 8, às 20h50 (sab, dom) e UNA Belas Artes 3, às 20h40.

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