"Branca de Neve" chega aos cinemas sem os Sete Anões
Versão da história em live-action, que estreia nesta quinta (20/3), teve roteiro adaptado, com mais destaque à personagem. Anões viraram ‘criaturas mágicas’
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Siga noEm 2015, a Disney inaugurou a era dos live-actions, ao lançar “Cinderela”, com Lily James dando vida à princesa do sapatinho de cristal. Desde então, ao longo da última década, Ariel, Bela, Jasmine e Mulan também tiveram versões em carne e osso.
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No entanto, apenas nesta quinta (20/3) chega aos cinemas a aguardada adaptação da história da primeira princesa do estúdio, “Branca de Neve”. Dirigido por Marc Webb, o filme teve grandes mudanças de roteiro anunciadas e foi incorporado ao debate político, tendo sido duramente criticado – mesmo antes de seu lançamento – por setores conservadores que o classificaram como parte da “cultura woke”, um termo usado para se referir às pautas identitárias.
A rejeição é curiosa, visto que outras produções, como “Espelho, espelho meu” e “Branca de Neve e o Caçador”, ambas de 2012, já haviam recontado a história da personagem como uma jovem forte, decidida e interessada na política de seu reino.
Fato é que a nova narrativa tem poucas semelhanças com a antiga animação. Enquanto antes a protagonista já fugia pela floresta nos primeiros 10 minutos do filme, ameaçada de morte pela madrasta e prestes a encontrar os sete anões, agora o público terá a chance de conhecê-la melhor.
Origem do nome
O longa começa com o nascimento de Branca de Neve, um bebê muito esperado pelos pais, que vem ao mundo durante uma nevasca – origem de seu nome. Ainda criança, a família a ensina a governar o reino – um lugar próspero cuja economia se baseia na agricultura – com amor, atenção aos súditos e muita torta de maçã.
A situação muda quando a mãe da Branca de Neve morre e seu pai se casa com a Rainha Má, uma mulher de beleza inigualável, interpretada por Gal Gadot, atriz que deu vida à heroína Mulher-Maravilha na última década. Dotada de poderes mágicos, ela nutre extrema vaidade e inveja, já que ser a mais bela é exigência para manter seus dons.
Com a morte do monarca, a Rainha Má assume o trono, militarizando o reino e confiscando as riquezas do povo. Além disso, a vilã escraviza e aprisiona Branca de Neve ainda na infância, até que começa a se sentir ameaçada, à medida que a enteada cresce e se torna uma jovem bondosa e admirável, interpretada por Rachel Zegler.
Ao longo do filme, em ritmo musical constante, Rachel Zegler domina a interpretação da personagem, equilibrando a generosidade, a persistência e até mesmo as inseguranças de Branca de Neve.
Sob risco de morte, ela é forçada a fugir para a floresta, onde se desenrola a maior parte da narrativa. Assim como na animação, inicialmente o ambiente assume um tom de terror, mas logo se transforma em um refúgio aconchegante, cheio de animais adoráveis, com olhos brilhantes e expressões carinhosas. Lá também é onde a princesa encontra a casa dos novos amigos.
Porém, quem espera ver mais de Atchim, Dengoso, Dunga, Feliz, Mestre, Soneca e Zangado pode se decepcionar. Enquanto no clássico eles eram quase coprotagonistas, que viviam dias ao lado de Branca de Neve, agora eles são relegados a terceiro plano – o que se reflete na exclusão do grupo no título do filme.
“Criaturas mágicas”
Em vez dos tradicionais anões, a nova versão apresenta criaturas mágicas de 275 anos. Caricatos e desastrados, eles se entendem de forma conturbada após passarem séculos juntos e são o alívio cômico da trama. A partir da chegada de Branca de Neve, cultivam uma forte amizade com a personagem, cujos conselhos fazem Dunga protagonizar uma das cenas mais emocionantes do filme.
A amizade, por mais que profunda, é relegada a um papel secundário na trama, em detrimento da participação de Jonathan (Andrew Burnap), uma espécie de Robin Hood que se apaixona por Branca de Neve. O casal se conhece ainda no castelo, quando ele está roubando comida e incentiva a princesa a se posicionar. Mais tarde, na floresta, eles se reencontram, confrontando os supostos defeitos um do outro, até que desenvolvem um romance.
Assinado por Erin Cressida Wilson, o roteiro não só moderniza, mas também expande o conto. Em 1937, a Disney não apenas lançou a moda dos filmes de princesa, como revolucionou a indústria das animações, ao conduzir um dos primeiros longa-metragens com cor, a partir do uso do technicolor e de outras inovações técnicas.
Por isso não era incomum que algumas cenas do filme priorizassem a potência de criação dos desenhos, em detrimento do desenvolvimento narrativo. Agora, Wilson aproveita a despreocupação em inovar e constrói um filme seguro, que realmente coloca Branca de Neve como a protagonista de sua própria história – a mesma que, décadas atrás, mudou o cinema.
Temas da polarização
A escalação de Rachel Zegler, norte-americana de ascendência colombiana, portanto definida como uma atriz “latina” em Hollywood, para interpretar a Branca de Neve foi considerada como uma espécie de provocação por comentaristas de direita, que se opõem às políticas de diversidade e inclusão.
O rechaço à atriz aumentou depois de ela criticar abertamente Donald Trump e os eleitores que o levaram de volta à Casa Branca, desejando que eles “não conheçam a paz”. Por outro lado, as posições pró-Israel de Gal Gadot, que é judia, são criticadas por defensores da Palestina, no atual contexto do conflito entre Israel e o Hamas.
“BRANCA DE NEVE”
(EUA, 2025, 1h49min). Direção: Marc Webb. Com Rachel Zegler e Gal Gadot. Em cartaz em salas das redes Cineart, Cinemark, Cinépolis e Cinesercla.
Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes