Stepan Nercessian diz que não procurou "a verossimilhança" para viver Chatô
Único que não canta em cena no musical "Chatô & os Diários Associados – 100 Anos de paixão", o ator conta como se preparou para viver o personagem principal
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“Estou me especializando como um ator de musical que não canta nem dança”, brinca Stepan Nercessian, o Assis Chateaubriand de "Chatô & os Diários Associados – 100 Anos de paixão". Antes do magnata das comunicações, ele estreou no gênero teatral uma década atrás, como Chacrinha, no musical homônimo. Mais recentemente, deu corpo ao Coronel Tom Parker, o polêmico empresário de Elvis Presley, em “O rei do rock”.
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É o único do elenco principal que não coloca o vozeirão à prova. Divide a cena com Claudio Lins, intérprete do jornalista fictício que vai escrever a história dos Diários Associados por meio de uma viagem no tempo; Sylvia Massari, que vive dona Janete, a secretária de Chateaubriand; e Patricia França, que dá vida a Juliana, uma funcionária do grupo de comunicação e interesse romântico do personagem de Lins.
Como protagonista, Nercessian está quase o tempo todo em cena. Boa parte da história, que pontua os momentos decisivos dos Diários Associados – como a fundação do grupo, em 1924, a criação da revista “O Cruzeiro” e da TV Tupi, a primeira emissora de TV do país – tem como cenário o escritório de Chatô.
Nascido em Cristalina, Goiás, Nercessian comenta que o que lhe vem logo à cabeça ao pensar em Chateaubriand é o Curumim, o mascote da Tupi. “Na primeira vez que o vi, não tinha nada (de programação). Era só o slide parado”, comenta o ator. A Tupi foi inaugurada em 18 de setembro de 1950, em São Paulo. Só se tornaria uma rede nacional alguns anos mais tarde.
“Espírito de liderança”
Para levar o personagem para a cena, Nercessian criou seu próprio Chateaubriand. “Não procurei a verossimilhança, estou trabalhando o espírito dele. Como todo homem com espírito de liderança, era uma figura muito envolvente, acelerada, inteligentíssimo, que é um lado que pouco se ressalta nele.”
Ainda que tenha tido uma vida pessoal tumultuada, e a fama de mulherengo sempre o acompanhou, Chatô também tinha um lado, digamos, à frente de seu tempo. “O primeiro beijo entre duas mulheres aconteceu na Tupi”, comenta Nercessian, referindo-se à cena protagonizada pelas atrizes Vida Alves e Geórgia Gomide no teleteatro “Calúnia”, transmitido ao vivo em 1963.
“Procurei trabalhar isto e também outras questões de um camarada que foi quase tudo o que queria”, comenta o ator, lembrando-se da carreira política de Chateaubriand (cumpriu mandatos de senador na década de 1950 pela Paraíba, seu estado natal, e Maranhão); sua eleição, no final 1954, para a Academia Brasileira de Letras (sucedendo ninguém mais, ninguém menos do que Getúlio Vargas na cadeira de número 37); e a criação do Museu de Arte de São Paulo (Masp, fundado em 1947).
Em boa parte das cenas, Nercessian está acompanhado de Sylvia Massari. Um dos nomes mais experientes do teatro musical no país – sua carreira nos palcos começou em 1968 – ela é o alívio cômico do espetáculo. “Como secretária do Chatô, dona Janete o acompanha. É uma faz-tudo que resolve a vida dele, espevitada, agudíssima e com muito bom humor”, conta Sylvia, lembrando-se que, no escritório, o chefe guarda até uma foto com ela num porta-retratos. “Nem sei se houve um romance entre eles, mas é uma figura muito importante na vida do Chatô.”
Sylvia protagoniza dois números musicais do espetáculo. No final do primeiro ato, canta “Cantoras do rádio” (Lamartine Babo, Alberto Ribeiro e João de Barro), célebre no registro de Carmen Miranda. No início do segundo ato, interpreta “La vie en rose” (Louiguy), que Piaf eternizou.
“O Eduardo Bakr foi construindo cada personagem de acordo com a personalidade de cada ator. A Janete tem muito de mim mesma, e é a grande cômica do espetáculo”, diz Sylvia. Enquanto isso, a dupla Claudio Lins e Patricia França protagoniza a veia romântica da saga. “O Fabiano (personagem de Lins) é um jornalista que está perdido, não sabe o que faz. E a Juliana se torna uma musa para ele”, afirma Bakr.
A personagem de Patricia França será também uma funcionária dos Diários Associados, “daquelas que vestem a camisa da empresa”. “Era importante trazer as mulheres para a história, pois o Chateaubriand, ainda que visto como machista, dava muito espaço para elas. A Lina Bo Bardi criou a arquitetura do Masp numa época em que apenas homens atuavam neste tipo de função”, aponta Bakr.
Roteiro da turnê
O musical segue para outras capitais ao longo de 2025. Depois do Rio de Janeiro, “Chatô & Os Diários Associados” chega a Belo Horizonte, para apresentações de 30/5 a 1/6, no Sesc Palladium. Já em São Paulo o espetáculo estreia em 27/6, no Teatro Liberdade, onde cumpre temporada até 17/8.