MÚSICA

Na trilha de Renato Russo: líder da Legião Urbana completaria 65 anos

Artista é lembrado por parceiros e músicos como o grande poeta do rock

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Renato Manfredini Jr. era um jovem que estudava jornalismo no Ceub, amava os Beatles, tinha um programa na Rádio Planalto, em que tocava músicas ainda pouco conhecidas de novas bandas do rock inglês; sonhava ser cineasta; e mantinha no quarto dele, no apartamento da família, na 303 Sul, um precioso acervo de discos e livros.

Dono de um vozeirão, Renato costumava participar do Show do Arroto, entre o final da década de 1970 e início dos anos 1980, na Universidade de Brasília. Ao se auto-apelidar Renato Russo — em homenagem ao escritor francês Jean Jacques Rousseau —, montou uma banda, a qual, inicialmente, intitulou de Aborto Elétrico. Então, foi até o Cafofo, um barzinho que existiu na 407 Norte e convenceu o pianista e proprietário, Rênio Quintas, mesmo sem conhecê-lo, a realizar ensaios no porão do estabelecimento.

 

Ao trocar o nome do grupo para Legião Urbana, talvez não imaginasse,  mas acabara de lançar a banda de maior relevância da história do rock brasileiro. Se estivesse vivo, Russo estaria completando 65 anos. Morto em 11 de outubro de 1996, no Rio de Janeiro, em seu apartamento na Rua Nascimento e Silva, vítima da infecção do virus da imuno-deficiência humana, o músico deixou como legado oito discos de estúdio e três com registro ao vivo, além de um álbum vídeo, produzidos com a banda, os de maior vendagem pela EMI-Odeon. Há, ainda, quatro solos, entre eles o icônico The Stonewall Celebration Concert, feito em homenagem a Robert Scott Hickmon, parceiro de San Francisco, da Califórnia, nos Estados Unidos, com quem teve um relacionamento.

"Quando preparava-se para fazer o primeiro show, com o Aborto Elétrico, no começo dos anos dos anos 1970, Renato me procurou no Cafofo para  fazer ensaios no porão, local que abrigava o Cuca, movimento que propunha a dinamização da cultura brasilense, voltado  para a música, literatura e teatro. Era um núcleo de resistência à ditadura", conta Rênio Quintas. O músico acrescenta: "Por seis meses, o Aborto tocou ali todo domingo".

Grande concerto

Para formar a banda, da qual seria o vocalista e baixista, Renato convidou André Pretorius, filho do embaixador da África do Sul; o guitarrista Kadu Lambach, que depois daria lugar a Dado Villa-Lobos, filho de um diplomata, Marcelo Bonfá a quem conheceu em aulas da natação na AABB; e Negrete, que trabalhava como segurança em eventos noturnos.  

Depois de muitos ensaios, finalmente, fez o primeiro show, abrindo para os Titãs, no Clube da Caixa Econômica, no Setor de Clubes Sul. O grande concerto ocorreu em 18 de junho de 1988, no antigo Estádio Mané Garrincha, para lançar o CD Dois, reunindo 50 mil pessoas. O concerto não chegou ao final, porque foi interrompido meia hora depois de iniciado por uma grande confusão, com invasão do palco e briga na plateia. Tempos depois, ao voltar a Brasília, Renato e a Legião foram acolhidos de forma carinhosa, ao se apresentarem na Sala Villa-Lobos e no Ginásio Nilson Nelson.

Marcelo Bonfá disse à reportagem que via em Renato, além de companheiro de ofício, um irmão mais velho, muito talentoso. "Além de ser autor da maioria das melodias, escrevia letras como poucos, na música brasileira, além de ser um grande arranjador e o inquestionável líder da banda. Se vivo estivesse,  certamente, teria como objeto de suas preocupações as questões espirituais". O baterista e Dado Villa-Lobos têm mantido vivo o legado do compositor em show pelo Brasil, inclusive Brasília.

Carmem Teresa, integrante de um grupo vocal, lembra com ternura do irmão, com quem conviveu menos tempo do que gostaria.  "Ele foi morar no Rio de Janeiro e o nosso contato diminuiu bastante, embora falássemos, por telefone, tanto minha mãe — Maria do Carmo Manfredini — quanto eu com alguma frequência. Sinto que Renato é amado pelos brasilienses, que via nele um dos seus heróis. Infelizmente, hoje, não temos acesso ao espólio do meu irmão, que está nas mãos do Giuliano, que foi nomeado herdeiro".

Quem ,igualmente, guarda muitas lembranças de Renato Russo é uma de maior destaque na cidade que gravou o CD Célia Porto canta Legião Urbana,  ançado em 1996. "Eu e Rênio estivemos no apartamento dele, no Rio de Janeiro e o falamos do nosso projeto. De imediato, ele deu a autorização e disse teria muito prazer em ouvir suas composições interpretadas por uma tiete".

Talento de poeta

No entendimento do hoje advogado Paulo César Cascão, que foi vocalista da banda Detrito Federal, contemporânea da Legião Urbana, Renato Russo se destacava pela genialidade enquanto poeta, na criação das letras de músicas da banda que liderava. "Renato foi o grande poeta do rock brasileiro. Escreveu letras que poderiam fazer parte de antologias. Com as músicas da Legião mostrou que Brasília era mais que a capital política do país. Ele foi uma espécie de líder do movimento que, nos anos 1980, levou a cidade a ser conhecida como capital do rock brasileiro".

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Fundador e vocalista da banda Raimundos, surgida nos anos 1990, Digão revela que o primeiro contato que teve com a música da Legião Urbana foi na adolescência.   "Ao ouvir um disco da Legião fiquei impressionado, em especial pelas letras. Via em Renato Russo uma das cabeças pensantes do país. Imagino que se ele ainda estivesse entre nós, atualmente, embora continuasse a compor, poderia ser um grande escritor".

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