ARTES CÊNICAS

Peça 'Os sobreviventes', inspirada em Caio Fernando Abreu, estreia em BH

Espetáculo inicia temporada no Teatro II do CCBB BH, nesta sexta (28/3), e segue em cartaz até 21 de abril

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Conto do escritor Caio Fernando Abreu (1948-1996), “Os sobreviventes” narra a história de dois amigos de longa data que, após viverem a descoberta de sua sexualidade, a opressão da ditadura e a frustração da redemocratização do Brasil, estão prestes a seguir novos caminhos. A partir da mente de Thomaz Cannizza, o texto se transforma no espetáculo homônimo que estreia nesta sexta (28/3), às 19h, no Teatro II do CCBB BH, na Praça da Liberdade.

A peça segue em cartaz até o dia 21 de abril. Sob a direção de Ana Regis, mistura humor, drama e deboche ao acompanhar os personagens interpretados por Luciana Veloso e Thomaz.

Com o desafio de adaptar um texto curto e dinâmico, o dramaturgo afirma que precisou abordá-lo sob diferentes perspectivas. Entre elas, notou que, em meio aos diálogos, a mulher desencadeia um discurso verborrágico que domina a narrativa, mas sempre descrito pelo homem, que parece ser alvo de seu incômodo.

Assim, Thomaz explora as visões que um tem do outro e, ao mesmo tempo que preserva falas originais do conto, também as transfere entre os amigos, evidenciando como as identidades da dupla se fundem.

“Tudo que a gente tem dos personagens é esse amontoado de memórias e quinquilharias da vida deles. Entre o que é de um e do outro, nesse momento de encruzilhada que aparentam estar, eles tentam fazer sentido de tudo”, afirma Thomaz Cannizza.

Para aprofundar as motivações e angústias dos personagens, o que antes se desenrolava em uma noite, agora se estende por sete dias. A partir da rotina, o público conhece os resquícios da vida a dois que os amigos compartilham e percebe as fissuras que a relação sofre com a iminência da partida do homem.

“É como se o espectador observasse o comportamento da dupla por um buraquinho de fechadura. Só que também há um efeito de bomba-relógio no espetáculo, com uma narrativa que, perto do final, parece que vai estourar”, comenta o ator e dramaturgo.

Cazuza e Angela Ro Ro

Na ambientação, a referência são os anos 1980, período em que o conto de Caio Fernando Abreu foi escrito. O linguajar dos diálogos é característico da época, assim como os figurinos, que destacam peças como a calça alta, as listras ou o maiô, e a trilha sonora, que inclui clássicos da MPB, como Angela Ro Ro e Cazuza.

O cenário, que representa bar, casa, escritório e praia, é definido por elementos simples, como um sofá ou uma mesa. Isso porque não há coxias nem blecautes durante a apresentação, e todas as mudanças de cenário e figurino acontecem diante do público.

A própria definição dos espaços se dissolve ao longo da trama, intensificada pelas discussões entre os personagens. “Se, no início, sabemos que aqui é a casa e ali é o escritório, no final, as cenas não têm fronteiras de quando começaram e terminaram. Tudo está misturado e caótico, o que tem a ver com o estado interno dos personagens”, explica a diretora Ana Regis.

O espetáculo “Os sobreviventes” começou a ser idealizado em 2018, quando o texto, que faz referência aos anos da ditadura militar, parecia refletir o cenário político do país. Após a pandemia, o projeto foi engavetado e estreia neste ano, em outro momento oportuno para as discussões.

“Toda obra de arte é um registro da sua época, mas algumas conseguem captar algo tão universal que transcendem e fazem cada vez mais sentido. Em 2018, surgiu um governo no Brasil que lembrou como os regimes opressores estão sempre à espreita. É aquela velha máxima da vigilância eterna. Agora, os Estados Unidos têm um governo que nos afeta de um jeito ou de outro. Então, dou graças que existem escritores como Caio, que deixaram livros que observam o nosso tempo como se tivessem sido escritos ontem”, conclui Thomaz Cannizza.


“OS SOBREVIVENTES”


Direção: Ana Regis. Com Luciana Veloso e Thomaz Cannizza. Espetáculo em cartaz até 21 de abril, com apresentações de sexta a segunda, às 19h, no Teatro II do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria da casa.


OUTROS ESPETÁCULOS

>>> 'Uiraçu'

A terceira temporada do espetáculo “Uiraçu”, da Cia Candongas, tem apresentações hoje e amanhã, às 20h, e no domingo, às 19h, na Funarte MG (Rua Januária, 68, Centro). A peça homenageia revolucionários do Brasil, que formam o Bando Uiraçu, e faz referência à Inconfidência Mineira. Além de espectador, o público se torna parte da narrativa, tomando decisões sobre o rumo da história por meio de um jogo. Entrada gratuita, com retirada de ingressos pela plataforma Sympla e troca na bilheteria com 30 minutos antes da sessão. O espectador também deve criar o próprio avatar do jogo no site da Cia Candongas.


>>> 'Banho de sol'

O espetáculo “Banho de sol”, da Zula Cia de Teatro, foi idealizado pelo questionamento da atriz e professora Talita Braga sobre a importância da arte na vida de mulheres em situação carcerária. A partir de atividades educativas realizadas em uma penitenciária feminina durante as horas do banho de sol, a companhia compartilha com o público áudios e produções das alunas, além de convidar os espectadores para participar dos mesmos jogos teatrais. As apresentações serão realizadas neste sábado (29/3) e domingo (30/3), às 19h, no Teatro Marília (Avenida Alfredo Balena, 586, Santa Efigênia). Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), à venda na plataforma Sympla e na bilheteria do teatro.

* Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco

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