O astro do cinema francês Gérard Depardieu defendeu nesta segunda-feira (24/3) sua inocência, ao chegar a um tribunal que o julga por supostas agressões sexuais contra duas mulheres, durante as filmagens de um longa-metragem em 2021, no primeiro caso que vai a julgamento.


Depardieu, de 76 anos, vestido de preto, entrou no Tribunal Correcional de Paris apoiado no ombro de seu advogado, Jéremie Assous. Em outubro passado, os problemas de saúde do réu forçaram o adiamento do julgamento.


"Este julgamento nos permitirá confrontar as acusações com a realidade, com as testemunhas e com as circunstâncias dos fatos. Desta forma, seremos capazes de demonstrar, sem sombra de dúvida, que todas as acusações são falsas", disse o advogado à imprensa, antes do julgamento.


Depardieu, que fez mais de 200 filmes e séries de televisão, é a figura de maior destaque a enfrentar acusações de violência sexual na resposta do cinema francês ao movimento #MeToo.


Dezenas de feministas, algumas vestindo coletes roxos, protestaram do lado de fora do tribunal, com faixas dizendo: "Acreditamos em vocês" e "Não à cultura do estupro".


Punição

"É também o julgamento de uma sociedade cega à violência contra as mulheres. Não há dúvidas sobre o que ele fez", disse a atriz Anouk Grinberg, pedindo que a Justiça o "puna" porque "a impunidade é insuportável".


Os fatos em julgamento ocorreram durante as filmagens de "Les volets verts", do diretor Jean Becker. Uma cenógrafa de 54 anos e uma assistente de direção de 34 o acusam de agressão, assédio e insultos sexistas.


A primeira mulher, chamada Amélie, afirmou que, durante as filmagens, em setembro de 2021, em uma mansão em Paris, o ator gritou que queria um "ventilador" porque não conseguia mais "ter uma ereção" devido ao calor.


Ele então afirmou que podia "fazer as mulheres chegarem ao orgasmo sem tocá-las" e, uma hora depois, ele a agarrou "brutalmente" e apalpou sua cintura, barriga e seios, enquanto fazia "comentários obscenos", segundo seu relato.


Sarah (pseudônimo) foi a assistente de direção do filme e também denunciou o ator por tocar duas vezes em seus "seios e nádegas", em agosto de 2021. Anouk Grinberg, uma das atrizes do filme, disse que o ator usava "palavras obscenas".


Depardieu pode ser condenado a até cinco anos de prisão e ao pagamento de multa de 75 mil euros (R$ 464 mil).


O julgamento estava marcado para outubro, mas o réu não compareceu, alegando sequelas de uma cirurgia cardíaca e diabetes, agravadas pelo estresse do julgamento que se aproximava.


Segundo seu advogado, o julgamento deve ser organizado de forma que as sessões não excedam seis horas e que os intervalos sejam feitos "quando Gérard Depardieu precisar".


Carine Durrieu-Diebolt, advogada de uma das denunciantes, afirmou que o perito garantiu que o réu estava com "boa, até mesmo muito boa saúde, em termos de problemas cardíacos e diabetes".

Vinte mulheres acusaram Depardieu de comportamento semelhante, mas a maioria das queixas foi rejeitada devido ao prazo de prescrição.


A atriz francesa Charlotte Arnould foi a primeira a registrar uma queixa. Em agosto passado, o Ministério Público de Paris solicitou que o ator fosse julgado por estupro e agressão sexual.


"Eu nunca, jamais abusei de uma mulher", disse o ator, em carta aberta publicada pelo jornal “Le Figaro”, em outubro de 2023.

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