"Mata teu pai, ópera balada" estreia temporada no CCBB-BH
Espetáculo que é o desdobramento de uma montagem encenada em 2017, inspirada na tragédia grega "Medeia", ficará em cartaz desta sexta (11/4) até 5 de maio
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Siga noEm meados da década passada, a atriz Débora Lamm e a diretora Inez Viana procuraram Grace Passô para que ela fizesse uma releitura do mito de Medeia. Encomenda aceita, a atriz, dramaturga e diretora mineira escreveu uma ficção que tem como ponto de partida a versão de Eurípides e que resultou no espetáculo “Mata teu pai”, que estreou em 2017.
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Agora, o desdobramento daquela peça, intitulado “Mata teu pai, ópera balada”, chega a Belo Horizonte para cumprir temporada no CCBB a partir desta sexta-feira (11/4).
Grace Passô destaca que o texto é uma reescritura do mito à luz da atualidade. Essa nova montagem, que estreou em 2022, em São Paulo, mas hibernou ao longo dos últimos anos, é fruto do impacto que a história teve sobre Inez.
Ela conta que, quando leu o texto pela primeira vez, em 2016, já pensou em fazer uma trilogia – uma versão falada, outra como ópera e a terceira como espetáculo de dança. “Na minha opinião, esse texto é revolucionário, porque ele radicaliza a condição da mulher”, diz a diretora.
Nessa montagem que chega agora a BH, a música assume papel central, transformando a obra em uma ópera balada – gênero do século 18 que combina melodias populares com diálogos. Dessa forma, parte do texto de Grace Passô tornou-se um libreto musicado por Vidal Assis, com 11 movimentos executados ao vivo pelo musicista Felipe Gali e pelas atrizes e cantoras que compõem o elenco, com Marina Mathey no papel de Medeia.
Imigrante e excluída
A protagonista divide o palco com Eme Barbassa, Jade Maria Zimbra, Lux Nègre e Warley Noua. Na adaptação de Grace Passô para a tragédia grega, Medeia peregrina entre os escombros de uma cidade e sente na pele a condição de imigrante e excluída. Seu caminho é atravessado por outras mulheres expatriadas de diferentes culturas – uma síria, uma cubana, uma judia e uma haitiana – gerando uma forte cumplicidade entre elas.
Esse grupo questiona a sociedade, sua violência e intolerância institucionalizadas. A montagem inclui também uma personagem paulista, representando o conservadorismo e o capitalismo, interpretada por um coro. Um elemento distintivo em “Mata teu pai, ópera balada” é a ausência de representação física das filhas de Medeia: é o público que assume esse papel.
“Grace faz uma subversão do mito. Medeia não enxerga Glauce, filha de Creonte, como uma oponente, mas como uma mulher tão oprimida quanto ela própria, por exemplo”, pontua Inez. Ela ressalta que a obra amplia as reflexões sobre o feminino e o sentimento de pertencimento.
“Causas como preconceito, discriminação racial e de gênero, xenofobia e sexismo passaram a pautar o cotidiano e, na peça, Medeia vivencia tudo isso, além da transfobia. Precisamos olhar para o passado para analisar comportamentos sob uma nova ótica e provocar mudanças efetivas na sociedade. O pai que nessa releitura da tragédia é preciso matar é o patriarcado”, diz.
Texto feminista
Ela não hesita em afirmar que se trata do texto mais feminista da dramaturgia brasileira e que considera Grace Passô a maior dramaturga em atividade no país. “Tenho convicção de que é uma voz que precisa ser ouvida. Esse texto, com o qual ela faz uma convocação explícita e radical, pode ser feito de diversas formas, inclusive com uma pessoa dançando as palavras”, diz. Ela ressalta que “Ópera balada” é uma nova montagem, diferente da de 2017, mas o texto é rigorosamente o mesmo.
“Ele está na íntegra, como foi escrito. O que a gente acrescenta são as músicas compostas pelo Vidal Assis a partir do texto, fazendo a história andar, por isso 'ópera balada'. Marina é quem faz Medeia agora, com suas quatro vizinhas refugiadas, outra questão atual que a escrita de Grace traz. Com as melodias e as letras que criou associadas ao texto, Vidal avança com a história. A música intercala os 11 movimentos em que a montagem está dividida”, ressalta.
A dramaturga se diz feliz com o fato de que o texto tenha reverberado tanto na diretora. “Esse desdobramento de 'Mata teu pai' vem da experiência cênica que Inez e esse grupo de artistas estão propondo. Elas resolveram revisitar, como acontece de forma recorrente no nosso tempo, com isso de se partir de textos diversos, de Luiz Abreu, Shakespeare ou Machado de Assis, para construir novas relações com eles”, destaca Grace.
“MATA TEU PAI, ÓPERA BALADA”
O espetáculo estreia nesta sexta-feira (11/4) e fica em cartaz até o dia 5 de maio, com sessões de sexta a segunda, sempre às 20h30, no Teatro 1 do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda pelo site e na bilheteria do CCBB-BH