Concerto com a Filarmônica foi o grande orgulho de Lô Borges
Músico comemorou seus 50 anos de carreira na Sala Minas Gerais, em concerto que trouxe a releitura de sua obra com arranjos magistrais de Neto Bellotto
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Lô Borges estava muito melhor aos 70 anos do que aos 60. O ano de 2022 foi grande para ele, em vários sentidos. Celebrou 50 de carreira – do lançamento do álbum “Clube da esquina”, com Milton Nascimento, e da estreia solo com “Lô Borges”, o “Disco do Tênis”. Também lançou o disco de inéditas “Chama viva”, com letras de Patrícia Maês e participações de Milton Nascimento (em “Veleiro”), Beto Guedes (“Primeira lição”) e Paulinho Moska (“Fica no ar”).
Com a mesma cara de menino grande e sem os mullets que o acompanharam em boa parte da carreira, riu muito em encontro com a repórter, em junho de 2022, quando o assunto do cabelo surgiu. A conversa ocorreu numa barbearia/cafeteria da Savassi. Disse que muitos amigos cismaram que ele pintava os cabelos. Pura inveja do setentão de cabelos fartos e nada de fios brancos.
Orgulho
Mas nada lhe deu mais orgulho naquele ano do que o projeto com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. “Desde o chamado do Bituca para gravar o ‘Clube da esquina’, esse é o convite que mais me emocionou. Nunca toquei com tantos músicos, os arranjos são maduros e com profundo conhecimento da minha obra. O Neto entende mais da minha música do que eu”, afirmou Lô ao Estado de Minas na época.
Ele se referia ao concerto que a Filarmônica apresentou em dezembro de 2022, encerrando o ano na Sala Minas Gerais. Pela primeira vez, a orquestra fez uma apresentação com repertório exclusivamente popular, formada por 16 canções compostas por Lô e seus parceiros. O projeto foi capitaneado por Neto Bellotto, contrabaixista da orquestra.
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Chefe de naipe da Filarmônica e fundador do grupo de cordas DoContra, Bellotto fez direção musical, arranjos e orquestração. Apaixonado pela obra de Lô desde a adolescência, ele passou boa parte de 2022 debruçado no projeto.
“O Lô vinha na minha casa, pegava o violão e me ensinava a tocar todas as músicas. Tenho um arquivo enorme dele, da mão esquerda mostrando os acordes, os segredos da música dele”, detalhou Bellotto.
Orquestra acompanhando artista popular é algo relativamente corriqueiro, no Brasil e fora daqui. Um ponto crucial para que o projeto fosse relevante seria justamente essa equação. Seria um concerto de Lô, sua banda e a Filarmônica – não apenas mero acompanhamento.
Isso ficou claro para o público na estreia – os ingressos para as duas apresentações em BH esgotaram com um mês de antecedência. Regido pelo maestro associado José Soares, o concerto abriu com “Um girassol da cor do seu cabelo”, canção seminal de Lô, com letra do irmão Márcio Borges, e um dos maiores clássicos do álbum “Clube da esquina”.
Noites inesquecíveis
A introdução feita por Bellotto calou fundo no público da Sala Minas Gerais. Lô, camiseta, calça jeans e tênis, seu uniforme desde sempre, estava seguro, sentado, ao violão, ao lado de todos os naipes da orquestra. Foram duas noites tremendas, em emoção e musicalidade, que deram uma prova da riqueza da obra do compositor e da versatilidade da Filarmônica.
Está tudo disponível, áudio e vídeo, na internet. Lançado em 2023 pela Deck, “50 anos de música – Ao vivo na Sala Minas Gerais” desfia um repertório de sucessos – como “Para Lennon e McCartney” e “O trem azul” –, mas também lança luzes sobre outro lado da obra de Lô. Receberam arranjos orquestrais “O caçador” (com letra de Márcio Borges, do cultuado “Disco do Tênis”), “Dínamo” (com Makely Ka) e “Veleiro” (com Patrícia Maês), as duas últimas da fase mais recente da carreira de Lô.
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Os encontros com a Filarmônica não se repetiram, mas Lô e DoContra levaram o mesmo repertório para outras plagas. Em 2023, por exemplo, foram à capital paulista e se apresentaram na Sala São Paulo e no Memorial da América Latina com a Orquestra Brasil Jazz Sinfônica.
O vínculo com a orquestra mineira não se desfez. Na noite de 11 de abril de 2024, quando o maestro Fabio Mechetti fez na Sala Minas Gerais o discurso “Uma sede não se cede”, ato em defesa da Filarmônica, então em risco de desmonte, Lô era um dos músicos na plateia do concerto. “Não poderia faltar”, disse ele.