O ator, performer e professor universitário Marcos Alexandre pesquisa o teatro negro no Brasil e no mundo -  (crédito: Matheus Soriedem/divulgação)

O ator, performer e professor universitário Marcos Alexandre pesquisa o teatro negro no Brasil e no mundo

crédito: Matheus Soriedem/divulgação

 

 

Professor titular da graduação e da pós-graduação do curso de letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também ministra disciplinas para as turmas de teatro, Marcos Alexandre reuniu as experiências vividas no campo das artes cênicas no livro “Da performance à crítica teatral”, cujo lançamento será nesta quarta-feira (13/11), na livraria Quixote.

 

Além do autor, participam do encontro Assis Benevenuto, da editora Javali, que chancela a obra, e a pesquisadora Sara Rojo, da UFMG, responsável pelo prefácio.

 

 


Marcos Alexandre escreve críticas para o site Horizonte da Cena e integra a Associação Internacional de Críticos de Teatro, além de ter formação como ator, ser cofundador do grupo Mayombe e colaborar regularmente com a organização de ações ligadas às artes cênicas. Uma delas foi o 5º Encontro Internacional de Performance, realizado em Belo Horizonte em 2005. O evento teve outras duas edições no Brasil: em 2000, no Rio de Janeiro, e em 2010, em São Paulo.

 

 

“Participei de todos os encontros e, em 2005, integrei a equipe organizadora. Costumo dizer que eles me formaram para além da cena, porque pude ter contato com pesquisadores de outros países com propostas espetaculares. Neste livro, reúno minha experiência nesses encontros, para poder tratar da minha relação com a performance, porque, como ator, já realizei algumas. Coloco-me ali como um observador da cena performativa”, diz Alexandre.

 


A segunda parte da publicação traz todas as críticas que ele escreveu para o Horizonte da Cena, desde 2015. De acordo com Alexandre, esse trabalho é concomitante ao cargo que ocupa na UFMG. O processo de seleção para a cadeira de professor titular, realizado em 2020, foi o estopim para a feitura do livro.

 


“Submetido à avaliação de uma banca, tive de organizar um memorial. Fiquei refletindo sobre minha trajetória como crítico e minha atuação como ator e performer, o que remonta a 1999, quando entrei na universidade. Meu mestrado e doutorado, ambos sob orientação de Sara Rojo, foram realizados a partir da experiência de observar a cena. Me dei conta de que tinha imenso material, digno de discussões críticas e teóricas”, comenta Alexandre.

 

Pandemia criativa

 

O período em que o processo seletivo foi realizado, durante a pandemia, deu-lhe tempo para se debruçar sobre os escritos e sua produção intelectual. Com relação às críticas, ele diz que não fez uma seleção, optando por incluir tudo o que havia publicado.

 


“Não quis fazer seleção. Queria que fosse um produto com a ideia de memorial mesmo, com tudo o que escrevi, especialmente textos voltados para as questões que chamo de poéticas pretas, o que tem a ver com minha pesquisa de mais fôlego”, diz.

 


Também há críticas de espetáculos que tratam de outros temas, como teatros para as infâncias e as montagens em torno das questões LGBTQIA+. “Quis que o leitor tivesse o panorama do que foi e é minha trajetória”, ressalta.

 

 


O livro é “obra inacabada”, afirma Marcos Alexandre, explicando que o exercício da crítica é algo que vai praticar sempre. Aliás, ele está retomando a colaboração com o Horizonte da Cena após o hiato de cinco meses, por conta da viagem que fez a Madri, na Espanha, para o novo pós-doutorado. “Dentro da linha de pesquisa principal que desenvolvo, fui ver se existe uma cena preta por lá”, diz.

 


Até ontem, ele estava no Recife (PE), às voltas com o terceiro pós-doutorado. Alexandre destaca que, nessas pesquisas acadêmicas, adota a estratégia de sempre eleger dois lugares como campo de estudo e investigação. Na primeira vez, foi para Salvador e Cuba. Na segunda, para Rio de Janeiro e Nova York.
“Pensando nos teatros negros, a gente sabe muito do que acontece em Belo Horizonte, Salvador, Rio e São Paulo, mas tem em todos os lugares, mesmo em Madri”, pontua.

 


O interesse pela crítica vai além da mera avaliação ou análise do que vê, na medida em que se trata de um lugar de subjetividade. “Me interessa a crítica que exija que eu me movimente, que mantenha em mim, como sujeito pensante, o frescor da busca por uma conversa dialética com o meu tempo”, destaca.

 

Preconceitos



Este exercício se impõe sobretudo quando o coloca diante de pautas relacionadas a preconceitos de gênero, de etnia e de violências discriminatórias em geral.

 


Coordenador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade (Neia) da Faculdade de Letras da UFMG e líder do grupo de pesquisa Literafro – Portal da Literatura Afro-brasileira, Marcos Alexandre diz que se essas pautas parecem mais presentes na atual cena teatral brasileira, é porque sempre estiveram latentes.

 


“Elas sempre estiveram aí desde Abdias do Nascimento, no caso do teatro negro, e hoje há uma efervescência de produções que trabalham a partir dessas perspectivas”, conclui.



“DA PERFORMANCE À CRÍTICA TEATRAL”


• De Marcos Alexandre
• Editora Javali
• 420 páginas
•. R$ 79
• Lançamento nesta quarta-feira (13/11), das 18h30 às 20h30, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi). Entrada franca.