No pior momento da história do Bolão Santa Tereza, Karla Rocha, da terceira geração do tradicional bar e restaurante de Belo Horizonte, conheceu a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG). Mal sabia ela que marcaria a história da associação como a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente. Na primeira semana, Karla fundou um núcleo de trabalho no Aglomerado da Serra e já direciona esforços para fomentar a responsabilidade social no setor. Palavras como construção, diálogo e união vão guiar seu mandato de três anos, que está só começando.

Como têm sido os seus últimos dias?
Estou vivendo um turbilhão, mas, com tudo planejado, dá para fazer mil e uma coisas.

Você sempre se enxergou empreendedora?
Não. Realmente, isso aconteceu na minha família, aí você pega amor pelo que faz. Comecei com 14 anos no Bolão, mas me formei em ciência da computação e fiquei um tempo em São Paulo. Em 2008, voltei definitivamente. Tinha uma meta de vida, queria ser mãe com 30 anos, então juntei o útil ao agradável. Temos uma história bonita em família, de resiliência e força, e temos por obrigação e honra dar continuidade a esse legado.

Como você se envolveu com a Abrasel?
Por conta de todo o problema da pandemia. Em 59 anos, o restaurante nunca tinha ficado de portas fechadas, então tive medo por todo mundo, pela nossa família e pelos colaboradores. Estava num desespero grande. A gente só chorava, foi o momento mais difícil da nossa história. Lembro que só escutava o nome da Abrasel e falei com a minha prima: estou achando que a Abrasel vai nos salvar. Aí nos associamos em maio de 2020. Quando entrei, ajudei muito o grupo e aprendi também. Fui convidada para ser conselheira do Matheus (Daniel, ex-presidente) e, há 1 ano, ele me convidou para assumir a presidência.

Por que a associação nunca tinha tido uma mulher no comando?
Não sei responder. Penso que o setor é muito masculino e, para você quebrar isso, tem que se impor mais. Acho que agora estamos vivendo uma mudança de paradigma. A mulher está aparecendo mais e o empreendedorismo feminino está mais aguçado.

Você enfrentou alguma dificuldade por ser mulher?
Não, mas sempre me impus, falo com firmeza, meu perfil é esse. Nunca sofri nenhum tipo de constrangimento e nunca me intimidei por isso, mas a gente tem que ter argumentos.

Sendo mulher, como você espera contribuir para o setor?
Falo que os homens são muito bons, mas brigam mais. Mulher tenta construir mais, conversar mais, tem outra forma de lidar com o problema. Traz um olhar mais feminino, mais cuidadoso, uma forma mais carinhosa de tratar o assunto, o que não significa fraqueza. Muito pelo contrário, significa construção.



Você é uma pessoa muito comunicativa. Acho que isso vai ajudar?
Vai ajudar, sim, porque precisamos construir pontes com todo mundo. A Abrasel é uma associação extremamente política, mas somos apartidários, não interessa quem está no poder. Conversamos com todo mundo, porque precisamos construir, precisamos que todos entendam a nossa causa. Já é tão difícil empreender no país, então precisamos simplificar. Essa é a nossa missão. Aquela história de que juntos somos mais fortes é a mais pura verdade. Não existe concorrência, existe aprendizado. O que não é bom para você pode ser bom para outro. Isso é encantador e sou prova viva de que dá certo. Foi o associativismo que nos ajudou.

Seu conselho tem cinco mulheres. Você pensou nisso na hora da escolha?
Um dos meus maiores desafios foi montar o conselho. Queria para a minha gestão um conselho participativo, então precisava procurar pessoas participativas. Ali estão pessoas que realmente participavam das reuniões e estavam comigo no dia a dia. A minha meta era ter um conselho participativo e com mais mulheres. Não foi fácil, mas atingi meu objetivo e estou bem satisfeita.

Qual foi a sua primeira ação como presidente da Abrase-MG?
Fundamos o primeiro núcleo da Abrasel-MG do Aglomerado da Serra, com 34 associados. Uma das minhas metas é a inclusão e isso vai ser um modelo para outros aglomerados. Temos uma parceria com a prefeitura e estamos fazendo um projeto da topografia da Praça do Cardoso para regularizar os negócios que funcionam ali. Eles chamam de trailer.

O que você leva da experiência com o Bolão?
Ser resiliente, porque o tempo faz a gente ser resiliente, e persistente. Quando você faz com amor e vontade, mesmo na dificuldade, não desiste. Gostar faz você atravessar qualquer problema.

Quais são os desafios do setor em Minas?
A gente quer fomentar a responsabilidade social do setor. Somos uma indústria que movimenta a economia e gera muitos negócios, então podemos promover mudanças para o bem da sociedade. A ideia é fazer algo dentro desse nicho, como o Lacre do Bem. A maior parte do setor trabalha com latas de refrigerante e cerveja e o lacre pode virar uma ação social incrível. É algo que está na nossa mão.

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