Os botecos estão para os mineiros como os izakayas estão para os japoneses. Diferentemente do sushi bar (restaurante de sushi), os izakayas são os estabelecimentos mais em conta no Japão, que vendem e servem bebidas alcoólicas. O lugar ideal para o famoso happy hour depois do trabalho e ponto de encontro para os amigos. Bastante popular do outro lado do mundo, o termo, que, em tradução aproximada, significa “lugar para beber saquê”, se difundiu, chegando também à capital mineira.

Localizado na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, o Fugu Izakaya é uma releitura dos izakayas que ficam no Japão. “Dentro do nosso espaço, buscamos ao máximo e em todos os detalhes proporcionar aos nossos clientes uma experiência bem fiel a de um izakaya japonês”, conta o chef de cozinha do Fugu, Victor Naddeo.

Antigamente, os izakayas funcionavam apenas para a retirada da bebida alcoólica (como as distribuidoras que conhecemos), mas, com o passar do tempo, os japoneses viram ali uma oportunidade de manter o cliente no local e aumentar as vendas. No entanto, não alteraram a estrutura. Logo, os izakayas são conhecidos pela pequenez, e esse detalhe o Fugu fez questão de caracterizar em Belo Horizonte.

Com espaço para 17 pessoas, sendo dez no balcão e sete em mesas espalhadas pelo salão, o restaurante tem uma proposta mais intimista. “Brinco que a nossa cozinha aberta é a mais aberta de BH. A pessoa se senta e quase encosta no cozinheiro. É ali onde tudo acontece, há uma troca bem rica.”

O chef ainda explica o quanto é legal a cultura do balcão. Para quem prepara os pratos, é uma oportunidade de explicar alguns detalhes culturais do Japão e tirar dúvidas. Para quem está do outro lado, há uma interação, devido à proximidade com que se sentam. “Já aconteceu uma série de vezes. Quando está chegando o fim do dia e a hora de fechar, casais que fazem amizade no balcão. Nem se conheciam quando se sentaram, por fim trocam contatos para marcar de vir outras vezes.”

Do balcão do Fugu, dá para acompanhar, bem de perto, a produção dos pratos e interagir com os cozinheiros, que explicam detalhes da comida e da cultura do Japão

Sofia Vasconcelos/Divulgação

Fundado por uma neta de imigrantes japoneses, em 2022, o Fugu foi comprado por Henrique Cunha, o atual proprietário e quem contratou Victor Naddeo para ficar à frente do preparo dos pratos. A experiência em comida japonesa e o amor por izakayas levou o chef a reformular o cardápio e a proposta de experiência para os clientes.

Pratos quentes

O restaurante serve pratos quentes tradicionais do oriente, uma carta de saquês (principal bebida dos izakayas) e cervejas japonesas. “No início, a gente tinha uma recorrência muito grande de pessoas perguntando por que não tínhamos sushi. Hoje, como a cultura dos izakayas está se difundindo em todo o país, as pessoas já entendem a proposta e temos fila de espera diariamente”, conta Victor.

Entre os pratos mais vendidos da casa, está o “Fugu Lamen”, feito com massa fresca artesanal, submersa em um caldo tori preparado por 36 horas de cozimento lento com galinha caipira. Finalizado com dashi, glacê de porco e shoyu de fermentação natural, é servido com ovo marinado, copa lombo (marinado por 48 horas e depois assado lentamente) e acelga japonesa.

Grelhado na churrasqueira japonesa, o polvo ganha sabor em um espetinho com conserva de cebolinha japonesa e o tempero togarashi

Fugu Izakaya/Divulgação

Outra proposta do bar japonês são os espetinhos, como o “Tako Yakitori”, de polvo grelhado na churrasqueira japonesa, com rakkyo (conserva de cebolinha japonesa) e togarashi (tempero japonês à base de pimentas, cascas de cítricos, algas e gergelim).

Chama a atenção um prato típico do verão japonês, ainda muito pouco conhecido no Brasil. De nome “Hiyayakko”, consiste em um cubo de tofu não prensado coberto com shoyu de fermentação natural, cebolinha fresca, gengibre ralado, gergelim, katsuobushi e óleo de gergelim apimentado. É uma sugestão de entrada para dias quentes, já que chega à mesa gelado.

Prato típico do verão japonês, ainda pouco conhecido no Brasil, o Hiyayakko é um cubo de tofu não prensado e gelado coberto com vários temperos

Fugu Izakaya/Divulgação

Gosto de Minas
Do encontro do belo-horizontino Caio Oliveira com a paulista de descendência japonesa Ana Uemura (Karu), surgiu o Yokai Izakaya, fundado há poucas semanas na Rua Ceará, Região da Savassi. Com vasta experiência em gastronomia oriental, o casal percebeu uma carência de espaços japoneses na capital mineira, então resolveu abrir um izakaya mais autêntico. O nome Yokai faz referência aos folclores japoneses e criaturas místicas.

“Temos uma proposta de não fugir tanto do que os mineiros estão acostumados. Como os izakayas são botecos japonês, achamos justo trazer para BH, que é a capital dos botecos”, diz Caio. Ele explica que o cardápio tem opções como de um boteco: comida mais temperada e tira-gostos para acompanhar as bebidas.

Com a ideia de reproduzir no izakaya pratos japoneses com gostinho de Minas Gerais, o Yokai serve pratos como o “Nikudango”, bolinhas de carne moída de porco fritas com molho doce e picante chunou. Uma opção famosa entre os mineiros, que também é servida por lá, é a porção de frango frito (sobrecoxa marinada e frita) com maionese, picles de cebola roxa e repolho. Destaque também para o “Hatsu Okura”, coraçãozinho de galinha, sambiquira e quiabo, tudo envolto em uma base japonesa e feito no calor da wok.

Com a ideia de reproduzir pratos japoneses com gostinho de Minas Gerais, o Yokai aposta nas almôndegas de porco glaceadas com molho chunou e gergelim branco

Yokai Izakaya/Divulgação

Quem quer ser surpreendido pode escolher o “Tso Flower”, tempura de couve-flor com molho cítrico e levemente picante de laranja, e o “Pajeon”, panqueca estilo coreana de cogumelos com cebolinha, alho-poró, molho chunou, maionese e algo nori em pó.

Quem quer ser surpreendido não pode deixar de pedir no Yokai o tempurá de couve-flor com molho cítrico e levemente picante de laranja

Yokai Izakaya/Divulgação

Carta de saquês
O Yokai também conta com uma carta de drinques autorais que carregam nomes dos folclores japoneses (os yokais). O “Kitsune” leva gim, xarope de mexerica com orégano, limão, água com gás e bitter angostura, enquanto o “Suika” tem cachaça, saquê, xarope de melancia com hortelã e ginger ale.

Entre as opções de saquês, há o “Hakutsuru draft”, do tipo nama, que passa por apenas uma pasteurização e é envelhecido por um mês após a fermentação, e o “Hakutsuru sayuri”, descrito como saquê do tipo nigori, parcialmente filtrado, cremoso, com aroma refrescante e doçura natural.

Com apenas quatro semanas da inauguração, a casa já recebeu todos os tipos de clientes. “Temos um público que já frequentou izakayas em São Paulo e pessoas que estão passando na porta, veem o movimento e entram para conhecer. Então, aqui se misturam clientes já habituados e outros que nunca ouviram falar em izakaya.”

Com uma proposta aconchegante, a casa tem o tradicional balcão central dos izakayas, que aproxima os clientes dos cozinheiros, e também a opção de mesas espalhadas pelo salão, disponíveis para casais e para grupos de até seis pessoas.

Nem tão distante

Seguindo o mesmo foco da “fusão” entre as comidas popular oriental e mineira, também na Savassi, está o Canja Izakaya. “O sushi é uma comida muito distante para o mineiro, é muito frio, cru. Não é um prato muito tradicional para a cultura de Minas Gerais. Tanto que há mineiros que comem e outros que não comem. Muito diferente do pão de queijo”, aponta um dos sócios, Fábio Luppi Queiroz.

Partindo dessa ideia, e vendo a euforia da cultura asiática influenciando a cultura pop e a gastronomia, Fábio e o sócio, Marcelo Arpaia Valadares, resolveram abrir o Canja Izakaya, há cinco anos, com o objetivo de proporcionar aos belo-horizontinos uma comida oriental que não é tão distante do tradicional paladar dos mineiros. “A gente já teve de tudo aqui. Tem gente que adora, tem gente que virou freguês no dia em que estava doente, gente que conheceu pela canja e gente que conheceu pelo yakissoba”, detalha.

Ao longo dos anos, na capital dos botecos, o Canja busca renovar o cardápio e acrescentar opções que fazem o estilo do paladar do brasileiro. Sem tirar a canja, também de origem oriental, que, para Fábio, é o prato que acolhe e conforta, “como aquela comida feita pela avó”. Uma das versões mais asiática, digamos, é o famoso “Lámen Naruto”, com caldo de missô, nabo, ovo marinado, pernil confitado lentamente e naruto (processado de peixe).

No cardápio, você ainda encontra “Rolinho Vietnamita”, com salada e molho agridoce dentro do papel de arroz; “Karaage de almoço”, uma cumbuca com arroz, frango frito e saladinha); “Katsu Sando”, sanduíche de porco empanado, e “Tamagoyaki com cogumelos”, conhecido como omelete japonês. Enrolando como um rocambole, tem várias camadas de ovo firme por fora e macio por dentro.

Por entender que sushi é uma comida distante para muitos mineiros, o Canja aposta em pratos quentes, como a cumbuca com arroz, frango frito e salada

Gustavo Souza Dutra/Divulgação

Com dois andares e mesas na calçada, o restaurante tem capacidade para receber até 50 pessoas.

Era o que faltava

Em outro ponto da cidade, no Bairro Belvedere, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, fica o Taika Izakaya, com a proposta de ser um bar japonês e asiático, servindo uma variedade de pequenos pratos para acompanhar as bebidas alcoólicas.

Intitulado como o primeiro izakaya de Belo Horizonte, o bar foi fundado há oito anos por Pedro Noda e Gabriel Rache. “O nosso espaço é super agradável. Fica na Praça da Lagoa Seca, tem uma varanda ampla e recebe um público jovem e familiar”, diz Gabriel.

Os sócios fizeram uma pesquisa de mercado e perceberam que, mesmo com a variedade de opções de sushi bar, ainda faltava um izakaya na capital dos botecos. “Belo Horizonte é umas das principais referências gastronômicas do Brasil e Minas tem a culinária regional mais rica do país. Faltava em BH uma referência em culinária quente oriental, onde um japonês nativo comeria feliz”.

Com a missão de trabalhar com produtos e técnicas das principais casas mundo afora, o Taika foi pioneiro na utilização de alguns produtos e, principalmente, na forma de servir o niguiri com peixes além de atum e salmão. “Com o tempo, fomos explicando nossa proposta para o público, tirando as dúvidas dos nossos clientes e apresentando novos sabores e opções. Formamos uma clientela fiel e hoje somos referência, não só em Belo Horizonte, mas em todo o Brasil”, aponta.

No Taika, você pode comer sanduíche de brioche com atum empanado, maionese japonesa e picles de maçã verde

Victor Schwaner/Divulgação

Para a preparação dos pratos, Gabriel explica que são utilizados os melhores insumos do mercado brasileiro. “O nosso atum, por exemplo, é o mesmo usado na casa mais conceituada de São Paulo.”
Entre as entradas frias, salada de brotos com tangerina, tempero tailandês, amendoim e pimenta dedo-de-moça; sashimi de atum com molho de missô; tartare de atum com abacate e carpaccio de salmão trufado. Sem falar nas várias opções de temakis, outros sashimis, sushis, rolls e combinados.

Na parte das entradas quentes, destacam-se o “Pork Bao”, sanduíche do pão bao chinês com costela de porco confitada e sunomono de maçã; tempurá de shissô com cubos de barriga de salmão, tempurá de legumes (berinjela, cenoura, brócolis, batata-doce e cebola) e gyoza de lombo.

Com vista para a Praça da Lagoa Seca, o Taika Izakaya ainda convida o cliente a experimentar a carta de drinques autorais e vasta variedade de saquês.
A casa funciona de terça a domingo. Às quartas, tem DJ e degustação dos drinques da casa.

 

Tamagoyaki, o “omelete” japonês (Canja Izakaya)

Foto da receita: Tamagoyaki com cogumelos, muito conhecido como "Omelete japonês"

Gustavo Souza Dutra/Divulgação


Ingredientes
4 ovos; 2 colheres de sopa de açúcar; 2 colheres de sopa de mirin (vinho de arroz doce); 2 colheres de chá de shoyu (molho de soja); ¼ colher de chá de sal; óleo vegetal para untar a frigideira


Modo de fazer
Em uma tigela média, bata os ovos até ficarem bem misturados. Adicione o açúcar, mirin, shoyu e sal aos ovos batidos. Misture bem até que o açúcar e o sal estejam completamente dissolvidos. Aqueça uma frigideira retangular pequena ou uma frigideira especial de tamagoyaki em fogo médio. Pincele ou unte levemente a frigideira com óleo vegetal. Despeje uma pequena porção da mistura de ovos na frigideira, apenas o suficiente para cobrir o fundo em uma camada fina. Quando a parte inferior da omelete estiver cozida, mas o topo ainda estiver um pouco líquido, comece a enrolar a omelete da extremidade mais próxima de você para o lado oposto da frigideira, usando uma espátula ou hashi. Deslize a omelete enrolada para a extremidade da frigideira. Unte novamente a frigideira com óleo e despeje outra porção da mistura de ovos para cobrir o fundo. Levante levemente a omelete enrolada para permitir que a nova mistura de ovos escorra por baixo dela. Quando a nova camada de omelete estiver meio cozida, enrole novamente a omelete para formar uma segunda camada. Repita o processo até que toda a mistura de ovos tenha sido usada e você tenha uma omelete de várias camadas. Remova a omelete da frigideira e deixe esfriar um pouco antes de cortá-la em fatias. Sirva o tamagoyaki quente ou frio, como parte de uma refeição ou como um lanche saboroso.


Serviço
Fugu Izakaya ( @fugu.izakaya )
Rua Fernandes Tourinho, 292, Funcionários

Yokai Izakaya ( @yokaiizakayabh )
Rua Ceará, 1599, Funcionários

Canja Izakaya ( @canjaizakaya )
Avenida Getúlio Vargas, 1620 – loja 4, Savassi
(31) 3244-2392

Taika Izakaya ( @taikaizakaya )
Rua Juvenal de Melo Senra, 383, Belvedere
(31) 99885-1178


*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino

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