Ao final da visita de três dias do presidente francês Emmanuel Macron ao Brasil nessa quinta-feira (28/3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) presenteou o líder europeu com seis queijos, sendo quatro produzidos em Minas Gerais, um no Pará e outro em São Paulo; além de um espumante gaúcho.

 

O ato de presentear um líder estrangeiro, principalmente um francês, país em que a produção queijeira é tradicional e farta há muitos anos, foi visto por especialistas da área como um gesto de reconhecimento ao trabalho que os produtores fazem no Brasil e principalmente em Minas.

 



 

"Primeiro destacar, independente de direcionamento político, a grandiosidade deste ato aí e como isso repercutiu positivamente, e vai repercutir ainda mais na história dos produtores de queijo artesanal. (...) Isso tem uma representatividade sem tamanho. Pensar que há 10 anos, quando eu comecei a dar assistência técnica especificamente para produtores de queijo artesanal, as pessoas não conheciam os nossos queijos, preferiam fazer compras por queijos de outros países, até mesmo os franceses", celebrou a especialista em queijos, Renata de Paoli.

 

Os quatro queijos artesanais mineiros que foram entregues pelo petista são o Serjão Canastra, de Piumhi; Goa Moderado, de Aiuruoca; Maranata Bronze, de Virgínia; e Lua Cheia, de Bueno Brandão.

 

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Todos eles são premiados em concursos realizados no Brasil e no exterior, alguns com premiações até no país de Macron, como o caso do Serjão Canastra, que recebeu a premiação máxima (Medalha Super Gold), na categoria maturação de 100 dias, no Mondial du Fromage (Mundial do Queijo) de 2021, em Tours, na Região Central da França.

 

"Isso expressa na cultura mineira a importância deles para o Estado. É mostrar que a gente está na vanguarda. (...) A gente é o estado que tem mais tradição, é o estado em que a maioria dos outros estados se inspira, embora cada um tenha a sua trajetória e sua história dentro do queijo artesanal, mas quando a gente fala de Minas Gerais, uma das primeiras coisas que vêm à cabeça é também o queijo", disse Paoli.

 

Conheça mais sobre os queijos e os produtores:

 

Serjão Canastra

 

Premiado na França, o Serjão Canastra é produzido por Sérgio de Paula Alves, o Serjão, em Piumhi, na Serra da Canastra. O queijo também acumula premiações como a medalha de ouro no Prêmio Queijo Brasil, duas medalhas de prata no Expoqueijo em Araxá, entre outros títulos.

 

O queijo Serjão Canastra é produzido em Piaumhi na Serra da Canastra

Divulgação

 

"Meu celular disparou de tanta mensagem que recebi, ligação de amigos. (...) A gente ficou muito feliz. É o reconhecimento, a gente, pequeno produtor, ver nosso queijo ser um presente para Chefes de Estado é algo que nunca imaginei", celebrou o produtor.

 

Serjão relata que iniciou a produção há oito anos e que deu uma guinada na vida para realizar o sonho de trabalhar na roça. Na fazenda do avô, que produzia leite, decidiu começar a produção do Canastra.

 

"Sempre tive o sonho de trabalhar com a roça. Na época, eu era corretor de seguros e fazia faculdade de Direito, estava na metade do curso, parei tudo e fui para a roça", relatou.

 

O queijo Serjão Canastra é um queijo de casca florida, que é quando tem fungos na superfície, e é normalmente feito de leite cru e massa crua, segundo explicou a especialista Renata de Paoli.

 

"A fabricação dele é igual ao Canastra tradicional mesmo, mas durante o processo de maturação dele o nosso queijo tem aquele mofo natural, mofo branco, ele prolifera durante a maturação, que foi o que deu esse destaque e reconhecimento de qualidade", descreveu Serjão.

 

Apesar de não ter autorização para comercializar o produto fora de Minas Gerais, Serjão afirma que "o pessoal compra aqui e leva para o Brasil inteiro". Em Belo Horizonte ele pode ser encontrado em várias lojas do Mercado Central, como a Loja do Itamar.

 

Maranata Bronze

 

Produzido em Virgínia, no Sul de Minas, o Maranata Bronze, que tem maturação de 100 dias, é produzido pelo Rancho Maranata desde 2019. Henrique Lamim conta que seu pai já produzia queijo, mas devido à desvalorização do item, vendia a "preço de banana". Ele, que saiu de casa aos 13 anos, voltou aos 37 para assumir a produção, chegando a fazer cursos para conhecer melhor o processo de maturação.

 

O queijo Maranata Bronze, que tem maturação de 100 dias, é produzido no Rancho Maranata em Virgínia no Sul de Minas

Divulgação

 

Ele afirmou ter ficado surpreso com a escolha do presente pelo presidente Lula.

 

"Tô sem dormir desde ontem. Tem um monte de gente ligando, vendas estourando, repórter. (...) Fiquei feliz demais, te confesso que nem pela indicação do meu queijo, mas pela ação do Itamaraty de presentear com o queijo. É comum dar presente caro, jóia, relógio, e ele deu para o presidente da França, que é um dos países com mais nome na produção de queijo, os queijos brasileiros", comemorou.

 

Os queijos, segundo ele, foram indicados por uma loja de queijistas, profissão de pessoas especializadas em queijos artesanais, em Brasília. "O Itamaraty entrou em contato e pediu os melhores. Elas fizeram essa curadoria e colocaram a gente. Fiquei muito feliz e honrado."

 

Lamim espera que a inclusão do Maranata Bronze aumente a quantidade de clientes, que devem enfrentar uma lista de espera, devido à produção ser limitada para manter as características artesanais.

 

"Uma diferenciação da região é maturar o queijo em uma câmara climatizada. Eu faço em quatro maturações: mais fresco, de 14 a 30 dias; um de 60 dias; o Bronze de 100 dias; e o ouro de nove meses. Controlando temperatura e umidade que dá uma consistência igual o ano inteiro", relatou.

 

Os queijos do Rancho Maranata são comercializados em grandes centros de todo Brasil, Rio de Janeiro, Nordeste, Sul, e em Belo Horizonte pode ser encontrado em várias lojas, algumas no Mercado Central, como o Cantim da Formiga.


GOA Moderado

 

A fazenda que foi do bisavô do médico Guilherme Maciel e de seu primo, o mestre queijeiro Jefferson Arantes, em Aiuruoca, na Serra da Mantiqueira, é onde é produzido os queijos GOA. Com ajuda da esposa, Caroline Nery, eles produzem queijos que já foram premiados Mondial du Fromage 2023, em Tours na França. Lá o GOA Moderado, que tem maturação de 120 dias, ganhou medalha de ouro.

 

“Nosso queijo é todo de produção própria. A gente não compra nem um litro de leite de fora. Controla desde a plantação do alimento até a embalagem final. (...) Esse de 120 dias, que foi presenteado para o Macron, é curado em câmara de maturação com controle de temperatura e umidade. Todos os queijos são zero lactose, exatamente pelo processo de cura, não adicionamos nenhuma enzima de lactase”, conta Maciel.

 

Ao saber que seu queijo foi escolhido para presentear Macron, Maciel achou inicialmente que era uma fake news. “Comecei a receber mensagens, falei: ‘isso deve ser fake’. Fui procurar o Instagram oficial e lá estava o nosso queijo.”

 

O trabalho dos queijistas foi exaltado pelo produtor. “Os queijistas vêm à propriedade, conhecem, veem quem trabalha e, se gostarem, divulgam o queijo”, contou.

 

Os queijos GOA são vendidos em todo o país, até pelos Correios, mas em Belo Horizonte eles possuem uma loja própria, a Terras Altas GOA, no segundo andar do Mercado Novo, no Centro.

 

Lua Cheia

 

O senhor Airton Gianesi é, dentre os produtores mineiros que estavam na cesta para Macron, o que está no ramo da produção queijeira há mais tempo. Ele afirmou ter ficado feliz com o reconhecimento do queijo Lua Cheia, que já é muito premiado.

 

O queijo Lua Cheia do Serra das Antas é produzido em Bueno Brandão no Sul de Minas

Estúdio Cumarú

 

"Foi uma surpresa grande a gente ter sido escolhido. A gente vem produzindo queijo há muito tempo e tem recebido vários prêmios", contou.

 

O Lua Cheia, relata o produtor, é baseado no camembert, mas com características que o tornam especial. É usado leite enriquecido de creme de leite, seleção de fermentos e flora de superfície e a adição de carvão vegetal na casca que dá um visual único e contribui com o sabor. O tempo mínimo de maturação é de 20 dias.

 

O início do processo ocorreu com a aquisição de sete cabras e um bode, este importado da França, em 1983, para a fazenda em Bueno Brandão, no Sul de Minas. Lá, Gianesi começou a vender leite para pessoas alérgicas a leite de vaca.

 

Seis anos depois, ele e sua esposa, Waldeci, se associaram a outros produtores de queijo de cabra para padronizar a produção e a comercialização.

 

Em 1997, para atender à demanda por queijos similares aos produzidos na Europa, ele resolveu produzir queijos de leite de vaca, nascendo a marca Serra das Antas, que é a que foi entregue ao presidente francês.

 

O Lua Cheia pode ser encontrado em várias cidades do Brasil. Em Belo Horizonte está por exemplo, no Roça Capital, no Mercado Central.

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