O que falta para que o Queijo Minas Artesanal (QMA) virar Patrimônio da Humanidade? E em quanto tempo vamos ter essa resposta? Bem, passos estão sendo dados. Com esse título, o queijo minas artesanal será o primeiro bem cultural brasileiro associado à cultura alimentar inscrito na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

 




O desejo é antigo, o reconhecimento nacional é fato e, agora, o sonho em escala maior quer o QMA no maior patamar possível. Mas é preciso paciência e planejamento em cada passo. Não é corrida de 100m, mas uma maratona até chegar ao pódio.

 

No dia 24 de setembro de 2022, em matéria antecipada do Estado de Minas e o Portal Uai, foi divulgado o início dessa escalada com a candidatura dos “modos de fazer” do queijo minas artesanal a Patrimônio Imaterial da Humanidade, título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), durante o durante a 4ª edição do Festival do Queijo Artesanal de Minas, evento promovido pelo Sistema Faemg Senar e o Sebrae/MG, na capital.

 

Já o anúncio oficial ocorreu no dia 17 de novembro de 2022, numa quinta-feira, no Museu das Minas e do Metal, na Praça da Liberdade, em BH, pelo governo estadual, em parceria com autoridades federais, dando a partida para candidatura dos “modos de fazer” do produto a patrimônio imaterial da humanidade. Iniciativa apresentada à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no Marrocos. 

 

 

A busca por este reconhecimento é uma missão, não só do poder público de Minas e do Brasil, mas de toda uma cadeia, que começa com os produtores, representados pela Associação Mineira de Produtores de Queijo Artesanal (Amiqueijo), e da sociedade civil, dos cidadão mineiros em especial.

 

Dois reconhecimentos

 

Nessa maratona para chegar o título, a iguaria mineira já sustenta dois importantes reconhecimentos que atestam a importância do produto:

 

  1. do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), em 2002, para o modo de fazer o queijo artesanal da região do Serro, no Vale do Jequitinhonha, sendo o primeiro bem cultural registrado por Minas Gerais como patrimônio imaterial;
  2. do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2008, que destacou o modo de fazer o queijo minas artesanal, contemplando as regiões do Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre/Alto Paranaíba.

 

Já em 2021, com a revalidação do registro pelo Iphan, o bem cultural teve seu título alterado para Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal, ampliando o território de abrangência do registro para as regiões identificadas pela Emater-MG como produtoras do Queijo Minas Artesanal: Araxá, Campo das Vertentes, Serras do Ibitipoca, Triângulo de Minas, Diamantina e Entre Serras da Piedade ao Caraça – além das três inicialmente reconhecidas com o título de Patrimônio Cultural do Brasil em 2008.

 

Alcançar este feito significa, não só título e reconhecimento, mas promover o queijo mundialmente, assim como a cozinha mineira e a cultura brasileira como um todo, potencializando a economia.


Próximos passos

 

Desde a participação no evento da Unesco em Marrocos, as autoridades seguiram dando sequência aos trâmites necessários para a formalização da candidatura, prazo que foi até o dia 30 de março de 2023.

 

Entre as etapas, ocorreu o encaminhamento de um dossiê ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entregue à Unesco. A avaliação final da candidatura foi marcada para até 2024. Chegamos ao prazo final, por isso tanta ansiedade para saber o resultado.

 

Agora, a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais informa que o Comitê Intergovernamental para Salvaguarda do Patrimônio Imaterial da Unesco está no período de análise da candidatura dos Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal. O Comitê tem até outubro deste ano para o esclarecimento de dúvidas sobre a candidatura.

 

 

É previsto que a declaração aconteça na Sessão do Comitê Intergovernamental da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, em dezembro, em Assunção, no Paraguai. 

 

O Queijo Minas Artesanal deverá ser o primeiro bem da cultura alimentar de Minas e do Brasil a ser reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. 

 

Campanha reforçada  

 

Ação cultural do Governo de Minas na Embaixada do Brasil em Paris, na última quarta-feira (19/06), colocou em destaque diversos tipos de queijo, a cozinha mineira e o artesanato produzido por artistas de várias regiões do estado. Participaram do encontro o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas de Oliveira, os embaixadores Ricardo Neiva Tavares, atual embaixador do Brasil na França, e Paula Alves de Souza, delegada permanente do Brasil na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Brasunesco).

 

“Quando você é de Minas Gerais, o queijo é parte da sua vida. Temos 30 tipos diferentes de queijo no nosso estado e comemos 2,2% mais queijo do que qualquer outro brasileiro. Então, é parte de quem nós somos, e também é parte da nossa economia”, declarou o vice-governador.

 

O diretor-presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Otávio Maia, relembrou as etapas da candidatura do QMA: "É um trabalho que a gente já vem fazendo há um bom tempo. Já tivemos uma missão em Marrocos. Também tivemos várias etapas desse pleito que é o reconhecimento do Modo de Fazer o Queijo Minas Artesanal como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Isso vai trazer ainda mais visibilidade, promoção e valorização para os nossos queijos artesanais”.

 

 

Na ação de Paris, para a última etapa de defesa do pleito, estavam presentes produtores de queijo: "Se Deus quiser, receberemos a notícia positiva do Queijo Minas Artesanal como Patrimônio Imaterial da Humanidade”, completou Otávio Maia.

 

Várias regiões

 

Representando a Serra da Canastra, o gerente executivo da Associação dos Produtores de Queijo da Canastra (Aprocan) e secretário executivo da Associação Mineira do Queijo Artesanal (Amiqueijo), Higor Freitas, levou cinco queijos de diferentes produtores da região: Pedacin da Serra, Pingo do Mula, Roça da Cidade, Capela Velha e Capão Grande. “Promover nossos produtores ajuda a agregar valor aos produtos locais, a manter viva essa cultura que é passada de geração em geração. Minha expectativa é que possamos, mais uma vez, mostrar a qualidade dos nossos queijos para o mundo”, diz Higor.

 

Já Lindomar Santana dos Santos, que, desde 1987, produz queijo em Sabinópolis, região do Serro, embarcou para Paris com quatro queijos na mala. Suas criações Santana, Só Toni, Canaã e Quilombo, todas já premiadas na França, estavam lá não para competir, mas para encantar os paladares. “O queijo artesanal já faz parte da cozinha mineira. Buscamos o reconhecimento do nosso saber fazer para, assim, conseguirmos levar nosso produto a todos os países”, ressaltou.

 

O chef de cozinha Henrique Gilberto, do Grupo Viela, mostrou a versatilidade do queijo mineiro na composição de pratos originais que trazem a marca da mineiridade. Pratos como batata baroa cremosa com ovo defumado e caldo caipira, peito de vitela com creme de alho-poró e cogumelos e gougères de queijo canastra com goiabada fizeram parte do menu.

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