Os programas de culinária são o exemplo perfeito da transformação de aspirações em realidade. Chefs de todo o mundo têm cativado a admiração do público com suas habilidades na cozinha. São participantes que, não só conquistaram o paladar dos jurados, como também abriram suas portas para o sucesso em uma jornada recheada de desafios.

 




Desde que participaram dos dois principais programas de gastronomia da televisão brasileira – MasterChef (Band) e Mestre do Sabor (Globo) –, alguns chefs mineiros optaram pelo empreendedorismo, abrindo seus próprios restaurantes, onde podem expressar sua criatividade sem as restrições dos reality shows, enquanto outros se aventuraram no mundo digital, como influenciadores nas redes sociais, mostrando receitas e técnicas da gastronomia.


Exemplo do primeiro caso é o chef Pedro Barbosa, natural de Paracatu, município do interior de Minas Gerais. Vice-campeão da terceira edição do programa Mestre do Sabor, o mineiro descreve quais eram as expectativas ao participar da competição.

 

Sorvete de requeijão moreno com goiabada cremosa: na Uaiê, Pedro Barbosa explora muitos ingredientes mineiros

Leandro Couri/EM/D.A Press


“Pretendia conseguir abrir meu próprio negócio, o que só seria possível com o dinheiro do grande campeão. Não levei nenhum valor de prêmio, porém, muitas portas foram abertas e eu consegui agarrar a maioria delas.” Pedro já passou por restaurantes renomados, como o Maní, em São Paulo, e o Glouton, em Belo Horizonte.


Isso mudou a vida do chef, que atraiu um público fiel na internet por mostrar o seu trabalho. Assim, surgiram muitas oportunidades de fazer festivais por todo o Brasil, lembrando sempre de suas raízes mineiras. Apesar de não ter vencido, a paixão pela culinária o levou a aprimorar suas habilidades como empreendedor na capital.

 


Pedro agora gerencia sua própria loja de doces, a sorveteria Uaiê. Nela, ele vende sorvetes artesanais à base da fruta de verdade, sem nenhum tipo de gordura hidrogenada ou saborizantes em pó, respeitando os produtos que possuem sabores característicos brasileiros. É ele quem recebe os clientes e monta a sobremesa na hora, uma por uma.


“A Uaiê nasceu desse sentimento de querer dar o pontapé, da necessidade de começar. Queria abrir um restaurante, mas não tenho grana, sócios ou família rica. Não queria uma sorveteria simples, queria algo novo, totalmente fora da caixinha”, comenta. O chef revela a sua visão para o futuro: mostrar que é possível fazer sorvetes artesanais de verdade, criando uma nova gelateria, brasileiríssima.

 

Sabores regionais


Pedro também explica de onde surgiu essa iniciativa: “Como fiquei muito conhecido no Mestre do Sabor por fazer sobremesas, tive a ideia de fazer algo ao redor do sorvete, porém, brasileiro de alma, com sabores regionais e festivos. O ponto alto hoje é a nossa sobremesa que tem inspiração na broa mineira, faz muito sucesso! As flores são a chave de ouro, todas comestíveis.” Essa a que ele se refere é uma broinha de fubá recheada com creme de milho verde e finalizada com sorvete de canela.


Outro sucesso é o canudinho (pequeno só no nome) de doce de leite, da massa da casquinha, com sorvete de doce de leite e raspas de limão siciliano. E as flores comestíveis, claro, que são marca registrada.


Na Uaiê, é possível encontrar casquinhas feitas na hora com sabores como frutas vermelhas com creme de limão siciliano, merengue e folhas frescas de menta; banana com doce de leite e canela; maracujá com coco fresco e um toque de coentro; goiaba mesclada com limão siciliano e poejo, que é acompanhada por uma nuvem de algodão-doce (e uma dose de cachaça para os maiores de idade), além de requeijão moreno com goiabada cremosa.


Todas as casquinhas são servidas com duas bolas do mesmo sabor (mais a finalização, se tiver) e custam R$ 23. As sobremesas citadas têm o mesmo preço.

 

Transição de carreira


Já a belo-horizontina Raquel Novais participou da terceira temporada do reality show MasterChef, transmitida em 2016, sendo uma das finalistas. A chef conta que estava em um momento de transição de carreira em que queria juntar o marketing, área em que é formada, com a gastronomia.

 

Com a participação no MasterChef, Raquel Novais conseguiu o que queria: ganhou bolsa para estudar gastronomia e agregar o marketing, sua primeira formação

Bruzzi Fotos/Divulgação


“A minha motivação para entrar no MasterChef é um pouco engraçada! Estava olhando para fazer um curso de gastronomia em uma faculdade em São Paulo, mas percebi que não dava para conciliar o meu trabalho com a gastronomia e ainda fazer estágio. Não tinha nem tempo nem condição financeira para isso, tendo em vista que é um curso gastronômico bem caro.”


No dia em que Raquel foi fazer uma visita técnica ao local, viu um cartaz da Cássia Castro, que havia participado da segunda temporada do MasterChef. Então, perguntou para o diretor do curso se, por acaso, ela participasse do programa, ganharia uma meia bolsa, igual a fornecida para a Cássia. E ele concordou. “Achei o melhor recurso do mundo! Vou participar do MasterChef para quem sabe ficar entre os 21 e assim ganhar uma meia bolsa do curso de gastronomia.”

 

 


Raquel encarou uma maratona desde a inscrição até o início do programa: “Pedi para a minha irmã me gravar pelo celular, fiz a receita e a inscrição como qualquer outra pessoa. Para a minha surpresa, fui chamada. Eu não tinha a preparação, não tinha estudado nem visto todos os episódios, então maratonei tudo do programa aqui do Brasil e de lá de fora, comprei livro, fui estudar. Enquanto fazia as preliminares, fui entendendo, me descobrindo.”


A experiência a ajudou a entender seu caminho na gastronomia. “Descobri que eu era realmente apaixonada pela cozinha brasileira, que foi a minha inspiração durante todo o programa. Mais do que isso, uma cozinha com alma, uma cozinha de memória, que era permeada pelas coisas que eu já tinha vivido e por aquilo que já tinha feito, das minhas experiências com a minha família, com os meus avós,” revela.

 

Mais do que o esperado


As expectativas ao participar da competição foram superadas, e muito. A intenção de ganhar uma bolsa de gastronomia para poder trabalhar com marketing a levou, no fim das contas, a ser proprietária de dois restaurantes, um bufê e uma empresa de eventos corporativos, além de se tornar apresentadora de programas em canais de TV como SBT, Band, Sabor e Arte, Rede Minas, entre muitos outros.


“Não tinha a menor ideia de onde eu estava amarrando o meu burrinho, sabe? Eu não tinha a menor ideia de que teria repercussão nas redes sociais para fazer o que fiz durante tanto tempo”, comenta.


A chef também fala sobre sua participação especial na edição de 2023 do MasterChef: “Ter voltado na décima temporada foi uma redenção. Foi um momento muito especial para mim, porque eu fiquei frustrada durante muito tempo em não ter dado o meu melhor na grande final de 2016 e não ter conseguido entregar aquilo que eu queria. Agora eu consegui. Foi uma superação pessoal. Às vezes, não é sobre superar o outro, é sobre superar você mesmo.”

 


Durante quase oito anos, Raquel investiu 100% em gastronomia. Há um ano e meio, ela voltou para a área de marketing, desenvolvendo, em paralelo, trabalhos como apresentadora de programas e influenciadora digital. Mas declara: “Sempre vou ser MasterChef, sempre vou levar essa história. Ela faz parte de mim e eu levo para a minha carreira. É uma decisão difícil, mas hoje estou levando isso de uma outra maneira, em paralelo com outros projetos, não dependendo financeiramente disso.”


Continuação da história


Ele trabalhava em um restaurante renomado da cidade, já tinha sido premiado com o título de chef revelação da cidade e participado de festivais e congressos de gastronomia por todo o país. Mesmo assim, o mineiro Caio Soter quis se inscrever na segunda temporada do Mestre do Sabor. A expectativa ao entrar no programa, ele revela, era expandir o seu trabalho para além das fronteiras da capital do estado.

 

"Com certeza, o programa foi importante para me colocar nesse patamar nacional", diz Caio Soter, ex-Mestre do Sabor

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

 

“Na época, eu era chef do restaurante Alma Chef, já tinha uma carreira mais consolidada na cidade e ganhei o prêmio de chef revelação em 2019. Mas, no cenário brasileiro, não era muito conhecido, então um dos meus objetivos era projetar o meu trabalho para fora de Minas Gerais.”


O objetivo foi alcançado. O ano em que Caio participou da competição foi um dos de maior audiência do programa, devido às circunstâncias da pandemia da COVID-19. “Com certeza, o programa foi importante para me colocar nesse patamar nacional e eu considero um momento muito importante da minha vida. Claro que, depois disso, já construí coisas independentes do programa, mas tem muita coisa boa que foi fruto disso, foi muito legal para mim”, diz Caio.


Hoje, o chef é sócio do restaurante Pacato, que tem como missão proporcionar ao cliente um momento de apreciação calma da vida e de seus prazeres. A cozinha utiliza a tríade vegetais, porco e frango como essência para criar o cardápio. Coxinha de porco caipira com requeijão moreno de Araçuaí, “escargot mineiro” (moelinha de pato com manteiga de ervas e alho) e o bolo de chocolate com creme, calda e caviar de jabuticaba são alguns dos itens servidos.

 


No menu degustação, alguns elementos sempre se repetem, mas com sabores e apresentações diferentes. Entre eles, o jiló e a “ostra mineira”, parte da ave colada na sobrecoxa, com formato parecido com o fruto do mar.

 

O jiló é um dos ingredientes que acompanham Caio Soter em todo menu degustação do Pacato, restaurante que coloca um novo olhar sobre a cozinha mineira

Rubens Kato/Divulgação


Além do restaurante, o chef também é sócio do Pirex, que transborda mineiridade, acolhimento e criatividade. O bar tem como conceito os petiscos de estufa, cerveja gelada e batidas tradicionais como as de maracujá e amendoim. Os ovos de codorna coloridos com molho rosé, a língua na cerveja preta com pão de sal e o vinagrete de coração de galinha completam o menu. Os pratos mais famosos do Pacato também inspiram petiscos no bar, como a porção de mini jiló com molho de mostarda.


A história de Caio é mais uma prova de que os ex-participantes de reality shows de gastronomia não levam consigo só o reconhecimento que ganham nos programas, mas também transformaram suas vidas. O caminho para o sucesso profissional vai além das telas, inspirando tanto chefs aspirantes quanto espectadores.



De olho na telinha


O Mestre do Sabor é um reality show brasileiro que estreou na Rede Globo em 2019 e teve três temporadas com a presença de cozinheiros que já tinham experiência profissional na gastronomia. Já o MasterChef foi criado no Reino Unido em 1990 e tem edições em vários países, incluindo o Brasil, que já está em sua décima primeira temporada da versão amadora. Os programas têm como foco descobrir novos talentos na cozinha, colocando chefs em competição para mostrar suas habilidades culinárias. Ambos são estruturados em várias fases, como as audições às cegas, as batalhas, as provas em equipe e as eliminações em cada episódio até a grande final. No caso do Mestre do Sabor, os jurados não apenas julgavam os pratos, mas também orientavam os competidores. Com variações ao longo das temporadas, chefs como Claude Troisgros, Kátia Barbosa e o mineiro Leo Paixão são alguns dos nomes que já participaram do júri. No MasterChef, Henrique Fogaça, Helena Rizzo e Erick Jacquin são os chefs que decidem quem será o campeão.


Serviço


Uaiê (@uaiesorvetes)
Rua Padre Odorico, 78, São Pedro
De terça a domingo, das 13h às 20h

 

Pacato (@pacatobh)
Rua Rio de Janeiro, 2735, Lourdes
De quarta a domingo, das 12h à 15h e das 19h à 23h

Pirex (@barpirex)
Avenida Amazonas, 1049, loja 54, Centro
De quarta a sexta, das 18h à 00h; sábado, das 12h à 00h; domingo, das 14h à 20h

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino

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