Feira é uma tradição mineira. Compõe a identidade do mineiro, que se sente confortável e acolhido passeando de uma barraca para outra, exercitando a prosa, valorizando os produtores e produtos do estado, comendo do bom e do melhor, sem se esquecer de molhar a garganta. Programa ideal para curtir um fim de semana, o dia de folga ou mesmo para uma passada rápida para comprar um tropeiro e seguir a vida.
Por isso, belo-horizontinos, feirantes e turistas, do interior ou de outras partes do país, estão empolgados com o retorno da Feira do Santa Tereza, uma das mais antigas e queridas na capital. Ela ganha nova vida com a retomada das atividades no Mercado Distrital de Santa Tereza, na Região Leste de Belo Horizonte, inaugurado no ano de 1974 e fechado depois de mais de 30 anos de atividades, em 2007.
Nesta retomada, a Feira do Santa Tereza está instalada dentro do Mercado Distrital de Santa Tereza, sempre aos sábados e domingos, das 9h às 18h, e já está indo para a sua sexta semana. Um espaço confortável, coberto, com mesas e cadeiras, comodidade, música ao vivo, espaço kids e pet friendly e ainda a oportunidade para adoção de animais.
Tradição revigorada, a Feira do Santa Tereza volta a ocupar seu espaço de direito com cerca de 100 expositores. Aqui, vamos destacar o setor de comida e bebida da feira, que apresenta uma variedade para os mais diferentes paladares.
Por onde começar
Com tantas opções, para que não fique perdido, sem saber por onde começar a experimentar delícias das várias barracas, o Estado de Minas selecionou algumas para contar suas histórias, de seus pratos, petiscos e bebidas e ainda montou um top 6 com outros destaques. Mas, claro, também vale o seu garimpo pela feira, suas descobertas e sugestões.
Entre tantos, a barraca Churrascos na Brasa, de Vinícius Barbosa da Silva, que tem 20 anos de experiência no meio e, agora, pela primeira vez, se aventura como empreendedor e dono do seu negócio, com o apoio e trabalho de toda a família, que vive o mesmo desejo de independência.
O medalhão de frango e o contrafilé são os campeões de venda da barraca de Vinícius, que também tem porco, salsichão e coração. E ainda surpreende a clientela com porções de fígado com jiló e cebola.
"Depois de 20 anos, agradeço a experiência, aprendizado e oportunidade e, agora, chegou a minha vez de trabalhar por conta própria. Adoro churrasco, assim como o mineiro, então facilitou a escolha. Faço meus espetos, produção minha, tempero e, agora, sou cozinheiro, empreendedor e chef", conta Vinícius, feliz da vida com a chance de realizar o sonho na Feira do Santa Tereza.
"Graças a Deus tudo tem se encaixado, a feira está boa, os espetos com saída, bem procurados e espero crescer junto com a feira. Todos ganham", deseja Vinícius, que já trabalhou na Feira anos atrás, mas agora volta com sua barraca e orgulhoso da conquista.
Tem tilápia aí?
"Minas não tem mar, mas tem rio", destaca Lilian Patrícia de Lima Magalhães, dona da Barraca da Lili, que tem como carro-chefe o peixe frito com batata. Como o canto da sereia, ela escuta constantemente da clientela fiel: "Tem tilápia aí?" Desejo sempre atendido.
Lilian vive hoje um sonho esperado, desejado lá atrás. Técnica em enfermagem e farmácia há 16 anos, ela deixou o emprego no Hospital Socor em abril desta ano para se tornar uma empreendedora em tempo integral. Até então, vivia uma jornada dupla, tripla. Há três anos, comandava seu bar no Bairro Floramar, o Quintal Bar da Lili, que teve de ser fechado com a pandemia. Ela não conseguiu sustentar. Não desanimou.
Reestrutura, com o apoio dos três filhos - Lucas, Nícolas e João Miguel - e do namorado, Davidson, ela faz o que mais gosta: cozinhar, servir as pessoas e, mesmo que de outra forma, continuar a cuidar da saúde das pessoas. "Sempre tive o sonho de ser empreendedora, mesmo formada. Agora, chegou a hora. Amo cozinhar, gosto de gente, de receber e peixe é um delícia. O mineiro adora, é bom para a saúde, tem ômega 3, é saboroso e, mesmo frito, faço tudo na hora, sirvo quietinho, sequinho, é leve. Assim como a batata crocante, uso da casca roxa, mais saudável. Recebo elogios, os clientes voltam e combinam com refrigerante ou cerveja gelada".
Saiba que na Barraca da Lili não tem somente tilápia. Quem chega por lá pode escolher também outros peixes: tem cascudo e traíra. Aliás, ela destaca que os clientes adoram a traíra com batata, vinagrete e sua farofa de alho e cebola torradinha.
O empanado da Lilian também faz sucesso. Ela revela o segredo: "Faço o empanado com a mistura da farinha de trigo com o fubá. E para quem é alérgico, posso fazer com um ou outro. E é bem sequinho, frito na medida e com muito sabor".
Na barraca com Lili, o filho Lucas, compositor e cantor de rap, mas também expert em eventos, seja como barman ou garçom, que contribui com o sonho da mãe e persegue o seu, de ser um artista futuramente. "Ele sabe vender, é mais parecido comigo, é popular, conversa com todo mundo, vai atrás do cliente, ajuda muito".
Para Lilian, é um recomeço, viver um sonho que foi interrompido e que ela soube esperar e, agora, volta a investir e trabalhar para que possa acontecer. "Agradeço a Deus, acreditei e é seguir em frente. E estar na Feira de Santa Tereza, um lugar histórico, em um bairro tradicional, boêmio, casa do Clube da Esquina, recebendo clientes antigos e fazendo novos em um espaço de encontros de pessoas do bairro, de todas as regiões da cidade, turistas, enfim, é gratificante".
Hebe, a Kombi!
A Jairo's Cervejaria nasceu do sonho do seu sócio-fundador, Danilo Mata, apreciador e sommelier de cervejas, que inicialmente desenvolveu suas receitas em pequenas panelas. A Jairo's ganhou as ruas com a venda de chopes e insumos para cervejeiros caseiros oferecendo a população de Betim e região opções de cervejas artesanais. Com o reconhecimento do consumidor, nasceu então a cervejaria.
Até Danilo formar sociedade com um amigo, que chamou o filho para a empreitada. Assim, o cientista e professo de biologia Caio Campos Araújo Pádua deixou a vida acadêmica, em Viçosa, para mergulhar no mundo cervejeiro, se tornar um expert promotor de vendas e tocar o negócio agora com CNPJ e cada vez maior. Empreendimento que começou em casa, passou para grupos de WhatsApp e só cresce.
Tanto que a Jairo's Cervejaria, em 2020, ganhou duas medalhas: bronze na República Tcheca, com sua cerveja Ipa, e prata no Concurso Brasileiro de Cervejas de Blumenau com sua Vienna Lager, a Wien.
"Virei a chave quando notei que conversava mais de cerveja do que de aula. Prometi ao meu pai que, quando vendêssemos no Verdemar, largaria os quatro empregos como professor e me dedicaria à cervejaria. Agora, estou atrás do sonho, atrás de representantes. Não é fácil, é complicado competir com as grandes, entrar em eventos cervejeiros".
Ponto fixo na feira
Diante deste obstáculo, nasceu a ideia da "Kombi de chope", uma beer truck para participar de feiras e ter acesso a outros eventos. Se a cervejaria tem o nome de Jairo, em referência ao cão Schnauzer de Danilo, a Kombi foi batizada de Hebe, que combina com sua placa HBE.
"A Kombi nasceu em 2022. Arrendei porque o projeto era outro, mas retomamos agora para a operação de feira. E estamos presentes desde a reabertura. É importante, a feira tem clientes diferentes dos eventos cervejeiros, é um público família, caseiro, mais calmo, em um ambiente aconchegante. Esta proximidade na feira conseguimos divulgar, explicar os estilos da cerveja, saber o gosto dos clientes, qual vai combinar com seu paladar para que apreciem a cerveja e toda a gastronomia variada e deliciosa da feira", destaca Caio.
Para Caio, a Feira do Santa Tereza é um símbolo de BH: "É um palanque importante para a cultura mineira e de BH, identificada como a Bélgica do Brasil diante da cena cervejeira, precisa continuar viva, aberta a todos que queiram prestigiar. Um espaço rico, de encontro entre as cervejarias em desenvolvimento, somos todos amigos, unidos, um salva o outro o tempo todo e agora temos mais uma espaço democrático para mostrar nossa competência para a produção de cerveja", enfatiza.
As cervejas
Algumas das cervejas da Jairo's Cervejaria para você conhecer e saborear:
Pilsen: a Betim Lager, refrescante e fácil de beber. Como Caio diz, é 'a cerveja da batalha", leve, fácil de tomar.
Vienna Lager: cerveja avermelhada/alaranjada, a entrada para o mundo cervejeiro, tem frutas vermelhas, de origem austríaca com amargor leve a moderado, sua cor âmbar e notas de biscuit vão conquistar seu paladar. Escolhida como a melhor do Brasil no Concurso Brasileiro de cervejas em 2020 em Blumenal, Santa Catarina.
Munich Dunkel: na cor rubi, é a versão do tradicional estilo alemão Munich Dunkel. Espuma persistente, leva em sua produção duas decocções para ter um maior realce do perfil maltado. Foi medalha de bronze no concurso World Brewers Seal 2021 na terra da Lager, a República Tcheca.
American IPA: aroma cítrico de frutas amarelas equilibrado com marcante amargor. Esta cerveja conquistou até os especialistas da República Tcheca, onde alcançou o 3° Lugar no World Beer Seal. "Primeiro prêmio brasileiro na República Tcheca, muito importante para nós. Ela é forte, brilhante, alto amargor, resinoso porque remete à laranja e à manga, tudo puro malte", pontua Caio.
Top 6 da Feira do Santa Tereza
Para somar aos três personagens acima, o Estado de Minas selecionou mais barracas participantes da Feira do Santa Tereza e destaca aqui um top 6. Confira:
- Container Zampier: Empresa familiar, tem como especialidade as carnes defumadas em pit smoker estilo texano. Sob comando do pitmaster Bruno Zampier, oferece hambúrgueres defumados e os principais cortes do american barbecue. O carro-chefe é a costelinha defumada ao molho barbecue.
- Bolinhos de Bacalhau do Mestre: Com uma receita própria desenvolvida há 35 anos pelo proprietário Paulo Henrique Aguiar, os bolinhos têm sabor único e até já se tornaram internacionais, marcando presença em festas na Suíça e Portugal.
- Felix Drinks: Traz sua vasta experiência na área de coquetelaria em mega eventos e casas noturnas para quem aprecia drinques clássicos e modernos. Os queridinhos dos clientes são a Caipirinha (cachaça, limão e açúcar), Casa do Baile (Licor 43, Licor Bayles e espuma tropical) e o Mineirão (vodca, energético manga, polpa de morango e espuma tropical).
- Delícias da Li: Empresa familiar, que há oito anos trabalha com um delicioso feijão-tropeiro nas redondezas do Mineirão, e agora levou sua receita para a Feira do Mercado de Santa Tereza. Para os amantes dessa iguaria mineira, o tropeiro deles vem completo: arroz, couve, ovo, pernil e torresmo.
- Pastel das Manas: Três irmãs (Elaine, Elizete e Eliete), apaixonadas por pastel, resolveram montar um negócio e vender a iguaria, sempre frita na hora, fresquinha e quentinha. O sabor de maior saída é o de queijo, do jeito que o mineiro gosta. Mas elas também têm de carne e de pizza. Na barraca delas, o cliente encontra, ainda, cafezinho, pão de queijo, e porções de mini quibes, refrigerante, sucos e água. Tudo feito com todo cuidado e amor.
- Angel Porções: A proprietária Angela Maria Pereira Pedro entrou nesse ramo por sua enorme paixão por cozinhar. Para a feira, está investindo em milho verde, pamonha, curau e canjica, tudo feito com muito amor e dedicação. Segundo ela, um jeito bem mineiro de agradar todos que experimentam suas delícias.
Integrada ao Mercado de Origem
No dia 29 de junho, a Fundação Doimo promoveu uma solenidade em comemoração ao aniversário de 50 anos do Mercado Distrital do Santa Tereza, no tradicional Mercado do Santa Tereza. A cerimônia também oficializou a integração do Mercado do Santa Tereza ao circuito de Mercados de Origem da cidade. “Este mercado não é apenas um ponto de encontro para a comunidade local, mas também um catalisador para o apoio aos pequenos produtores e à agricultura familiar”, destaca o idealizador do Circuito de Mercados de Origem, Elias Tergilene.
Serviço
- Local: Mercado Distrital Santa Tereza - Feira do Santa Tereza
- Endereço: Rua São Gotardo, 273 – Santa Tereza
- Horário: das 9h às 18h
- Data: aos sábados e domingos
- Contato: https://www.instagram.com/feirasantaterezaoficial/