Relações duradouras são cada vez mais difíceis e raras nos dias de hoje, sejam elas profissionais ou afetivas. Mas, para o maître do Redentor, Márcio Aurélio de Faria, de 60 anos, isso acontece há 40 anos. Uma parceria de vida com os fundadores do bar carioca no coração da Savassi, em BH, os irmãos Fausto Dias e Antônio Câmera, casa que no dia a dia tem o comando de Daniel Ribeiro, filho de Fausto.
Márcio Aurélio lembra que começou como garçom do Kid Batata e Pop Batata, outras casas dos empresários, aos 20 anos, sem nenhuma experiência, até assumir a “metria” do Redentor, desde a abertura até hoje.
Até chegar a 2024 e ser uma figura pública e das mais conhecidas e queridas na capital em seu meio, a história de Márcio teve capítulos inesperados e outros planejados. Há 40 anos, os amigos estavam indo para os EUA para “lavar prato, fazer faxina e trabalhar na indústria pesada”. E esse seria seu caminho. Um tio conseguiu uma vaga de auxiliar de garçom em um restaurante português, em Boston, Massachusetts. Sugeriu que, antes de embarcar, fizesse um curso de garçom.
Márcio era vendedor de uma loja de brinquedos num shopping. Ia lanchar com a namorada no Kid Batata e gostava de um garçom. Um dia, perguntou se não teria vaga. Tinha, foi contratado e no dia do seu treinamento quem iria ensiná-lo brigou com o gerente, foi demitido e ele teve de se virar.
“Ganhei um uniforme manequim 36, sendo que usava 38, me entregaram a bandeja e servimos naquele dia 270 pratos no almoço. Cliente pedia parmegiana e eu entregava estrogonofe, uma loucura, mas dei conta. Gostei do salário, da comissão, da gorjeta em dinheiro, comprei um som, uma motocicleta e não quis mais saber de EUA.”
No quarto mês, Márcio já estava em primeiro lugar como garçom entre as seis casas, trabalhava das 10h às 22h, tinha disposição e passou a treinar todos os garçons da rede. Cinco anos depois, quis mudar, foi trabalhar na moda, vendedor da Vide Bula, mas voltou para o grupo de Fausto, agora a loja do Pop Pastel, na Savassi, de onde só saiu para ajudar na abertura do Redentor. Ela aceitou a proposta de se tornar maître, o chefe do salão, coordenador da equipe, responsável pelo treinamento, levando sua expertise e conhecimento de gestão e do curso de sommelier.
“Sou um curioso, sei de tudo que ocorre na empresa. Não me contenho só com a função do salão, de coordenar e montar equipe, tenho de fazer mais, ir além. Redentor é uma casa em que as pessoas têm de se sentir felizes. Elas não saíram de casa à toa, então, temos de deixá-las satisfeitas. E não dou nada mais do que carinho em troca”, pontua o maître.
Com naturalidade
Márcio é um anfitrião genuíno, daqueles que respeito e afetividade falam por si, um “resolvedor” de pepinos sem discussão e constrangimento: “O cliente bem atendido leva três, o mal tira 10. Ele quer ser bem atendido e ter comida e bebida boas. Circulo com naturalidade neste contexto, tenho tranquilidade, trato todos iguais, fiz amigos e tenho desde aquele que preciso comprar papinha na farmácia até o que vem de cadeira de rodas me visitar”.
Para Márcio, maître precisa ter carinho, postura, apresentação adequada e combinar com a casa onde trabalha. A sua personalidade, por exemplo, combina com a identidade do Redentor, o clima de mais liberdade e descontração, sem perder o rigor e qualidade do serviço. Ela ajudou a montar a casa, a equipe e os pratos. Faz parte da transformação, de um bar só de executivos, políticos e gente de terno e gravata para uma diversidade maior de público chegando ao longo dos anos. No começo, eram cinco garçons, hoje são 15. “A casa triplicou e me orgulho de ser um maître de um bar, já que este ofício é mais relacionado a restaurantes”.
Mesmo em um bar mais descontraído, há etiquetas e regras seguidas fielmente por Márcio. Ele, especialmente, destaca-se pela vestimenta. Sempre de camisa social, calça social, sapato e cintos pretos, exibindo sua coleção de 70 gravatas, um de suas paixões, que só cresce. Foi até eleito pela clientela e o público do entorno como “o mais elegante da Savassi”.
“Faço questão, gosto de me arrumar, faço barba todos dias, cabelo curto e os clientes percebem. Se cuido de mim, vou cuidar deles. Sou apaixonado pelo que faço e faço bem-feito. Ser maître, um anfitrião, parece que nasci com este dom. Até corri o risco de ser engenheiro civil e aviador, mas meu dom é o de servir”, revela Márcio.
Aliás, um verdadeiro cuidador. Viúvo há 10 anos, hoje ele acolhe em casa a mãe, Iria da Conceição, de 85 anos, e o tio, Júlio Mozart, de 77, um projetista aposentado, surdo e mudo: “Moram comigo e é minha missão cuidar deles. Somos um trio e tanto”.
Serviço
Redentor (@redentorbar)
Rua Fernandes Tourinho, 500, Savassi
(31) 3568-8469