A mostra é de arquitetura, mas estamos aqui para falar sobre gastronomia. A 29ª edição da Casacor Minas, que ocupa o shopping Espaço 356, no Bairro Olhos D’Água, Região Oeste de Belo Horizonte, já ficou marcada como a que reúne mais atrações gastronômicas da história. Entre veteranos e estreantes, ao todo são cinco participantes empenhados em fisgar os visitantes pelo estômago: restaurante, bar de vinhos, drinqueria, bufê e cafeteria.

 




O Chef e o Cabra virou o restaurante oficial da Casacor Minas. Já na terceira temporada, é uma das atrações mais aguardadas pelo público, afinal, essa é a única oportunidade de comer em BH pratos do chef paraibano Onildo Rocha, que comanda o Notiê (indicado pelo Guia Michelin) e o Abaru, no Espaço Priceless, Centro de São Paulo. A novidade é que, pela primeira vez, as pessoas podem frequentar o espaço, assinado pelo escritório Life Projects, sem ter, obrigatoriamente, que comprar o ingresso para a mostra.


“Desde a primeira temporada, sempre pesquisei muito e prestei muita atenção no que o belo-horizontino gosta de encontrar em restaurantes. E a cada ano fui aprendendo mais”, responde o chef, ao ser questionado sobre o sucesso do projeto. Ele emenda: “Quero retribuir o mesmo carinho com que fui recebido. Sempre falo que me surpreendi com a forma como a minha cozinha, a minha cultura e a minha região foram recebidas e respeitadas pelos clientes que frequentam o restaurante.”

 


Com o olhar atento, Onildo entendeu que mineiro gosta de comer frutos do mar, então, neste ano, caprichou nos sabores do litoral, ampliando os pratos com peixe, camarão, polvo e vieira. O chef brinca que “o sertão virou mar”, em referência à essência da sua cozinha, que se conecta fortemente com o sertão da Paraíba. Inspirado no também paraibano Ariano Suassuna, idealizador do movimento armorial, ele criou a cozinha armorial, que enaltece produtos locais pouco (ou nada) valorizados.


“O cardápio é um misto da minha concepção de cozinha e do que as pessoas esperam em um restaurante, mas sempre pelo meu jeito de olhar. Tenho que entender o público e em cima disso imprimir a minha identidade. Cada vez mais faço isso. São só 45 dias, não posso errar”, comenta.


Onildo também teve que encontrar o equilíbrio entre o seu impulso criativo (que busca novidades) e o desejo do público (que quer comer de novo seus pratos preferidos). Então, fez o seguinte: eliminou itens que as pessoas queriam muito que continuassem, mas, ao mesmo tempo, incluiu outras criações, por acreditar que os frequentadores precisam provar sabores diferentes.

 

De frente para o mar


Na linha dos frutos do mar, a tapioca suflada com camarão e emulsão de abacate e a panelinha de camarão ao alho com aioli, páprica e focaccia se mantiveram. Por outro lado, chegaram a mini tartelete crocante com vinagrete de polvo e furikake de castanha de caju, o mini bao de camarão com maionese de limão, gengibre e cebolinha e o tartar de atum com creme de abacate, molho ponzu de galinha caipira e pipoca de sagu. O aclamado arroz de polvo não saiu do cardápio, que agora conta com o risoto de beterraba com queijo de cabra, vieiras grelhadas e salsa cítrica de ervas.


Outra novidade é o peixe ao molho de moqueca com vinagrete de pimenta-biquinho tostada e abará (massa de feijão-fradinho, azeite de dendê e camarão seco embrulhada em folha de bananeira e cozida no vapor). Essa é uma receita baiana, que, combinada com os sabores da moqueca, nos levam para as areias da Bahia.

 


O filé de sol (carne curada no sal) com roti de rapadura e mousseline de macaxeira, que está desde a primeira temporada, desponta como o prato mais vendido. Mas Onildo compartilha sua surpresa e felicidade ao saber que o medalhão de cabrito de leite com demi-glace e mil-folhas de batata está com ótima saída. “Todo mundo torcia o nariz para o cabrito, mas ele fez sucesso no ano passado e, nos primeiros dias dessa temporada, já está sendo o segundo prato mais pedido”, comemora.


Quem já conhece o cardápio deve estar se perguntando: e a torta de limão? Sim, pode ficar tranquilo, a icônica sobremesa em formato de limão, com mousse e ganache de limão, não poderia ficar de fora. Virou um ícone do restaurante. Se quiser outras opções doces, dê uma chance para o pudim de leite com tuile de amendoim e o bolo de chocolate com calda de chocolate.

 

Vista panorâmica


Outro veterano é o bar Jângalito Drinkeria, que participa pela segunda vez da mostra e ocupa parte do terraço do prédio, já no fim do percurso. Projeto do arquiteto Junior Piacesi, o espaço não tem paredes, apenas teto, valorizando a vista panorâmica para as montanhas de Minas, com direito a um lindo pôr do sol no cair da tarde.

 

Seis arquitetos brasileiros inspiraram a criação de seis drinques do bar Jângalito, entre eles o 'Lina', com gim, espumante, aperitivo italiano e shurb de acerola com cumaru

Bruno Werneck/Divulgação


“A Casacor é um evento que faz parte do calendário de BH e tem um fluxo muito interessante de pessoas. Estamos em várias regiões da cidade, mas ainda tem muita gente que não nos conhece, e essa é uma oportunidade de mostrar a marca”, aponta o sócio André Panerai. Referência em coquetelaria, o bar criou um cardápio com tira-gostos para acompanhar os drinques, como barquete de bacalhau e terrine de ricota e cream cheese ao pesto com chips de beterraba, provolone e inhame.


Cibele Guimarães, conhecida como Jezebel, entrou em cena para assinar a carta de drinques autorais. A mixologista estudou a vida e a obra de seis nomes da arquitetura brasileira, que são homenageados com suas criações. “Quando me fizeram o convite, a primeira coisa que me veio à cabeça foi a beleza da arquitetura. Pensei muito no visual, os copos foram selecionados a dedo e tentei buscar vários nichos de sabor para agradar o público, que é bem diverso”, destaca.


O “Lina”, em referência a Lina Bo Bardi, apresenta bem a sua coquetelaria. “Gosto de trabalhar com produtos além do que o sacolão oferece e fazer infusão.” O gim infusinado em folha de pitangueira se junta a espumante, aperitivo italiano (a arquiteta nasceu em Roma) e shrub de acerola com cumaru. Segundo ela, o modernismo de Lina se reflete no resgate de uma técnica antiga, o shrub, tipo de xarope com vinagre que entrega acidez. Destaque para a elegância da cereja que repousa na folha de pitangueira.

 

Das curvas ao concreto


O que Oscar Niemeyer beberia? A resposta de Jezebel está no drinque “Oscar”, com destilado de uva, xarope de banana e aperitivo com toque de amargor e ervas. A criadora chama a atenção para a folha de bananeira na decoração, que lembra as linhas das obras do arquiteto. Já o “Mendes da Rocha” (veja a receita no fim da matéria), à base de cachaça, suco de abacaxi com tomilho, xarope de rapadura e suco de limão taihi, exalta o concretismo de Paulo Mendes da Rocha ao ser tingido de preto. A espuma, feita com o próprio abacaxi batido, é cinza.

 


De olho na tendência dos drinques com baixo teor alcoólico e sem álcool, a mixologista criou o “Piacesi”, em homenagem ao arquiteto que projetou o bar. A mistura gaseificada de quatro frutas amarelas – suco de maracujá, suco de manga e xarope sem açúcar de pêssego e damasco – ganha um toque de curry (outra marca de Jezebel é o uso de temperos).


Falando nisso, ela avisa que o seu famoso Bloody Mary, com vodca e suco de tomate, considerado um dos melhores da cidade, também está no cardápio. “A minha receita leva todos os ingredientes, mas em proporções diferentes. Consegui encontrar o equilíbrio.”

 

Brinde com vinho


Já era um desejo antigo da Casacor ter um bar de vinhos, e ele chegou com ninguém menos que o Cabernet Butiquim, que trouxe essa proposta para BH há nove anos. Batizado de Bar de Vidro, por ter um enorme balcão e prateleiras nesse material, o ambiente é uma criação da dupla da Balsa Arquitetura, Sarah Floresta e Paulo Augusto.

 

Desafiada a não trabalhar com frituras, a cozinha do Cabernet Butiquim chegou à mini moranga com camarão e requeijão

Fred Oliveira/Divulgação


“Eles nunca tinham feito wine bar e, quando resolveram fazer, logo pensaram na gente. Mas, nesses primeiros dias, já deu para perceber que a marca está extrapolando os limites do vinho e sendo associada à ideia de bar de uma forma um pouco mais ampla”, comenta o sócio Pablo Teixeira.


No cardápio, uma seleção de 50 rótulos, incluindo espumante, laranja, branco, rosé, tinto, jerez e vinho do Porto. Algumas opções são vendidas na taça, pensando em quem quer fazer uma pausa rápida e continuar o circuito. Tem também seis sugestões de drinques, todos feitos com vinho. Entre eles, Negroni Sbagliato (espumante), New York Sour (tinto), Jerezana (jerez) e Portônica (vinho do Porto).


O desafio da cozinha era não trabalhar com nem uma fritura. Isso só aguçou a criatividade da chef Jana Barrozo. O cardápio tem basicamente só petiscos para compartilhar e a menção honrosa vai para a inusitada kafta de camarão com alho-poró, queijo minas e maionese. Destacam-se também a polenta cremosa com ovo mole, ragu de cogumelos e agrião e a bruschetta de ragu de linguiça com ovo poché e crispy de basílico. Se quiser sanduíche, uma boa pedida é o de parma com burrata, molho romesco de ervas, tomate e rúcula.


Pausa para o café


No meio do percurso, logo que se chega ao segundo andar, salta aos olhos uma convidativa mensagem: “um bom café muda tudo”. Ela resume a proposta do Elisa Café e Torrefação, que tem uma unidade na Savassi e faz sua estreia na Casacor. A intenção é ser um ponto de parada para quem quer tomar um café e também saber mais sobre os grãos especiais.


O ambiente, assinado pela arquiteta Roziane Faleiro, funciona como cafeteria, loja e espaço de conhecimento. “A área interna tem uma mesa comunitária com oito cadeiras como se fosse na sala de casa ou na cozinha. Ficou aconchegante e informal ao mesmo tempo. Enquanto estamos preparando o café no balcão, temos a oportunidade de conversar com os clientes e vejo que as pessoas estão abertas, interessadas no assunto”, descreve a fundadora da marca, Ana Elisa Saldanha.

 

O estreante Elisa Café funciona como cafeteria, loja e espaço de conhecimento: 'Vejo que as pessoas estão interessadas no assunto', diz Ana Elisa Saldanha

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


A cafeteria seleciona semanalmente sete grãos para o café coado na hora. Alguns são exclusivos da unidade da Casacor, como o da Fazenda Bioma, que ganhou prêmio como melhor café da região do Cerrado Mineiro. É da variedade arara, tem notas de chá e baixa acidez. Nas próximas semanas, serão lançados dois lotes especiais da Fazenda Daterra, que fica na mesma região, sendo um fermentado e outro naturalmente quase sem cafeína.


Na categoria espresso, dá para tomar a bebida sozinha ou em misturas, que vão desde o tradicional cappuccino até o menos conhecido flat white. “Parece cappuccino, mas ele tem o dobro de espresso e menos espuma, então você sente mais café do que leite”, explica. O cardápio avança para as bebidas geladas, como o espresso tônica e o spanish latte, café com leite adoçado com leite condensado. “De espanhol não tem nada. Descobri essa bebida na Arábia Saudita e achei deliciosa, super refrescante.” Até drinque (negroni e martini) com café tem.


Para acompanhar os cafés, receitas como a torta Caprese, carro-chefe da casa, inspirado na Ilha de Capri, com farinha de amêndoa, chocolate branco e limão siciliano; bolo de fubá com queijo; o biscoito de queijo da mãe de Ana; cookie de chocolate, pão de canela e croissant com queijo. A cafeteria usa o forno da bancada para assar alguns produtos e atrair o público também pelo cheiro.


Os visitantes ainda podem conhecer novos equipamentos – como a mini máquina italiana de espresso, ideal para uso doméstico, e o método Gina, que faz café coado, infusionado e cold brew – e participar de workshops, com venda antecipada de ingressos, que dão direito à visitação da Casacor. Entre os temas, “Como melhorar seu café coado em casa” e “Matcha experience”. Nesse encontro, a especialista Paula Batista vai mostrar como funciona a cerimônia do chá no Japão. Os chás também estão no cardápio da cafeteria.

 

Em vários momentos


O bufê Célia Soutto Mayor tem uma parceria antiga com a Casacor, mas, dessa vez, apresenta um formato inédito, o Café Mayor, que reúne toda a diversidade do seu cardápio de eventos, que vai do salgadinho ao prato principal, chegando às tortas e docinhos. Por isso, consegue ser bem abrangente, atendendo desde o momento do café até refeições. A diretora Patrícia Soutto Mayor fala em cafeteria e confeitaria que serve almoço e jantar.


“Temos um nome muito conhecido, já tivemos lojas em outros shoppings, então, muita gente, quando vê escrito Célia Soutto Mayor, entra e fala que estava com saudades, fica feliz que voltamos. Para nós está sendo muito importante ver a extensão da marca no mercado”, comenta Patrícia, herdeira de uma história que já tem 54 anos, admitindo que existe a possibilidade de se fixar no local, apesar de achar que ações pontuais como essa são mais interessantes.

 

O bufê Célia Soutto Mayor serve no seu espaço, o Café Mayor, docinhos de festas, incluindo o canoli de chocolate com castanha

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


O café – projetado pelos arquitetos Gabriela Brasil, Marlon Junior e Pedro Melo – fica em destaque, ao lado da bilheteria, e a entrada não depende da compra de ingresso para a mostra (assim como no restaurante O Chef e o Cabra).


Na seção de entradas para compartilhar, são campeãs de vendas as porções de coxinha de frango com catupiri e camarão empanado com catupiri. “Fomos muito felizes na escolha do cardápio. Acho que pessoas estão muito ligadas a coisas que trazem memória afetiva, que remetem a boas lembranças.” Isso ajuda a explicar o sucesso de docinhos como brigadeiro e bombom de nozes. O novo também agrada, baseando-se na boa saída da nuvem (crocante de arroz) com tartar de salmão e crispy de alho-poró e o triângulo de palmito ao molho de aceto balsâmico.

 


Avançando no cardápio, encontramos itens para uma refeição mais reforçada, como a salada caesar com mix de folhas, morangos, croutons de queijo brie e vinagrete de morango, a tostada de figo com cebola caramelizada e a torta de mandioca com azeite de nozes. Há, ainda, três pratos principais: arroz de pato, lascas de bacalhau à moda mediterrânea com batatas ao murro e rosbife salteado com cogumelo paris e arroz cremoso com queijo brie.


Por fim, Patrícia destaca sobremesas lançadas para o café, entre elas a torta de chocolate com caramelo salgado, a cheesecake de frutas vermelhas e mini bolo banana com calda de doce de leite. Completam o cardápio mais opções de docinhos do bufê, incluindo cocada cremosa com calda de laranja, raspinha de maracujá e canoli de limão com pistache.

 

Anote a receita do drinque “Mendes da Rocha”

A criação é da mixologista Cibele Guimarães, que assina a carta de drinques autorais do bar Jângalito Drinkeria


Ingredientes

  • 40ml de cachaça três madeiras
  • 150 de suco fresco de abacaxi com tomilho
  • 15 ml de xarope de rapadura
  • 10ml de suco de limão tahiti
  • 5ml de goma nero
  • 1 cubo de abacaxi maçaricado com açúcar
  • 1 ramo de tomilho

Modo de fazer

  • Coloque a cachaça, o suco de abacaxi, o xarope de rapadura, o suco de limão e a goma nero na coqueteleira com gelo.
  • Bata vigorosamente para obter a espuma do abacaxi.
  • Transfira para a taça previamente gelada, fazendo coagem simples.
  • Decore com espetinho de abacaxi e tomilho.


Serviço


29ª Casacor Minas Gerais
Data: até 15 de setembro
Endereço: Espaço 356 (Rua Adriano Chaves e Matos, 100 – Olhos D’água)
Horário de funcionamento: de terça a sexta, das 14h às 21h; sábado, das 12h às 21h; domingo, das 12h às 19h
Ingressos: de terça a sexta (R$ 80 inteira e R$ 40 meia); sábados, domingos e feriados (R$ 90 inteira e R$ 45 meia)
Informações: www.casacor.com.br


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