Nos últimos anos, o mercado de bebidas tem testemunhado uma mudança na maneira como os produtos são embalados e apresentados aos consumidores. Se antes o vidro e as garrafas plásticas dominavam esse cenário, agora as latas estão ganhando cada vez mais espaço.


A mudança para as latas não é só uma questão de estética ou conveniência, mas também de estratégia de mercado, já que esse tipo de embalagem oferece benefícios como melhor conservação e maior praticidade. Bebidas que eram exclusivamente encontradas em garrafas, como vinhos, águas e cachaças, agora são comercializadas em latas.

 




Essa transição não reflete apenas uma mudança nas preferências do cliente, mas também indica uma adaptação do setor para atender à demanda por conveniência e sustentabilidade.


Como explica o presidente-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), Cátilo Cândido, essa embalagem para bebidas é a mais sustentável de todas. “Para se ter uma ideia, o índice de reciclagem está acima de 95% há mais de 15 anos, evitando a emissão de 16 milhões de toneladas de gases de efeito estufa”, conta.

 

'As latas se adequam muito bem à rotina do brasileiro, oferecendo uma combinação perfeita de sustentabilidade e praticidade, que conquista o consumidor moderno e atento às novidades' - Cátilo Cândido, presidente-executivo da Abralatas

Abralatas/Divulgação
 


A lata de alumínio se mostra mais vantajosa por diversos aspectos: gela mais rápido, é leve, prática e segura, sendo possível levá-la a qualquer lugar, como eventos a céu aberto, shows, espetáculos, praia ou piscina, além de possibilitar o consumo individual.

 

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“Nosso clima e nossa vocação natural para esses eventos são um grande chamariz para o consumo das bebidas em lata. Elas se adequam muito bem à rotina do brasileiro, oferecendo uma combinação perfeita de sustentabilidade e praticidade, que conquista o consumidor moderno e atento às novidades. Além disso, são uma garantia de preservação do sabor das bebidas”, explica Cátilo.

 

Liberdade de consumo


Bebidas que antes eram vistas apenas em garrafas, como espumante, agora também podem ser encontradas em latas, como mostra Cassiana Schiavon, uma das sócias da belo-horizontina Like Wine. A empresa, que começou em 2021, tem o compromisso de entregar liberdade de consumo, sem perder a elegância do produto.

 

A lata escolhida pela Like Wine possui uma película interna que mantém e preserva as propriedades dos espumantes

Like Wine/Divulgação
 


“O Brasil é um paraíso muito promissor para o espumante, já que é festivo e tem clima tropical, tudo que combina com uma bebida para ser consumida gelada”, comenta. Além da praticidade, a lata escolhida pela marca possui uma película interna que mantém e preserva as propriedades do vinho, sem depender da sazonalidade das uvas.


Hoje, quatro rótulos compõem a marca: Tokyo (espumante brut rosé com as uvas Chardonnay e Pinot Noir e frutas vermelhas); Ibiza (espumante brut branco com a uva Chardonnay e frutas cítricas); Istambul (espumante branco moscatel com uvas Moscato, mel e lichia) e Vegas (espumante moscatel rosé com a uva Moscato, pêssego e damasco). “Nós temos outras bebidas para serem lançadas até o fim do ano”, revela Cassiana.

 


Em 2024, a Like Wine se tornou parte da Laüt, que deixou de ser uma cervejaria e passou a ser um grupo de bebidas.


Alternativa ao vidro


O fundador da marca paulistana Somm Vinhos, Diogo Cortez, relembra que o mercado de bebidas em lata começou com cerveja anos atrás: “Era algo incomum para a maioria das pessoas e foi evoluindo.” Para o empresário, a crescente popularidade das latas como embalagem para bebidas, incluindo vinhos, se dá por serem mais baratas e mais disponíveis do que o vidro, que tem custos altos e limitações de retorno.


As embalagens de alumínio têm uma alta taxa de reciclabilidade no Brasil, tornando-se uma opção ambientalmente favorável. Além disso, as latas protegem as bebidas da luz, evitando danos à qualidade, ao contrário do vidro, que pode permitir a troca com o ambiente. “Outra vantagem para as bebidas é a questão de você conseguir gelar bem mais rápido, tendo em mente que o brasileiro tem uma tendência de tomar as bebidas mais geladas para o nosso clima quente”, conta.

 


Diogo explica que os vinhos têm um PH muito baixo, então a tecnologia evoluiu ao ponto de as latas terem uma proteção interna para receber outros líquidos além da famosa cerveja. “Quando eu olho do ponto de vista da indústria, a vantagem é ter uma embalagem de custo menor e em vários tamanhos, sendo mais acessível para o consumidor”, diz.


A única desvantagem, na visão do criador da Somm, é não conseguir ver o líquido. “A percepção dos consumidores é de que o líquido na garrafa é melhor do que na lata. E o vinho é uma categoria um pouco mais difícil nesse sentido, por ser mais tradicional. Mas a verdade é que é muito mais fácil encontrar defeitos na garrafa por ter essa troca de luz com o ambiente”, alerta.

 

Frustração no supermercado


A Somm surgiu de uma ida frustrada de Diogo ao supermercado: “Tive uma extrema dificuldade para escolher um vinho, achei as embalagens grandes, os preços altos, fiquei meia hora na gôndola até conseguir comprar. No apartamento em que estava na época, não tinha abridor. Tive que pedir para o porteiro e, mesmo assim, ninguém tinha o aparelho para abrir a garrafa. Fiquei com isso na cabeça: por que não facilitar esse consumo?”


Depois de 13 anos trabalhando na gigante Ambev, o paulistano decidiu empreender, criando uma marca que representa a categoria de vinhos em lata. As bebidas podem ser encontradas em supermercados, mercados de condomínio, sites, bares, restaurantes e eventos.


 

A empresa trabalha com quatro tipos de vinho: tinto (Cabernet Franc e Syrah); branco (Pinot Grigio e Muscat); rosé (Cabernet Sauvignon e Grenache) e frisante (Muscat). “Nossos vinhos acabam tendo uma venda muito parecida. Tem as pessoas que gostam do vinho mais doce, as que gostam do tinto seco, algumas preferem o branco… Atendemos um público muito diverso”, conta.


Isso mostra, segundo Diogo, que as latas ajudam as pessoas a experimentar outros tipos de vinho: “O público passa a comprar bebidas que não compraria em uma garrafa inteira, mas para tomar uma taça funciona. A gente passa a trazer o vinho para uma frequência de consumo muito maior do que ele tem.”

 

Qualidade, sim


A sommelier de vinhos Natasha Gusmão esclarece que os vinhos enlatados ensinam ao consumidor que ele pode, sim, tomar um vinho de boa qualidade na medida de uma latinha. “Na Europa, é muito normal e habitual vinhos na lata ou em caixas (bag in box). No Brasil, já tem algum tempo que esses produtos entraram para o consumo, porém, numa escala menor, pois existe ainda um preconceito e um certo medo do desconhecido”, comenta.


Natasha explica que o brasileiro ainda tem apego à garrafa, mas a cada dia as latas vêm ganhando espaço em eventos, festivais e até mesmo na casa das pessoas. “As latas entram em locais onde as garrafas não são bem-vindas, como piscina, clubes etc, além de serem a medida certa de uma tacinha para aqueles que não querem abrir uma garrafa para tomar somente essa quantidade.”

 


Sobre a qualidade, a sommelier afirma que, normalmente, os vinhos em lata são produtos leves, que precisam ser descomplicados: “O vinho que está nessa proposta não tem passagem por barrica. É possível observar que a maioria das empresas que envasam o vinho na lata colocam uma proteção para que ele não tenha um contato direto com o alumínio, logo, a qualidade é impecável.”

 

Embalagem diferente, mesmo sabor

 

“Vejo a tendência da água em lata com bons olhos, pois dá a oportunidade ao consumidor de consumir a bebida da maneira que ele quiser.” É o que diz o sommelier de água Rodrigo Rezende.

 

'Com a tecnologia que temos hoje, as águas minerais naturais envasadas em PET, PET reciclado, Tetra Pak, vidro e lata chegam ao consumidor da mesma maneira como nascem' - Rodrigo Rezende, sommelier de água

Natália Diniz/Divulgação


No seu dia a dia, é muito comum ouvir a pergunta: o sabor muda? “Não, com a tecnologia que temos hoje, as águas minerais naturais envasadas em PET, PET reciclado, Tetra Pak, vidro e lata chegam ao consumidor da mesma maneira como nascem. Entretanto, temos que lembrar que, como são naturais e não têm conservantes, o armazenamento correto é fundamental”, esclarece.


O que isso significa? Os locais para armazenamento devem ser limpos, secos, ventilados, com temperatura adequada e protegidos da incidência direta da luz solar para evitar alterações. “A água não deve ser armazenada próxima aos produtos saneantes, defensivos agrícolas e outros produtos potencialmente tóxicos para evitar a contaminação ou impregnação de odores estranhos”, diz.

 

Benefícios ao meio ambiente


Para Rubem Cecchini, diretor da Águas Prata, em Águas da Prata, no interior de São Paulo, as latas de alumínio, assim como as garrafas em vidro, interferem menos no sabor da bebida: “Nossa marca tem uma completa linha de produtos que utilizam latas de alumínio, já que o processo como um todo se torna mais benéfico ao meio ambiente, uma questão importante para a empresa”.


Segundo Rubem, o consumo de bebidas enlatadas traz vantagens interessantes ao consumidor, já que a lata refrigera mais rápido que embalagens em vidro ou PET, além de agradar mais aos consumidores com maior compreensão de sustentabilidade e compromisso de reciclagem.

 

Mais fácil de transportar, armazenar, consumir e reciclar: a Águas Prata só enxerga vantagens no uso da lata

Águas Prata/Divulgação


“Esse formato também apresenta maior facilidade de manuseio e armazenamento, dando também maior segurança no uso pela resistência a quedas e impactos”, adiciona.


O sommelier de água Rodrigo Rezende acompanha com atenção essas mudanças no mercado, já que, mesmo sendo recicláveis, as latas de alumínio podem gerar problemas ambientais se forem descartadas da maneira incorreta.“As indústrias já perceberam que é fundamental colocar pontos estratégicos para incentivar as pessoas a descartar esses resíduos da maneira correta”, destaca.

 

Experiência atualizada


Para a diretora administrativa da cachaça Nova Aliança, Ana Paula Ramos, com sede na cidade mineira de Salinas, no Norte de Minas, a inovação de levar a bebida para a lata é um passo estratégico para ampliar a presença no mercado e oferecer uma experiência moderna aos clientes.


“Tradicionalmente, a cachaça é apresentada em garrafas de vidro, o que, embora elegante, pode não ser a opção mais prática para todas as ocasiões. A introdução de nossa cachaça em latas visa oferecer uma solução mais conveniente, perfeita para eventos ao ar livre, festas e viagens”. Isso ocorre porque as latas são leves, resistentes e fáceis de transportar, o que se alinha com o estilo de vida dinâmico dos consumidores atuais.

 

Ao levar o destilado para a lata, a Nova Aliança oferece uma solução mais conveniente para eventos ao ar livre, festas e viagens

Nova Aliança/Divulgação


Outra inovação que promete transformar a forma como os clientes da marca desfrutam da cachaça é o lançamento da nova bebida mista pronta em lata.


“A bebida mista combina a autenticidade e a qualidade da nossa cachaça com uma mistura cuidadosamente selecionada de ingredientes, criando um coquetel delicioso e pronto para beber. A embalagem em lata não só oferece uma conveniência incomparável, mas também garante a preservação ideal do sabor e frescor, sem comprometer a qualidade”, assegura Ana Paula.

 

Tendência já consolidada


“É inegável que a embalagem em lata é uma tendência que já se consolidou no universo das bebidas em geral”, afirma Marcelo Brandão, sommelier de cachaça e diretor da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) em Minas Gerais.


Algumas formas de destilados já são encontradas em lata justamente para atender ao perfil do consumidor moderno. Marcelo acredita que, com a cachaça, especialmente, a cachaça de alambique, não será diferente: “Até porque a lata possibilita o acesso de um público novo que busca qualidade e não quantidade. Na Feira Expocachaça 2024, por exemplo, evento que é uma vitrine para o setor, pude observar que alguns produtores já estão disponibilizando suas bebidas em lata”.


O diretor da ABS comenta que a diversidade de tamanhos (269ml, 355ml e 473 ml) é outro facilitador, além da questão da sustentabilidade.


Do ponto de vista sensorial, como qualquer outra embalagem, o cuidado com o armazenamento e a temperatura é fundamental para manter a qualidade da cachaça enlatada. “Armazenada em ambiente adequado, sem alterações de temperatura, a lata não altera o aroma ou o sabor da bebida”, esclarece.

 

 

Serviço


Like Wine
(31) 98492-2628
@likewinebr

Somm
(11) 94753-1075
@sommvinhosbr

Águas Prata
(19) 3642-9310
@aguasprata

Cachaça Nova Aliança
(38) 3841-1347
@cachacanovaalianca

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino

 

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