Minas Gerais é reconhecida como o berço do café no Brasil, onde a tradição de produzir uma das iguarias mais apreciadas do mundo atravessa gerações. Mas será que você sabe diferenciar os variados tipos de cafés mineiros? Com uma diversidade que vai desde os aromas mais suaves e delicados até os sabores intensos e marcantes, cada região do estado revela particularidades únicas em sua produção.

 



 

Helga Andrade, consultora e educadora com 14 anos de atuação no mercado de cafés especiais, explica a fama do estado: "Se Minas fosse um país produtor, seria o maior do mundo, visto que aqui é produzida uma grande parte do café brasileiro".


Segundo ela, o tipo Arabica se deu muito bem no estado, teve uma boa implementação e se tornou importante para a economia e para a cultura do mineiro. "Tanto que o café coado é considerado um elemento da nossa gastronomia. Está sempre à mesa, em todas as refeições, desde o café da manhã ou finalizando o almoço e o jantar. A gente até usa o café para poder nomear essas refeições!", reflete Helga. O grão também é símbolo de afetividade e hospitalidade, características associadas à cultura mineira.

 

Com o cenário de aquecimento global e mudanças climáticas, certas regiões que antes eram aptas ao cultivo de café Arabica, como as do Leste e Nordeste de Minas, onde a altitude é mais baixa e as temperaturas mais altas, têm investido no plantio da espécie 'Canephora', que são os conilons e os robustas. "Recentemente, outros estados, como Espírito Santo, Rondônia e Acre, começaram a se destacar nesses tipos, o que animou os produtores mineiros a testarem também", completa. 

 

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Cafés registrados

 

No Brasil inteiro, são 36 regiões catalogadas produtoras das espécies Arabica e Canephora. Dessas, 10 estão no estado de Minas Gerais. Algumas são marcas coletivas conhecidas e estão se destacando pela produção, mas outras deram um passo além: "Elas registraram junto ao INPI (Instituto Nacional de Patentes e Registros de Marca) o nome da sua região como a única na produção do seu café. Essas regiões são chamadas de indicações geográficas (IGs)".

 

Helga Andrade já foi consultora da ONU Mulheres para o agronegócio café

Helga Café/Divulgação

 

Esse registro de IG pode ser usado para vários produtos, como vinho, cachaça e queijo. "No café, essa ideia de indicação geográfica é muito forte. Em Minas, temos 14 regiões demarcadas como IGs. Também temos partes do estado registradas como 'Indicação de Procedência' (IP), que garantem o registro de que há uma tradição na produção daquele café, com um reconhecimento de que tem envolvimento da comunidade ao longo de gerações".

 

 

Além dessas, o estado possui outras três regiões - Mantiqueira de Minas, Cerrado Mineiro e Café da Canastra - com selo de denominação de origem (DO). Além das DOs terem um registro histórico, elas passam por pesquisas feitas por especialistas sobre a análise sensorial do produto. O registro no INPI enumera as características do café, tanto em relação à localidade quanto do ponto de vista sensorial.


"Saber fazer"

 

Antes de existirem processos pós-colheita modernos, o café dependia do clima e de como as condições do meio ambiente iriam afetar a produção. “Hoje, temos um elemento que é o ‘saber fazer’ dos produtores. A cada vez que o produtor melhora os processos produtivos, ele ganha novas possibilidades de aromas e sabores. Então, é mais difícil provar um café às cegas e ter certeza de que aquele café é da região A ou B por conta disso”, explica.

 

A especialista acrescenta que três questões - escolha do material genético, ambiente e trabalho das pessoas que estão envolvidas na produção - dão origem ao sabor do café, e essa combinação é infinita.

 

Diferentes regiões 

 

Helga conta que algumas características podem ser usadas para diferenciar as regiões. Em geral, cafés das regiões mais montanhosas, como a Mantiqueira de Minas, são de maior densidade, costumam ter uma maturação mais lenta e acabam atingindo perfis sensoriais diferentes.

 

 

Já os cafés do Cerrado Mineiro, historicamente, são muito doces, encorpados e com uma acidez mais equilibrada. Os da região leste do estado, onde estão as Matas de Minas, têm um tipo de acidez que lembra a rapadura, com notas mais frutadas e florais.


O resultado final, na xícara, depende não só da região onde o café é produzido, mas da variedade de grãos que o produtor utiliza e como ele faz esse processamento - se fermenta, descasca etc. Tudo pode modificar o sensorial. "Devemos buscar conhecer a história do café, ter consciência de qual é a origem dele. O café é uma bebida muito diversa, assim como o vinho, então também terá todas essas influências", pontua Helga.


 

Os tipos de cafés

 

Minas Gerais possui 10 regiões produtoras de café. Apesar de ser difícil definir com certeza os tipos de cada local, cada uma delas possui características únicas, tanto do ponto de vista dos grãos quanto do perfil sensorial da bebida final. As informações a seguir são da especialista em cafés especiais Helga Andrade e do Sindicato da Indústria de Café do estado de Minas Gerais (SinfiCafé-MG).


Sul de Minas
É, isoladamente, a maior região produtora de cafés do Brasil. É uma tradicional área de produção de café arábica há mais de um século. A maior parte da iguaria dessa região é processada por via natural. São classificados como mole ou estritamente mole, encorpados com pouca acidez e um sabor doce característico. 

 

Mantiqueira de Minas (DO)
A região, que busca ser um polo de entretenimento e prazer para todos os consumidores, produz cafés que possuem predominantemente notas cítricas, florais e frutadas, além de corpo cremoso e denso, acidez cítrica com intensidade média/alta, doçura evidente e finalização longa.

 

Chapada de Minas
De todas as regiões produtoras, o café tem aqui sua maior importância para o produtor de pequeno porte e para a economia local, porque trouxe benefícios econômicos a uma região altamente carente de oportunidades de emprego. Embora a maioria do café seja processado por via natural, os melhores são despolpados produzidos em fazendas grandes, que revelam notas sensoriais licorosas, lembrando frutas vermelhas, como a amora. Além disso, o cultivo de café cereja descascado vem crescendo como uma alternativa interessante.   

 

Matas de Minas (IP)
O perfil de sabor dos cafés arábicas está intimamente ligado à altitude. O café plantado em altitudes mais baixas e no fundo dos vales sofre um processo de fermentação no pé. Esse processo gera grãos altamente valorizados nos países do Oriente Médio e partes do Mediterrâneo. Na região do Caparaó, são encontrados cafés com notas de frutas, frescas e ácidas, além de muita doçura de rapadura, melaço e mel.


Montanhas de Minas
O café das Montanhas de Minas pode se confundir com o das Matas de Minas. Por também estar ligado à altitude dessa região, os cafés são mais frutados, com uma doçura própria, relembrando o sabor de mel.

 

Norte e Noroeste de Minas
Perto da Chapada de Minas, os cafés são cada vez mais doces e têm uma finalização curta e seca. Este local tem recebido mais investimento e melhorado cada vez a qualidade dos seus cafés, com algumas variedades no tipo de grão. 


Cerrado Mineiro (DO)
O padrão climático desta região é singular e ajuda a produzir excelente café arábica processado por via natural. A florada é concentrada, o amadurecimento é uniforme e é acompanhado por bastante luminosidade, ajudando a fixar aroma e doçura. São caracterizados pela bebida fina, corpo forte e excelentes aroma e doçura, considerados como um ingrediente chave de muitos blends (ligas) de café espresso.


Campo das Vertentes (IP)
Localizado no coração de Minas Gerais, situa-se entre duas bacias hidrográficas geográficas, proporcionando-lhe um solo rico e fértil que historicamente o tornou perfeito para a agricultura, com plantação de café arábica, doce e com aroma diferenciado. O selo de Indicação de Procedência (IP) do INPI garante a origem do café e coloca o território como o terceiro maior no estado. O perfil de sabor "clássico" seria o de um café com corpo e aroma cremosos, sabor marcante de chocolate e notas frutadas.


Sudoeste de Minas (IP)
O sabor doce com notas de caramelo, chocolate e nozes, além da acidez cítrica e corpo denso com finalização prolongada, são as principais características do café produzido na região. É cultivado com temperaturas anuais entre 5°C e 28°C, que favorece o desenvolvimento da cafeicultura de alta qualidade. Essas características do café, aliadas aos fatores ambientais e o modo de produção, foram essenciais para o reconhecimento da região pelo INPI, sendo um marco para a valorização do produto e a possibilidade de expansão para novos mercados.


Café da Canastra (DO)
Na Canastra, os cafés têm acidez mais alta, com corpo e doçura médios. Além disso, por se aproximar do Sul, também trazem notas florais e de ervas, como capim-limão, variedade que acaba mudando em algumas regiões.


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*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino

 

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