Cinema e gastronomia se unem pela terceira vez no Matula Film Festival, que será realizado neste fim de semana (9 e 10 de novembro) no Terraço do Cine Theatro Brasil Vallourec, Centro de Belo Horizonte. A programação gratuita combina exibição de filmes, palestras e oficinas, oferecendo uma verdadeira imersão nos sabores e histórias da culinária popular.
Para esta terceira edição, o festival apresenta a tradição dos botequins, dos botecos, das feiras e das barracas e trailers de rua, que compõem o cenário contemporâneo da alimentação e da gastronomia. A partir da temática "Comida Popular", o projeto discute a importância das diversas linguagens da cozinha, da comida e do ordenamento social e cultural das cidades, a começar com a capital mineira.
"O poder do Matula é esse: não ser só entretenimento, mas um espaço reflexivo sobre nossa cultura alimentar, de memória, preservação, resistência e valorização dessa cultura alimentar", completa a produtora e diretora do festival, Daniela Fernandes.
Lembranças da avó
A ideia do Matula surgiu no início da pandemia, quando Daniela ficou doente: "Lembrava muito que a minha avó, que não está mais aqui, mandava uma matula, uma espécie de merenda, toda vez que a gente ficava doente. Ela fazia uma matulinha com frango desfiado, arroz e fubá, amarrava no pano de prato e mandava para a gente, falando: 'Toma essa matula para te fazer bem'. Depois disso, sempre pensava 'Nossa, se eu tivesse com a matula da minha avó, eu poderia ficar boa agora', então surgiu o pensamento da comida ser algo que pode te salvar nos piores momentos".
A idealizadora define matula como "qualquer objeto que leva a comida para passear". No ano passado, o evento ocorreu no Mercado Novo: "Foi uma experiência super interessante, estimular o consumo local e assistir filme comendo, não só pipoca, e sim outros tipos de comida. Dessa vez, a gente está montando uma sala de cinema e uma feirinha, estimulando esses produtores locais e valorizando essa cultura alimentar do estado".
O projeto está alcançando destinos internacionais, levando a comida mineira para fora do país. "No ano passado, tivemos exibições em Los Angeles e Miami, em parceria com a Embratur, e recentemente recebemos uma carta de convite da Espanha. Vamos fazer uma sessão dedicada às Cidades Criativas da Gastronomia - UNESCO e quatro cidades serão exibidas nas nossas telas: Bergamo (Itália), Portoviejo (Equador), Popayán (Colômbia) e Kermanshah (Irã). Essa junção da gastronomia com o audiovisual é estratégica e uma forma potente de divulgar um lado tão forte da comida mineira e a nossa comida popular", diz Fernandes.
Cultura de boteco
Em 2024, o festival presta homenagem a dois grandes nomes da cultura gastronômica de boteco. O primeiro é o "Baixa Gastronomia", projeto criado pelo jornalista Nenel Neto, que se consolidou como um dos maiores promotores da cultura de bares e botecos no Brasil. O festival lançará o Guia da Baixa Gastronomia e realizará um Tour Gastronômico durante a madrugada, com Nenel guiando o público por alguns dos bares mais icônicos de Belo Horizonte.
"Estou muito honrado por ser homenageado por um festival que eu tanto admiro e que une duas paixões, de muitas pessoas: o cinema e a gastronomia. Só posso agradecer, sei que é uma produção muito séria e a expectativa está alta", conta Nenel, que também fez a curadoria da Feirinha Gastronômica.
Oito produtores convidados estarão disponíveis durante todo o evento com comidinhas. São eles: Bar do Vale (torresminho pipoca), Boteco Nada Contra (pastel de pernil e provolone), Prazer da Esfiha (esfirra de carne), Bar do Marcão (jiló com parmesão), Ivans Bar (bolinho de carne empanado), Baixa Comidaria (acepipes), Feijão Maletta (pão com linguiça) e Massa 100 (churros de Doce de Leite).
Ponto de encontro
Outro homenageado é o tradicional "Café Nice", inaugurado em 1939 e localizado na Praça Sete, no coração de Belo Horizonte. Com sua rica história, o café é um ponto de encontro que atravessa gerações, conhecido por seu café coado, pão de queijo, creme de maisena com ameixa, frapê de coco e um ambiente acolhedor que remonta à nostalgia das décadas de 1940 e 1950.
A programação também traz nomes de peso para discutir a cultura gastronômica popular, como Simone Diniz, chef da Baixa Comidaria, com a oficina "Acepipes", na qual explora a culinária mineira raiz, colocando afeto e tradição em cada prato; Néli Pereira, pesquisadora e mixologista, que ministra a oficina "Bebidas de Boteco", compartilhando seu conhecimento sobre ingredientes brasileiros e sua relação com a coquetelaria nacional; e Luiz Antônio Simas, historiador e especialista em cultura popular, que conduzirá a palestra "Comida e Samba", abordando a relação entre a gastronomia e a música como expressões da cultura brasileira.
Além disso, o festival conta com a Exposição Fotográfica do sociólogo Eduardo Freitas, conhecido como Preá, que retrata botecos e biroscas de todo o Brasil. A exposição traz um olhar atento sobre esses ambientes que carregam memórias e afetividades de várias partes do país. Recentemente, ele esteve em BH, registrando os botecos da capital para uma exposição inédita.
Veja a programação
9 de novembro (Sábado)
10h – Oficina de Acepipes com Chef Simone Diniz
12h – Exibição 1: Sessão de Curtas
14h – Ciclo de Palestra 1: "Comida e Samba" com Luiz Antônio Simas
16h – Exibição 2: Sessão Abertura Longa - Bar Esperança (Dir. Hugo Carvana, 1983)
21h –Tour Gastronômico "Comida da Madrugada" com Nenel Neto (ingressos esgotados)
10 de novembro (Domingo)
10h – Exibição 3: UNESCO - Cidades Criativas da Gastronomia
11h – Exibição 4: Mostra Raízes Mineiras
13h – Oficina de Bebidas de Boteco com Néli Pereira
14h – Ciclo de Palestra 2: "A Boemia Resiste" com Nenel Neto e convidados
16h – Exibição 5: Encerramento Sessão Longa - Saideira (Dir. Pedro Arantes e Júlio Taubkin, 2024)
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SERVIÇO
Matula Film Festival 2024
Sábado e domingo (9 e 10 de novembro)
Terraço do Cine Theatro Brasil Vallourec - Avenida Amazonas, 315 - Centro
Entrada gratuita
Mais informações no site | @matulafilmfest
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino