No Brasil, o futebol não é apenas um esporte, mas, sim, uma paixão que move multidões e transmite histórias. Essa devoção nacional ultrapassa as arquibancadas e encontra espaços para vibrar, como os bares que se dedicam aos clubes. Há locais que carregam o DNA de um único time, decorados com relíquias como réplicas de taças históricas e fotografias icônicas. Outros adotam uma abordagem mais inclusiva, criando ambientes para várias torcidas, onde a rivalidade é vivida com respeito, mas sem perder a intensidade.


Em um ambiente onde camisas temáticas, bandeiras e cantos da torcida ecoam como em um estádio, esses bares transformam cada jogo em uma grande experiência coletiva, unindo fãs em torno das mesas e dos telões. Com transmissões ao vivo, decoração personalizada e cardápios que muitas vezes celebram a identidade dos clubes, são pontos de encontro para quem vive e respira futebol.

 




Mas como surgiram esses espaços? O que os torna tão especiais para as torcidas? A iniciativa de unir gastronomia, cultura e esporte está em vários bares em Belo Horizonte e da região metropolitana.

 

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No Bar do Salomão, conhecido por ser um acervo do Clube Atlético Mineiro, a história começou em 1931, com a vinda de Chamse Dauche e Jorge Abdalla da Síria para o Brasil em busca de uma melhor condição de vida. “Em 1945, eles passaram a morar na Serra, já com a família grande, tiveram nove filhos. Abriram um armazém na Rua do Ouro, endereço que se mantém até hoje”, conta Karla Jorge, neta do casal.


Em 1953, Salomão Jorge, com 20 anos, assumiu junto com a mãe o armazém, que passou a funcionar também como bar. Karla, sua filha, explica: “Aos poucos, o armazém foi se desfazendo, restando somente o funcionamento do bar. Como o Salomão, meu pai, ficou como proprietário, o bar passou a ser conhecido pelo nome dele na vizinhança.”

 

O Bar do Salomão reúne a torcida atleticana no Bairro Serra

Marcos Vieira/EM/D.A Press
 


Cativando as pessoas, o empreendedor manteve o bar por todos esses anos e criou uma amizade entre os fregueses, que tinham a sensação de fazer parte de uma grande família. “Vários temas eram motivos para os encontros, mas o futebol sempre foi o preferido”, relata Karla.


Além da família, o Atlético era uma grande paixão de Salomão. “Ele colecionava quadros (atualmente, o negócio conta com mais de 60), faixas, tudo que envolvia o time”, conta sua filha. Em 1995, o antigo dono se aposentou e passou a direção do bar para o filho, com quem compartilha o nome. Dessa forma, o Bar do Salomão já passou por três gerações: pai, filho e agora neto.

 


Também atleticano “doente”, Salomão filho sabe manter a freguesia do pai e cativa novos frequentadores, herdando a habilidade da família de receber diversos tipos de pessoas. “O futebol é realmente o grande atrativo, junto com os quitutes feitos pela nossa mãe, com a ajuda dos outros filhos, como canjiquinha, bolinho de feijão e a feijoada”, diz.

 

Salgados na estufa


Todos os jogos de todos os campeonatos são transmitidos no bar, que é ponto de encontro da torcida atleticana. Os pratos preferidos dos torcedores são a famosa carne cozida e o bolinho de carne, por ser uma porção individual. “Temos uma estufa com vários salgados, quibe, bolinho de feijão, moela, língua, enfim, comida de boteco! Por conta disso, já participamos dos festivais Comida di Buteco e Botecar.”


Algumas pessoas historicamente importantes já marcaram presença no Bar do Salomão, como Juscelino Kubitschek (na época governador de Minas Gerais), Telê Santana e Reinaldo.


Em abril de 2002, o Atlético prestou uma homenagem para Salomão Jorge (pai), com a presença do presidente Ricardo Guimarães e algumas pessoas do clube, que entregaram uma flâmula, uma camisa e um quadro, agradecendo a sua fidelidade ao time. Para Karla, esse momento significou muito: “A homenagem foi marcante para nós porque, em maio deste mesmo ano, meu pai faleceu.”

 

“Templo sagrado”


Enquanto isso, o Território do Galo, localizado ao lado da Arena MRV, é fruto da paixão do ator Daniel de Oliveira pelo time. “É uma ideia que se tornou realidade. No dia 11/11/23, às 13 horas e 13 minutos, o Território abriu as portas pela primeira vez e, desde então, não é só um bar: é o templo sagrado do torcedor atleticano”, destaca Letícia Xavier, analista de marketing do negócio.

 

Até os drinques são temáticos no Território do Galo, que fica ao lado da Arena MRV

Lucas Tyto/Divulgação


Todos os ambientes são decorados com quadros, pinturas e itens de coleção emoldurados e expostos nas paredes da casa. “Quem vem ao Território tem uma experiência completa de vivência do Clube Atlético Mineiro”, esclarece.


Nos dias em que os jogos são no estádio, são distribuídos copos personalizados para os primeiros clientes que chegam ao estabelecimento. “A cada jogo, é um copo diferente, com uma arte personalizada. Também temos música ao vivo e sorteio de brindes para a massa, como camisas oficiais do Galo e outros itens do time”, avisa Letícia.


Na hora da fome, o tropeiro e os espetinhos são pedidas certas. “Temos outros pratos deliciosos, com destaque para os cortes nobres da parrilla e para a porção de torresmo com mandioca”, conta.

 

Azul e branco


Desde 1988, a torcida do Cruzeiro se reúne no Bar do Guerino, em Contagem. “Inicialmente, o bar era do meu irmão e da minha mãe. Todo campeonato que o time ganhava, meu irmão pendurava o quadro dos jogadores na parede, então temos vários até hoje”, conta Vitória de Fátima, atual proprietária.

 

O Bar do Guerino recebe os cruzeirenses com decoração azul e branca

Marcos Vieira/EM/D.A Press


Seu irmão, Guarino Roberto, definido como cruzeirense fanático, costumava ganhar itens do time, que ele usava para decorar o espaço do bar, que também funciona como uma lanchonete: “Seja um copo, um chaveiro ou até uma almofada, tudo isso serviu como estrutura para nos tornarmos referência como um dos bares do Cruzeiro.”


O lanche preferido dos torcedores é o “pastelão”: “O bar é muito famoso por causa desse pastel, que pode ser encontrado nos sabores carne, pizza, queijo e frango”. Por estar em Minas Gerais, o bar também não pode deixar de servir o famoso pão de queijo. “A gente serve o lanche com recheio de almôndega ou de maçã de peito, faz muito sucesso”, conta Vitória, que também prepara as clássicas porções de boteco como torresmo com mandioca e linguiça.


Além dos salgados, o cardápio é composto por bolos como cenoura, farinha de milho com queijo e laranja com chocolate.

 

O lanche preferido dos cruzeirenses no Bar do Guerino é o 'pastelão', que pode ter recheio de carne, pizza, queijo ou frango

Marcos Vieira/EM/D.A Press
 

 


Quando o Cruzeiro está em campo, o bar transmite os jogos, mas desde que estejam dentro do seu horário de funcionamento, de segunda a sábado, das 8h30 às 19h.

 

Torcida do rock


Os cruzeirenses também costumam se reunir no Mister Rock, uma casa de shows localizada no Prado, por conta da Metalzeiros, a torcida de rock do time. “Quando é dia de jogo, decoramos tudo com as cores da equipe. Para a final da Copa Sul-Americana, montamos três telões, sendo um de LED. A galera que frequenta o bar é sempre tranquila. Ganhando ou perdendo, o pessoal fica cantando as músicas do clube”, explica o proprietário Lucélio Henrique.

 

Em dia de jogos do Cruzeiro, a Metalzeiros, torcida de rock do time, atrai torcedores para o Mister Rock

Metalzeiros/Divulgação


Das porções que são vendidas no bar, eles destaca os espetos, favoritos dos frequentadores. Mas também fala sobre o pastel de angu (que pode ser recheado de carne seca, alho-poró e frango com queijo) e o fígado com jiló, forte representante da cultura mineira. “Também tenho poções de contrafilé, torresmo com mandioca, pururuca, torresmo de barriga, bolinho de bacalhau, bolinho com carne de sol, coxinha e quibe com requeijão”, completa.


Emoções compartilhadas



Por estar perto do Estádio Independência, no Bairro Horto, o Bar da Sandrinha se tornou reduto de torcedores do América Mineiro. O negócio começou em 2003, servindo almoço para os trabalhadores que se envolveram na reforma do estádio: “Hoje a referência do pessoal é aqui. Quando tem jogo do América, coloco uma bandeira do time e sirvo porções de tropeiro para todos”, conta a dona e chef Sandra de Brito.


“Os torcedores adoram vir para cá porque vendemos sempre cerveja gelada, com um ótimo preço e um bom atendimento”, relata Sandrinha, como é conhecida carinhosamente pela torcida.


A iguaria preferida e mais procurada é o bolinho de carne, curiosamente chamado pelos frequentadores de “dinossauro”, pelo seu tamanho. O cardápio também conta com sobrecoxa assada e um bolinho de mandioca com muçarela, ideal para aqueles que não comem carne. “Não pode faltar o delicioso ‘tropeirão’. O pessoal já tem o costume de vir me procurar para comer”, diz.

 

Endereço rubro-negro


Nenhuma torcida fica sem bar para se encontrar e compartilhar as emoções dos jogos. Mesmo com raízes no Rio de Janeiro, o Flamengo tem uma grande quantidade de torcedores em terras mineiras. Nesse cenário, a ideia de transformar o Calçadão do Churrasco em um bar temático do time surgiu da paixão do proprietário, Vitor Lelis, pelo clube e pela atmosfera que a torcida cria.

 

Reduto dos torcedores do Flamengo, Calçadão do Churrasco combina a tradição de assar carnes com a emoção do futebol

Marcos Vieira/EM/D.A Press
 


“Queríamos oferecer um espaço onde os torcedores e fãs pudessem se reunir, sentir-se em casa e celebrar as vitórias do time em um ambiente acolhedor e festivo. A proposta é combinar a tradição do churrasco com a emoção do futebol, tornando cada jogo uma experiência memorável para nossos clientes”, diz.

 


O bar tem suas raízes nos anos 2000, quando os pais de Vitor deram início a esse sonho com muito trabalho e dedicação.

 

Clientela fiel


“Eles queriam criar um espaço que unisse boa comida, um ambiente acolhedor e a alegria do encontro entre amigos e familiares. Com o passar do tempo, o Calçadão foi crescendo e conquistando uma clientela fiel. Hoje, continuamos essa tradição familiar com um toque especial: transformamos o espaço em um bar temático do Flamengo, celebrando a paixão por um dos maiores clubes do país. Essa combinação tem sido o segredo para manter o legado dos meus pais vivo e inovador”, declara Lelis.

 

Contrafilé com fritas cobertas com queijo derretido e bacon crocante: um dos pratos preferidos do bar de flamenguistas

Marcos Vieira/EM/D.A Press


As mesas ficam dispostas no passeio, ao ar livre, “proporcionando uma experiência em que os clientes podem desfrutar de boa comida e de um clima acolhedor, ao mesmo tempo que apreciam a movimentação e a atmosfera da Avenida Afonso Pena”, acrescenta.


Pensando no cardápio, os pratos prediletos da casa são os espetos de picanha (campeões de pedidos), o mexidão (mistura de arroz, carne e temperos) e as porções de contrafilé e picanha com fritas, cobertas com queijo derretido e bacon crocante, ideais para compartilhar com amigos e aproveitar o melhor da experiência no Calçadão.


Museu do futebol



O Bar Monumental surgiu da união da profissão de Alexandre Simões com o desejo de montar um negócio. “Sou jornalista esportivo há mais de 30 anos e sempre colecionei muitas coisas relacionadas ao futebol. Há uns 10 anos, surgiu o desejo de montar um bar que fosse decorado com todos esses itens”, conta. A ideia tomou forma em 2022, quando dois amigos toparam o desafio de participar do projeto.

 

Idealizado por um jornalista esportivo, o Monumental é referência em transmissão de jogos e samba ou chorinho aos fins de semana

Monumental/Divulgação
 


Alexandre se considera um acumulador de peças de futebol. Para ele, o bar é, “sem nenhum exagero, uma espécie de museu do futebol”. São selos, figurinhas, cachecóis de clubes internacionais, jogos de botão dos anos 1960 e 1970, mini-craques, taças, moedas, pôsteres, faixas, flâmulas. Centenas de peças integram o acervo do colecionador.

 


Apesar de toda a decoração de futebol, Simões considera o Monumental, antes de tudo, um bar como outro qualquer.


“Temos programação musical aos fins de semana, principalmente na sexta à noite e no sábado, na hora do almoço, quando quase sempre juntamos a feijoada com samba ou chorinho. Sei que somos referência em transmissão de jogos, pois o bar foi pensado para isso e a nossa estrutura é espetacular, mas esses eventos são tratados normalmente, sem cobrança de entrada ou consumação mínima”, conta.


Todos os pratos da casa têm nomes relacionados ao esporte, com a culinária sendo um dos pontos de destaque. Alexandre brinca: “O frango a passarinho, por exemplo, chamamos de ‘Bica Bicudo’. A coxinha de rabada é ‘Rabo de Vaca’ (nome de um drible dado por Eduardo Amorim, jogador histórico do Cruzeiro e campeão da Libertadores em 1976). Nosso feijão-tropeiro é diferenciado e totalmente ligado ao futebol em BH”.


Além desses itens, o quiabo com bacon e molho de carne, a coxinha de rabada, o pastel de jiló com queijo canastra, o fígado acebolado com jiló, a feijoada aos sábados e domingos também fazem muito sucesso entre a freguesia.

 

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Em dois anos de funcionamento, o cardápio passou por alterações pontuais: “Em determinados eventos, fazemos algumas adaptações, mas isso quando são fechados. Diariamente, é sempre o mesmo menu. Uma novidade importante foi a introdução do almoço executivo aos sábados e domingos, sempre a partir das 12h, com pratos que aparecem como opção para quem não gosta da clássica feijoada”, explica.


Serviço


Bar do Salomão (@bardosalomaobh)
Rua do Ouro, 895 – Serra
(31) 3221-5677

Território do Galo (@territoriodogalo)
Rua Cristina Maria de Assis, 173 – Califórnia
(31) 98114-3214

Bar do Guerino (@bardoguerino)
Rua Rio Verde, 410, Riacho das Pedras – Contagem

Mister Rock Pub (@misterrockbar)
Avenida Teresa Cristina, 295 – Prado
(31) 99238-7499

Bar da Sandrinha (@bardasandrinha)
Rua São Felipe, 11 – Horto
(31) 99657-3104

Calçadão do Churrasco (@calcadao_do_churrasco)
Avenida Afonso Pena, 2828 – Funcionários
(31) 3282-7939

Bar Monumental (@bar.monumental)
Rua Cel. Pedro Paulo Penido, 495 – Cidade Nova
(31) 3566-9723

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino

 

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