“A culinária mineira se consolidou através de mãos femininas, que nas cozinhas das casas trabalhavam com os produtos dos quintais. Não foi diferente na minha família”. A afirmação da chef Ana Gabi Costa resume as raízes do que hoje é o Trintaeum, inaugurado há dois meses em Belo Horizonte. Dentro da casa da bisavó, em Pedro Leopoldo, na região metropolitana, ela sempre acompanhou as matriarcas se dedicando à alimentação. O olhar aguçado para os preparos deu origem ao restaurante que transmite em pratos a elegância do DDD 31.

“Quando criança, observava atenta a movimentação. Nunca vou me esquecer do cheiro do tempero sendo preparado para o pernil, da expectativa criada ao passar dois longos dias vendo a carne descansando na geladeira nesses temperos e o primeiro aroma que saía do forno a lenha quando o cozimento dele se iniciava. Além da família reunida assando biscoitos ou preparando a cozinha para uma fornada de empadinha”, relembra.



A memória afetiva dos sabores e histórias se manteve acesa até a abertura da casa, que mantém nas receitas o vínculo de Ana com a cultura regional.

A partir de seu contato com a culinária profissional, a chef desejou unir o conhecimento técnico em gastronomia à vivência mineira de quem cresceu rodeado por hábitos e costumes alimentares típicos da região.

“O Trintaeum vem de um desejo de enaltecer a cozinha e a cultura de Minas. Queremos trazer a tradição de forma sofisticada, com ingredientes do nosso estado. É um conceito que traz a mineiridade em todas as camadas, desde a escolha dos fornecedores até a seleção dos produtos, concepção do cardápio e carta de vinhos”, relata.

Iguarias regionais

O processo de criação no Trintaeum é, nas palavras de Ana Gabi, como uma forma de poesia gastronômica. Cada prato nasce de um profundo respeito pela cultura alimentar mineira e por tudo o que o estado tem a oferecer. “Vivemos em um lugar de produção expressiva em tudo que diz respeito à qualidade dos produtos que sempre fizeram parte da nossa cultura”, comenta.

Lombinho, banana, tutu de feijão e ovo

Victor Schwaner/Divulgação

O trabalho começa no reconhecimento da importância dos produtores locais, tanto os pequenos agricultores familiares quanto os grandes criadores e frigoríficos responsáveis pelo fornecimento de proteína animal.

“Da taioba ao feijão cultivado em pequenas propriedades, passando pelas criações de gado e suínos, tudo é daqui. Seja perto, em Sete Lagoas ou Matozinhos, ou mais longe, isso permite uma relação próxima e garante, muito além da qualidade, a confiança de que toda essa cadeia seja saudável e sustentável”, ressalta.

Tira-gostos clássicos

A experiência no Trintaeum começa com a “mentira" de polvilho para abrir o apetite. A iguaria serve de entrada e é cortesia da casa. Leve e crocante, o prato é tradicionalmente servido no interior de Minas às visitas de forma improvisada e rápida para acolher aquele que chega de forma repentina, um reflexo da hospitalidade do mineiro.

Victor Schwaner/Divulgação 'A alma do Trintaeum é fazer o cliente se sentir em uma casa mineira, onde a hospitalidade é o ponto mais alto', avisa a chef Ana Gabi Costa

Victor Schwaner/Divulgação

O menu continua com uma seleção de tira-gostos clássicos, mas sempre com um toque autoral de Ana Gabi. Destacam-se o delicado pastel de angu recheado com umbigo de banana e requeijão de raspa (R$ 32); o bolinho de feijão-fradinho servido com um molho caipira picante e creme de refogado (R$ 28) e sua versão do fígado com jiló (R$ 29), feito com o vegetal inteiro recheado com fígado e empanado na pururuca com cebola caramelizada e mostarda.

“Todos servidos em porções para compartilhar, bem como acontece nas mesas mineiras”, destaca.

Mesa de fazenda

Os pratos principais também são familiares aos almoços e jantares das casas e fazendas. Porém, no restaurante, eles ganham um toque de sofisticação nas apresentações. Um exemplo é o Feijão, Angu e Couve (R$ 49), verdadeiro clássico da roça que chega à mesa em uma versão apurada: o feijãozinho é cozido lentamente no caldo de porco, adquirindo um sabor intenso, enquanto a couve fresca traz frescor e equilíbrio ao prato.

Também chama a atenção o que a chef faz com o frango. O Frango com Quiabo (R$ 99), ícone da cozinha mineira, recebe uma interpretação especial no Trintaeum: a sobrecoxa é cozida em um caldo de galinha reduzido até atingir um sabor caramelizado, servida com angu lavado – feito com milho verde fresco –, quiabo e uma gema empanada que adiciona cremosidade.

Já a Galinhada (R$ 89) combina arroz de galinha com peito grelhado, brócolis caipira e molho de pequi com laranja.

O Arroz Vermelho da Horta (R$ 56) é outra criação que valoriza ingredientes regionais, combinando o sabor marcante do arroz vermelho com vegetais preparados em diferentes texturas, além da crocância da castanha de baru e do chuchu grelhado.

Não é o que parece

Mas a grande surpresa fica por conta do lombinho serenado com tutu, banana e ovo, já que a apresentação brinca com as nossas expectativas. O que parece ser uma banana inteira à milanesa, na verdade, é o tutu em formato retangular, empanado e frito. Já o elemento que tem aspecto de tutu é um purê de banana caramelizada. O prato ainda tem um ovo curtido no molho inglês.

Jiló recheado com fígado e empanado na pururuca, cebola caramelizada e mostarda

Victor Schwaner/Divulgação

Para adoçar a experiência, as sobremesas ampliam o repertório dos doces mineiros, com receitas que vão além dos famosos doce de leite e goiabada. O pudim de leite (R$ 28) surge reinventado, servido com uma compota artesanal de ameixa fresca com cachaça, assim como o amor em pedaços (R$ 38), que se transforma em torta de abacaxi e biscoito amanteigado, sorvete de leite e rendado de abacaxi.

Já a Queijo, Compotas e Doce de Leite (R$ 44) é uma mistura de sabores – a mousse de queijo de cabra equilibra a doçura das compotas de figo, jabuticaba e laranja e o doce de leite caseiro. Também fica a sugestão do Pavê de Pêssego (R$ 32), que combina camadas de creme e fruta.

Versatilidade do milho

Presente na tradição alimentar de Minas, o milho aparece no cardápio em diferentes formas. “O milho, além de uma entrega maravilhosa de sabores e texturas, é um elo importante entre as tradições, a cultura e a identidade do território mineiro. Ele está presente em comidas típicas, diversas farinhas, festas e celebrações do estado. Além de representar sustento e uma forte agricultura, também compõe a versatilidade nas cozinhas”, alega Ana Gabi.

Pastel de angu recheado com umbigo de banana e requeijão de raspa

Victor Schwaner/Divulgação

No restaurante, esse protagonismo se reflete nas opções do menu. Há uma variedade de versões de angu feitas com milho verde, fubá de moinho, fubá de milho branco e até canjica. “Ele também está presente em sobremesas como o curau, no pastel de angu e até no próprio milho apenas cozido e tostado com manteiga que acompanha alguns de nossos pratos.

”Entre as opções para degustar a versatilidade do milho, estão o Porco sem Mágoas (R$ 88), composto por copa lombo braseado com molho de cachaça e limão, angu de canjica com queijo e taioba; a Lasanha pinga e frita (R$ 85), uma massa artesanal com fubá, recheio de frango preparado com a técnica do pinga e frita, queijo e creme de milho e o Curau de Laranja (R$ 27), de milho verde cremoso com broa de fubá, calda de laranja e crocante de canela, uma verdadeira homenagem à tradição de Minas.

Casa mineira

Com capacidade para oferecer conforto até 102 pessoas, o Trintaeum Restaurante foi cuidadosamente projetado para “servir uma comida bem-feita, ambiente sofisticado e atendimento de excelência”. Tudo isso para que o cliente viva a melhor experiência dentro da cultura mineira. O projeto arquitetônico, assinado por Beth Nejm, integra design contemporâneo e referências à cultura local, criando um espaço onde cada detalhe reflete a essência da casa.

Torresmo com fatias de limão

Victor Schwaner/Divulgação

“A alma do Trintaeum é fazer o cliente se sentir em uma casa mineira, onde a hospitalidade é o ponto mais alto. Tudo foi pensado para trazer essa sensação de pertencimento e aconchego”, reitera a chef.O restaurante fica localizado em um edifício, que por muito tempo chamava a atenção de quem passava pela esquina da Rua Professor Antônio Aleixo com Rua da Bahia, no Lourdes, Região Centro-Sul de BH, devido ao seu esqueleto abandonado.

O prédio será transformado em endereço do Tribe Hotel, primeiro desta bandeira na América Latina, ainda este ano. “Em março, vamos abrir ao público o café da manhã e ainda no primeiro semestre teremos a cafeteria Broa e a drinqueria Coreto”, adianta Ana Gabi.

Degustação de queijos

Um carrinho de jacarandá chega à mesa com uma seleção cuidadosa de produtos, e assim começa a Degustação Guiada de Queijos Mineiros. Dos mais frescos e leves aos mais intensos e complexos, a experiência apresenta nove exemplares da excelência do trabalho artesanal no campo com acompanhamentos variados, como geleias, azeites e charcutaria. A degustação está disponível sob reserva para grupos de até quatro pessoas e tem o valor individual de R$ 180.

Anote a receita: Meu amor em pedaços

Torta de abacaxi e biscoito amanteigado, sorvete de leite e rendado de abacaxi.

Victor Schwaner/Divulgação

Ingredientes

  • 460g de farinha de trigo;
  • 320g de açúcar refinado;
  • 4g de sal;
  • 160g de gema de ovo;
  • 320g de manteiga sem sal;
  • 14g de fermento químico em pó;
  • 500g de açúcar refinado;
  • 1kg de abacaxi;
  • 250g de coco ralado fresco;
  • 120g de gema de ovo;
  • 200g de farinha de trigo;
  • 100g de açúcar;
  • 100g manteiga sem sal;
  • 1 ovo

Modo de fazer

  • Derreta a manteiga e reserve.
  • Bata as gemas com o açúcar até que fique com um aspecto claro e aerado.
  • Adicione o sal e a farinha na mistura de gemas.
  • Adicione a manteiga derretida e, por último, o fermento.
  • Leve a massa para descansar por 1h na geladeira.
  • Abra a massa entre duas folhas de papel-manteiga com a ajuda de um rolo.
  • Coloque a massa aberta em um tabuleiro.
  • Reserve na geladeira até preparar o recheio.
  • Descasque e rale o abacaxi.
  • Misture com açúcar, coco e gema de ovo e cozinhe em fogo médio até que desgrude do fundo da panela.
  • Deixe o recheio esfriar e distribua-o sobre a massa no tabuleiro.
  • Asse a torta em forno pré-aquecido a 180?C por aproximadamente 30 minutos, ou até que fique dourada.
  • Misture a farinha, o açúcar e a manteiga gelada até que fique com a textura de uma farofa.
  • Adicione o ovo e misture até ficar homogêneo.
  • Leve a massa para descansar por 1 hora na geladeira.
  • Abra a massa entre duas folhas de papel-manteiga.
  • Corte em quadrados de 4x4cm e leve para assar até que fiquem dourados.
  • Corte a torta em quadrados de 4x4cm.
  • Sirva com sorvete de creme ou flor de leite.
  • Finalize com o biscoito.
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Serviço

Trintaeum (@trintaeumrestaurante)

Rua Professor Antônio Aleixo, 20, Lourdes

(31) 97141-7308

De terça a sábado, das 12h às 15h30 e das 19h às 23h; domingo, das 12h às 16h30

Reservas pelo site

*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino

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