Veteranas compartilham suas experiências no Corpo de Bombeiros -  (crédito: Luis Adolfo)

Veteranas compartilham suas experiências no Corpo de Bombeiros

crédito: Luis Adolfo

"Você tira a farda, mas a profissão nunca sai de você". É o que diz a veterana do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) Alessandra Maria de Oliveira, de 49 anos. Nesta terça-feira (2/7) é celebrado o Dia dos Bombeiros, data que reverencia os militares que arriscam suas vidas para salvar outras. Por isso, veteranas da corporação compartilharam suas vivências que ilustram a coragem e o compromisso inerentes à profissão.

 

Alessandra, com 30 anos de atuação, cresceu em um ambiente militar, influenciada pelo pai, avô, primos e tios. "Inicialmente eu queria entrar para a Polícia Militar, por causa do meu pai, e porque na época não existia mulher no CBMMG", relembra.

 

Quando decidiu fazer o concurso, ela disputou com 4.500 mulheres por uma das 80 vagas. Mesmo desacreditada de suas chances, a veterana se dedicou e se consagrou na primeira turma feminina dos bombeiros. "A emoção de ver o que é ser bombeiro é diferente. Te faz criar uma paixão que você nunca quer deixar de amar, sentir e viver", destaca.

 

Já Edilene Cristina entrou em 2002 e também reflete sobre a presença das mulheres na corporação. "Mudou muito, e melhorou, principalmente, a credibilidade da mulher nos bombeiros", diz ela. A dúvida se as mulheres dariam conta do serviço foi substituída por outros atributos que, segundo ela, complementam os dos homens. "Tivemos que chegar devagarinho e provar que não seria pela força física, mas nossa presença é importante na cena", enfatiza Edilene. 

 

 

Mesmo aposentada há cinco anos, Alessandra afirma que a profissão nunca a deixou. "Se você se depara com um acidente, alguém passando dificuldade ou precisando de ajuda, e você está sem a farda, vai ajudar mesmo assim, porque a profissão não sai de você. Quando aposentamos, ficamos com um restinho aqui dentro, uma vontade de sempre fazer alguma coisa", reitera.

 

Compartilhando do mesmo sentimento, Edilene concorda: "Sempre vamos exercer essa função de ser bombeiro. A farda tem um peso pois ela representa a corporação, mas sem a farda você ainda tem a alma do bombeiro".

 

Marcas da profissão

Com mais da metade da vida em serviço pelo Corpo de Bombeiros, Alessandra relembra um acidente automobilístico vivenciado em 1997 na Via Expressa de Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte.

 

A veterana, Alessandra Maria de Oliveira

A veterana, Alessandra Maria de Oliveira

Jair Amaral/EM/D.A Press

 

Na ocasião, uma jovem de 16 anos perdeu a parte inferior do corpo. "Quando chegamos e socorremos ela ainda em vida, a menina disse que queria ir para o hospital depressa para ligar para a mãe buscá-la, pois ela não podia atrasar porque iria a um evento. Mas, na verdade, nós sabíamos que ela não teria um tempo de socorro viável para sua condição", conta. Mesmo gravemente ferida, a jovem sorria e mostrava esperança. "São marcas que nós vemos de vidas que salvamos. Isso nos da um amparo. Quando eu passo por lá sempre relembro esse momento". 

 

 

Edilene também compartilha um episódio que derramou lágrimas em toda a guarnição. A ocorrência foi em Itabira, no Sul de Minas. Um carro e um caminhão estavam envolvidos e presos em uma ribanceira. O caminhoneiro foi retirado tranquilamente, mas havia no veículo uma família.

 

"No banco de trás estavam a mãe e uma menina de aproximadamente 4 anos. "Na hora que começamos a fazer o desencarceramento das vitimas, nós percebemos que uma mãozinha caiu em cima do rosto do motorista, era o pai. Nessa hora foi um impacto", conta a militar.

 

O homem foi retirado do carro. "Já o corpo da menina foi colocado por cima da mãe. Naquele momento foi terrível. Nós nos afastados e choramos muito, toda a guarnição. Voltamos para o quartel e ninguém dormiu naquela noite", relembra Edilene.

 

Bombeiro é quem não desiste nunca

Ambas as veteranas enfatizam o amor incondicional pela profissão, que transcende o uso da farda. Questionada sobre o que é preciso para se tornar um bombeiro, Edilene diz: "para ser bombeiro a pessoa precisa ser aquela que não desiste nunca e vai até o final. Na hora que você é chamado, tem que estar pronto para ir. Numa ocorrência você tem que manter a tranquilidade em qualquer situação". Depois de 22 anos de serviço, a veterana exprime sua satisfação. "Me sinto realizada".


Se pudesse dar um conselho para os próximos bombeiros que desejam ingressar na corporação, Alessandra diria para viver a profissão com sabedoria. Apesar de serem apelidados de "heróis", ela diz que é preciso cautela no trabalho, uma vez que salvar uma vida é sempre um momento difícil, de riscos e periculosidade. 

 

"Nós temos que fazer o nosso trabalho, nos dedicar para salvar o próximo, mas sem esquecer de nós mesmos. Temos que voltar para casa. É um amor incondicional que dedicamos a nossa profissão, mas não podemos esquecer de nos amar", conclui Alessandra.


Presentes

Militares do CBMMG receberam uma nova aeronave na manhã desta terça-feira (2/7). O evento para a entrega do helicóptero foi realizado na Cidade Administrativa.

 

Para a comandante do batalhão de operações aéreas Tenente Coronel Karla Lessa, a nova aeronave, que custa mais de R$ 35 milhões, vai aprimorar o trabalho da corporação. “Ele vai compor o suporte aéreo avançado de vida”, destaca.

 

Com o nome Arcanjo 12, o novo helicóptero multimissão é do modelo Koala e tem capacidade para até oito ocupantes. A tenente-coronel também destaca que a aeronave vem com equipamentos especiais como guincho e gancho, que servem para fazer salvamento em locais de difícil acesso.

 

Os bombeiros vão receber mais quatro helicópteros até 2025. Com o reforço de hoje, os militares passam a ter disponível, ao todo, 10 aeronaves, sendo sete helicópteros e três aviões.

 

Além disso, na segunda (1/7), foi inaugurado o Laboratório de Ciência, Tecnologia e Inovação (LCTI), na Academia de Bombeiros Militar, localizada no Complexo da Pampulha, em Belo Horizonte. O centro de pesquisas terá como foco o estudo da prevenção e combate a desastres, como rompimentos de barragens e incêndios florestais. O objetivo da iniciativa é tornar as respostas dos militares mais rápidas e eficientes sobre os desastres que acontecem em Minas Gerais. 

 

O laboratório é uma iniciativa do Centro Intersetorial de Pesquisa em Alterações Climáticas e Redução do Risco de Desastres (Cipard), que é um centro inteiramente dedicado à execução e concepção de projetos científicos e tecnológicos que destaca a importância da produção acadêmica e científica vinculada às demandas logísticas, administrativas e operacionais da corporação.

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice