A inspiração veio do famoso show que os Beatles fizeram em Londres, nos terraços da Apple Corps, para promover outro de seus decantados discos, em janeiro de 1969, denominado "Rooftop Concert". Os britânicos assistiram atônitos ao evento icônico e desafiador, interrompido pela polícia metropolitana, pois congestionou o trânsito na região. Eles nunca mais se apresentaram ao vivo.
"Eu conjugo com amor e paixão três emes em minha vida: Magistratura, Magistério e Maternidade", contou a desembargadora Lilian Maciel Santos, integrante da 20a Câmara Cível do TJMG, natural de Juiz de Fora. A força da décima terceira letra do alfabeto, tão simbólica em sua vida, lhe arrebatou por uma quarta vez por meio da música, que corre em suas veias.
Já nos primeiros anos da infância, sentada na desconfortável banqueta de um piano, se empenhou para dominar a sonoridade advinda das teclas, dedicando-se com afinco às aulas. "Fiz o Conservatório Estadual de Música Haydée França Americano", justificou. Nunca mais o instrumento saiu das proximidades de sua existência, a tal ponto que hoje atua como tecladista no conjunto de rock ON THE ROOF, cujo repertório passeia por Beatles, Bee Gees, Credence, Nazareth, Elvis Presley, Blitz, Lulu Santos, Paralamas e outros. Público a postos, não faltará "Hey Jude", de Lennon e McCartney, para alegria dos ouvintes de todas as idades.
E o mais importante em termos de satisfação pessoal: as apresentações, muitos delas em cidades do interior de Minas, sempre têm caráter beneficente, com ingressos trocados por produtos não perecíveis destinados a entidades assistenciais. "Há 15 anos tocamos juntos, tanto que considero esta banda uma outra família", acrescentou. As surpresas não param por aí: parte dos membros da banda roqueira integra a magistratura. O nobre talento de cada um deles a serviço de uma causa solidária: Alexandre Nogueira (advogado, guitarra), Eustáquio Clemente (aposentado, bateria), Saulo Versiani Penna (desembargador, voz e violão), Fernando Vasconcelos Lins (desembargador, baixo), Guilherme Carvalho Ribeiro (médico, guitarra e vocal), Maurício Pinto (juiz, guitarra). Todos sob a batuta do professor de música Leandro Aguiar.
Casada com Etevaldo Lucas Queiroz (aposentado da Cemig e produtor da cachaça Meritíssima, de Sabinópolis), a juiz-forana tem dois filhos: Pedro (16) e Felipe (18), ambos tocam, respectivamente, piano e bateria. "A música trabalha o cérebro, a saúde mental", observou a desembargadora, que também investe na boa forma física em academia, caminhadas e corridas ou montada no selim de uma bike. Ela atuou como servidora da Justiça do Trabalho e promotora de justiça (MP), no período de 1993 a 1997, e como juíza de primeira instância passou pelas comarcas de Sabinópolis, São João Evangelista, Alto Rio Doce, Timóteo, Brasília de Minas, Ponte Nova e BH.
Diplomas não lhe faltam: mestre em direito pela UFMG (2001); especialista em três modalidades, ou seja, Jurisdição Inovadora pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Processo Civil pela Universidade Gama Filho; e Gestão no Poder Judiciário pela UNB. Além disso, leciona nos cursos de graduação da Faculdade Milton Campos (Direito Internacional e Prática Jurídica Cível) e do IBMEC (Direito Constitucional). Ela esteve à frente da Escola Judicial Edésio Fernandes, como superintendente adjunta, e ali ministra aulas no curso de formação inicial e permanente. Ademais, co-autora de obras de Processo Civil e Direito Constitucional.
Em Brasília, Lilian Maciel Santos participa de uma comissão de juristas, a convite do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para elaboração de anteprojeto de Lei de Processo Estrutural, na condição de representante da Justiça Estadual. "Minas se sente orgulhosa em ver uma de suas ilustres representantes participar de trabalho de tamanha relevância", avaliou o presidente da Amagis, juiz Luiz Carlos Rezende e Santos.
Para 2025, a desembargadora juiz-forana, que domina o inglês, o italiano e o francês, tem pronta longa agenda com o início das aulas do curso de doutorado, recém-aprovada, em "Processos Coletivos e Estruturais", na UFMG. Antenada com os novos tempos, não se faz de rogada frente a temas como justiça distributiva, reciprocidade social, isonomia e o papel da mulher nas instituições e na sociedade.