Comunicado foi divulgado nesta quinta-feira (4) 
       -  (crédito: Andreas Solaro/AFP)

Comunicado foi divulgado nesta quinta-feira (4)

crédito: Andreas Solaro/AFP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após críticas de setores conservadores da Igreja Católica à aprovação da bênção a casais do mesmo sexo, o escritório doutrinário do Vaticano divulgou comunicado nesta quinta-feira (4) no qual enfatiza que o ato não representa "endosso ou absolvição de atos homossexuais".

 

Numa declaração de cinco páginas, o Vaticano ainda reconheceu que as bênçãos podem ser imprudentes em países onde as pessoas LGBTQIA+ correm o risco de se tornar alvos de violência ou sofrer represálias, incluindo penas de prisão ou morte, devido à orientação sexual.

 

Bispos católicos de vários países, incluindo os Estados Unidos e da África, expressaram perplexidade e discordância em relação à decisão de 18 de dezembro, quando o Vaticano autorizou a bênção a casais do mesmo sexo e àqueles considerados "em situação irregular", termo usado para se referir aos que estão em sua segunda união após um divórcio.

 

Várias conferências episcopais emitiram declarações sublinhando que as bênçãos não equivaliam a uma aprovação oficial do "sexo gay" ou de um sacramento de casamento para casais do mesmo sexo.

 

A divulgação do comunicado pelo Vaticano pouco mais de duas semanas após a autorização da bênção, portanto, indica uma tentativa de atenuar a insatisfação em muitos países.

 

O escritório doutrinário da instituição, conhecido como o Dicastério para a Doutrina da Fé, afirmou ainda que as bênçãos não devem ser vistas como "uma justificativa de todas as ações [das pessoas LGBTQIA+], nem um endosso da vida que eles levam".

 

O comunicado reforça que o Vaticano quer "esclarecer a recepção da Fiducia Supplicans [como a declaração de dezembro é chamada] enquanto recomenda, ao mesmo tempo, uma leitura completa e calma". "Evidentemente, não há espaço para nos distanciarmos doutrinariamente dessa declaração ou para considerá-la herética, contrária à tradição da igreja ou blasfema", diz a instituição nesta quinta.

 

No fim de dezembro, o papa Francisco, 87, alertou contra o que chamou de posições ideológicas inflexíveis e que, segundo ele, podem impedir a Igreja Católica de enxergar a realidade e avançar. Ele ainda mencionou o debate contínuo entre progressistas e conservadores, 60 anos após o Concílio Vaticano 2, que levou a igreja ao mundo moderno. "Permaneçamos vigilantes contra posições ideológicas rígidas que, muitas vezes, sob o pretexto de boas intenções, separam-nos da realidade", disse ele.

 

 

Embora a abertura do papa às bênçãos para casais do mesmo sexo tenha sido bem recebida por muitos, conservadores disseram que isso poderia abalar os fundamentos da fé e até levar a um cisma na igreja.

 

Desde que foi eleito pelos cardeais há dez anos, Francisco tem tentado tornar a doutrina católica mais acolhedora para pessoas que se sentem excluídas, como membros da comunidade LGBTQIA+, mas sem mudar qualquer parte do ensinamento da igreja sobre questões morais.