Lady Stefani Rodrigues da Silva, de 27 anos, é a primeira mulher trans de Minas Gerais eleita para o Conselho Tutelar. Moradora de São José da Varginha, município do Centro-Oeste do estado, que tem pouco mais de 4,5 mil habitantes, ela entra para a história ao ultrapassar a barreira do preconceito e alimentar o sonho de atuar com questões sociais.
A inspiração da jovem veio da própria família. A mãe dela é uma das fundadoras do Conselho Tutelar no município e a irmã foi eleita por três vezes conselheira.
Mesmo com a “herança” familiar, para ela a eleição significa uma vitória sobre o preconceito. “É um conselho muito pequeno, são só cinco pessoas. A gente vê essa parte mais conservadora tentando manter os deles lá para não deixar entrar uma pessoa progressista como eu”, afirma.
Assumir uma dessas cinco cadeiras representa também, para ela, "esperança para vozes que já foram e que são marginalizadas" pela sociedade. “Nós trans somos pessoas silenciadas, sem voz. E quando uma voz ecoa, mesmo que minimamente, já ajuda muito a nossa comunidade”, destaca.
Apesar das dificuldades enquanto mulher trans em uma cidade conservadora, Stefani conta também com o apoio de amigos. Ela acredita no acolhimento e repudia atos violentos. “A violência nunca vai ser a resposta, mas, sim, o amor”, afirma. Ela tomou posse no dia 9 de janeiro.
Representatividade
O “Dossiê Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras” da Associação Nacional de Travestis e Transexuais apontou que o Brasil é o país com mais mortes de pessoas trans e travestis no mundo pelo 14º ano consecutivo. O relatório é de 2023.
Stefani enxerga sua representatividade como uma maneira de pessoas da comunidade ocuparem lugares e mudarem essa realidade.
Agora conselheira da pequena cidade, ela entende Erika Hilton e Duda Salabert como vozes importantes presentes dentro do parlamento brasileiro. Além de possuir como inspiração a vereadora trans e negra Giovami Maciel - residente de Moema, na mesma região.
Com bastante entusiasmo, Stefani revela sua admiração pelas cantoras Lady Gaga e Ivete Sangalo – referências para a comunidade LGBTQIAPN+. Em momentos difíceis em sua vida, a jovem eleita recorreu às músicas de ambas artistas. “Esquecia da homofobia e da transfobia, esquecia de todos os problemas para conseguir ser quem eu sou hoje”, explica.
Áreas de atuação
Cercada por familiares que atuaram na área, a jovem - que se autointitula “progressista” - encontrou no conselho tutelar uma maneira de participar das questões sociais e da defesa dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes. “A minha motivação para entrar no conselho tutelar sempre vai ser de mudança, um conselho mais atuante”, justifica. O combate à pedofilia e à violência é uma das principais prioridades, a partir da identificação precoce de casos e na promoção de ambientes seguros.
Para além das funções do Conselho Tutelar, Lady Stefani pretende atuar no setor social da cidade, propondo ideias para levar a informação para a sociedade. A conselheira eleita prevê, já em fevereiro, a discussão sobre a gravidez na adolescência. Além de abordar temas como a segurança alimentar e as infecções sexualmente transmissíveis (IST’s).
Stefani diz que luta em prol de uma sociedade bem informada e que possa fugir da ignorância, do preconceito e da marginalização de pessoas trans.
*Danielly Melo e Amanda Quintiliano especial para o EM