A autorização da bênção a casais do mesmo sexo, aprovada pelo papa Francisco em meados de dezembro, continua reverberando no Vaticano. Em entrevista ao jornal italiano La Stampa, o pontífice disse não temer um cisma na Igreja Católica após a decisão provocar ira entre setores conservadores.
Francisco minimizou as críticas e disse que possibilidade de um cisma na igreja é ventilada somente por grupos pequenos. "Devemos deixá-los à vontade e seguir em frente... e olhar para o futuro", disse o papa, sem especificar a quais grupos se referia, na entrevista publicada nesta segunda-feira (29).
A autorização concedida pela igreja vem motivando debates, com bispos em alguns países se recusando a permitir que seus sacerdotes implementem a bênção a casais LGBTQIA+. A resistência é maior em países da África, onde a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo pode levar à prisão ou até mesmo à pena de morte em algumas regiões.
Francisco se disse confiante na entrevista de que os críticos acabem entendendo os propósitos da medida. Em seguida, emendou que os católicos no continente africano são "um caso à parte". "Para eles, a homossexualidade é algo 'ruim' do ponto de vista cultural. Eles não a toleram", afirmou.
"[Os críticos] me perguntam como é possível [a bênção a casas do mesmo sexo]. Eu respondo: o Evangelho é para santificar a todos. É claro, desde que haja boa vontade. [...] Somos todos pecadores: então por que fazer uma lista de pecadores que podem entrar na igreja e outra lista de pecadores que não podem estar na igreja? Isso não é o Evangelho", disse.
Desde a declaração, divulgada em 18 de dezembro, o Vaticano tem se esforçado para enfatizar que as bênçãos não representam "endosso" ou "absolvição" de atos homossexuais – que a igreja considera pecados –e que não devem ser vistas como algo equivalente ao sacramento do matrimônio para casais heterossexuais.
Mas mesmo um esclarecimento divulgado no começo do mês pelo escritório doutrinário do Vaticano não foi suficiente para arrefecer as críticas feitas pelos bispos na África. Líderes da igreja no continente emitiram uma carta dizendo que a decisão havia causado "inquietação na mente de muitos" e que não poderia ser aplicada devido ao contexto cultural na região.
A declaração que autoriza a bênção, conhecida por seu título em latim Fiducia Supplicans (confiança suplicante), foi emitida pelo departamento doutrinário do Vaticano e aprovada pelo papa. Embora a abertura do papa à prática tenha sido bem recebida por muitos, conservadores disseram que isso poderia abalar os fundamentos da fé e até levar a um cisma na igreja.