O festival “Carnaval dos Sonhos”, que aconteceu de 9 a 13 de fevereiro no Mirante Beagá, localizado no Bairro Olhos D'Água, foi alvo de críticas de pessoas com deficiência (PCDs). Elas alegam falta de acessibilidade e ações capacitistas durante o evento.
A denúncia foi feita pela jornalista Joana Suarez, em suas redes sociais. Na terça-feira (13), Joana acompanhava uma amiga no evento, que há sete anos recebeu o diagnóstico de distrofia muscular. Em sua postagem, a jornalista pontua diversos acontecimentos que prejudicaram a experiência de PCDs no evento, sendo um deles relacionado ao trajeto até chegar no local onde seria o show, que tinha uma pista e um morro para andar a pé. Além disso, o evento não providenciou transporte para auxiliar o deslocamento de PCDs.
Na hora do show, a produção foi até a área PCDs — que era um pequeno cercado — e pediu para aqueles que estavam dançando se sentarem, para não ficar na frente do camarote. A justificativa que teria sido dada era de que o público desse setor estaria reclamando, porque pagaram mais caro.
“Mandaram os acompanhantes das pessoas com deficiência sair do local, sendo que a lei prevê a presença de acompanhante justamente para haver inclusão, pois eles têm o direito de se divertirem com os seus, além de precisarem de ajuda para várias coisas, pois nunca é um evento acessível real [...] Ainda ouvi de um trabalhador do evento que estávamos atrapalhando demais a vida deles”, disse Joana em sua publicação.
A jornalista contou que alguns foram embora ou sentaram desanimados. Os que resolveram levantar foram xingados por pessoas do camarote. "Senta, filha da p*", teria dito uma mulher para outra mulher com deficiência visível.
‘O PCD tem que ter um resguardo’
Em 2020, Raiana Rodrigues Figueiredo, policial militar, levou um tiro na cabeça e outro nas costas, após bandidos invadirem sua casa. O ocorrido fez com que Raiana perdesse os movimentos de todo o lado esquerdo de seu corpo e tivesse certa dificuldade para andar.
A policial também relatou o descaso com os PCDs durante os shows da terça-feira (13). “Eu tenho dificuldade, mas consigo ficar em pé, assim como os acompanhantes. É muito injusto, pagamos do mesmo jeito que eles e não podemos ficar em pé aproveitando o show? Isso está muito errado”, disse Raiana.
Raiana estava acompanhada de um colega, que contou para ela após o evento que também estavam tentando tirá-la da área PCD, por estar em pé. No entanto, seu acompanhante não permitiu e a defendeu, junto a outros dois policiais militares que estavam no local e conheciam a sua história.
Para outros PCDs que passaram por situações semelhantes — ou que virão a passar —
Raiana dá um conselho:
“Acho que a primeira coisa a se fazer é um boletim de ocorrência e depois entrar na Justiça por danos morais. Assim, as pessoas vão pensar duas vezes antes de maltratar um PCD. O PCD tem que ter um resguardo, uma proteção, alguém que olhe por ele, nem que seja no Judiciário”, diz.
Estatuto da pessoa com deficiência
Conforme o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que está em vigor desde janeiro de 2016, os direitos das PCDs são:
- Direito à acessibilidade
- Direito à igualdade e não discriminação
- Direito ao atendimento prioritário
- Direito à educação
- Direito à moradia
- Direito à saúde
- Direito ao trabalho
Posicionamento da organização do "Carnaval dos Sonhos"
Até o momento da publicação desta reportagem, o "Carnaval dos Sonhos" não deu retorno ao Estado de Minas. Caso um posicionamento seja divulgado, a matéria será atualizada.