Samy Santos é estagiária no CIAM e conseguiu a vaga pelo programa Estamos Juntos -  (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Samy Santos é estagiária no CIAM e conseguiu a vaga pelo programa Estamos Juntos

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

“Este programa foi a melhor coisa na minha vida”, conta Charles Patrocínio, de 44 anos anos, atualmente servidor na Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Com renda e moradia garantidas, ele é uma das mais de 220 pessoas em situação de rua que mudaram de vida a partir do programa Estamos Juntos nos últimos meses em Belo Horizonte.

Desenvolvido pela PBH e pela entidade de assistência social Rede Cidadã, o programa promove ações para inclusão produtiva de quem vive nas ruas, trabalhando para a inserção – ou reinserção – no mercado de trabalho. A ideia é que os usuários consigam bancar um aluguel e saiam definitivamente das ruas e dos abrigos.

“Além de empregarmos essas pessoas, identificamos o público-alvo – pessoas em situação de rua ou com trajetória de vida nas ruas inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) – para realizar o acolhimento social, que é um estudo anterior à entrada no programa para, aí sim, encaminharmos essas pessoas para a formação para o mercado de trabalho”, conta Isabel Dias, coordenadora do projeto.

Dias conta que a formação, no projeto, soma 80 horas, sendo 32 horas de preparação para desenvolver habilidades comportamentais e emocionais e 48 horas de aulas sobre o âmbito profissional. A partir disso, são encaminhados para estágios antes de chegarem a vagas efetivas.

“Isso é necessário porque muitos deles nunca chegaram a acessar o emprego formal ou ficaram distantes por muitos anos, então a relação com o trabalho ainda está fragilizada. Então, eles passam em torno de cinco meses nesses estágios em órgãos executivos da PBH até serem encaminhados para oportunidades efetivas no mercado de trabalho”, explica.

Trajetórias na cidade

Katia Regina dos Santos, de 38 anos, faz um estágio como recepcionista administrativa na PBH e ficou sabendo do programa durante uma captação da prefeitura de famílias que passaram por situação de vulnerabilidade e já viveram em situação de rua. Assim que fez a capacitação completa, realizou uma avaliação de perfil e foi encaminhada para a vaga que melhor se adequou ao seu perfil.

“No meu caso, como eu estava passando por uma situação que demandava um pouco mais de tempo na minha rotina, por estar de mudança, com criança e sendo mãe solo, eles acharam melhor me encaminhar para um estágio de quatro horas por dia, por seis meses, até eu organizar minhas questões. Posteriormente, provavelmente serei encaminhada para uma vaga efetiva”, relata ela, que também já fez – e continuará fazendo – diversos outros cursos que a ajudarão futuramente.

“Várias portas estão se abrindo por conta desse projeto, mudou minha vida. E chegou no momento certo para mim, porque eu não tinha possibilidade de trabalhar sem ser num estágio como esse. Ainda conheci várias pessoas interessantes, estou trabalhando minha postura profissional e desempenhando um bom papel dentro das minhas funções. E faz a diferença ter a bolsa caindo todo mês”, complementa.

Já Samy Santos Vidal, de 30 anos, conta que suas perspectivas para o futuro são as melhores desde que ingressou no programa, e que deseja que todas as pessoas que pensam em participar consigam se encontrar no trabalho assim como ela.

“Estagio no CIAM (Centro Integrado de Atendimento à Mulher) e tem sido uma experiência muito empolgante. As coisas estão caminhando e, atualmente, estou em busca de voltar para os estudos. Adoro Marketing Digital e estou com um projeto de voltar com o meu canal no YouTube, com a minha carreira de cantora e de lançar algumas músicas”, diz Samy, que tem vídeos de diversas temáticas publicadas no canal Garota Cabocla.

“Eu me encontrei e acredito que as pessoas devam tentar se reencontrar também. Agora que eu tenho a minha casa, consigo sair dessas questões de dependência do estado, então é retomar meus estudos, investir na minha carreira, ou tentar um processo seletivo num concurso público”, complementa ela.

A motivação e a determinação são muito importantes para os usuários do programa. Charles Patrocínio conta que “um bocado de gente” que ingressou com ele acabou desistindo, mas que ele e outros dois colegas persistiram e, hoje, conseguem se manter relativamente bem de vida.

“O que também ajudou muito foram as pessoas excelentes ao meu lado. Tive uma professora que até hoje fala que tem orgulho de mim, me deixa feliz”, afirma ele.

Expectativas

O programa tem um prazo de validade: fevereiro de 2025. No entanto, há a expectativa de que ele se torne uma política pública.

“A duração do Estamos Juntos é de 18 meses, e se encerra no ano que vem, mas temos uma perspectiva de continuidade, porque se ele se tornar uma política pública efetiva em Belo Horizonte, a própria prefeitura vai fazer a manutenção do programa”, explica Isabel.

“A nossa expectativa é trazer a dignidade dessas pessoas de volta, porque essa população é, muitas vezes, invisibilizada e negligenciada, mesmo estando presente na maioria das capitais. Então, não tem como não ver mais essa população nas ruas sem fazer nada”, complementa a coordenadora do projeto.

Para os usuários do programa, é importante que ele continue ativo para que outras pessoas também possam se beneficiar.

“Essas parcerias, projetos, para pessoas com situação de vulnerabilidade social, como eu, ajudam muito, principalmente em momentos de extrema dificuldade. Às vezes, ter como conquistar uma vaga no mercado de trabalho, que hoje está tão concorrido, é mérito desses projetos. Espero que eles tenham êxito, que sejam mais divulgados e ampliados para que toda a população que necessita, seja encaminhada para o mercado de trabalho”, afirma Katia.

“É um projeto muito interessante e importante que foi um divisor de águas na minha vida. A partir do momento em que eu conheci o projeto, eu já evoluí demais. O curso é muito interessante, principalmente em relação à questão emocional, que faz uma diferença muito grande na nossa vida, e eu estou começando agora a colher os frutos, podendo colocar na prática, voltando para o mercado de trabalho, fora as aulas sobre empreendedorismo. É tudo bem completo”, acrescenta Samy.

Até que a inclusão definitiva dos usuários no mercado de trabalho aconteça, todos eles contam com um auxílio financeiro, que contribui para que se mantenham no programa até o fim.

“Uma das maiores exigências da população em situação de rua é trabalho e moradia, e hoje conseguimos possibilitar oportunidades de trabalho para que essas pessoas conquistem a moradia – sempre com formação e acompanhamento, porque não adianta dar a oportunidade sem fazer a manutenção disso. Só assim conseguimos, também, possibilitar outros acessos, como saúde e educação”, finaliza Isabel.