Em fevereiro deste ano, chegou às telas brasileiras o remake da novela “Renascer”, originalmente de 1993. No entanto, na versão atual, adaptada por Bruno Luperi, uma pequena mudança na história da personagem Buba pode ter pegado de surpresa alguns espectadores antigos.
Buba, interpretada por Gabriela Medeiros, é uma psicóloga bem-sucedida que sonha ser mãe, mas o preconceito que sofre por ser uma mulher trans gera desafios para ela e seu parceiro, José Venâncio, vivido por Rodrigo Simas.
Na versão de 1993, Buba — interpretada por Maria Luísa Mendonça — não era uma mulher transgênero, mas sim “hermafrodita”. Tal nomenclatura, que tem origem na mitologia grega, era usado para descrever pessoas com características tanto femininas quanto masculinas, tornou-se pejorativa nos dias atuais e não é apropriado para se referir a pessoas intersexo.
Em entrevista ao Gshow, Luperi explicou o porquê de sua decisão de transformar a personagem em uma pessoa trans:
“A Buba ser uma pessoa intersexo na primeira versão foi um assunto muito bem estabelecido, muito bem colocado e que trouxe muitos avanços. A necessidade de uma nova leitura sobre aquilo, diante do cenário de hoje, na minha concepção, se mostrou importante. A ideia não é tirar uma questão, mas sim adicionar novas camadas e trazer o assunto da diversidade, o assunto de gênero sob uma nova perspectiva que permita que mais discussões sejam feitas”, explicou.
Pessoa intersexo ou trans: qual é a diferença?
Pessoas intersexo são aquelas que nascem com características sexuais — por exemplo: genitais, padrões cromossômicos e glândulas, como testículos e ovários — que fogem das expectativas tradicionais de corpos masculinos ou femininos.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é estimado que entre 0,05% e 1,7% da população mundial tenha algum tipo de intersexualidade, que podem ser visíveis durante o nascimento ou somente aparecerão na puberdade. Também existem casos de pessoas que vivem uma vida inteira sem saber que são intersexo.
Em março de 2023, a youtuber de beleza Karen Bachini revelou em vídeo ser intersexo e relatou aos seus seguidores como foi todo o processo até receber seu diagnóstico.
“Foi me dito que eu tinha menstruado em alguma parte da minha vida e entrei na menopausa. Mas eu sempre achei isso muito estranho, se eu tivesse menstruado, eu saberia. Não tem como”, contou a influenciadora, que até os seus 18 anos ainda não tinha menstruado.
No caso de pessoas trans, elas não se identificam com o gênero que lhes foi imposto ao nascimento, que é o caso de Buba — e também da atriz que a interpreta, Gabriela, que é uma mulher trans.
Representatividade LGBTQIAPN+ em novelas
Nos últimos anos, a presença tímida de personagens LGBTQIAPN+ em novelas de emissoras da TV aberta vem aumentando ano a ano, mas esse não é o caso de todas.
Entre as maiores emissoras de TV aberta do Brasil — SBT, Globo e a Record — que exibem novelas de produções próprias, algumas não apresentam personagens LGBTQIAPN+ há um bom tempo.
Na Record, a última novela com tal representação foi “Vitória” (2014), e no SBT, “Amor e Revolução” (2011). A TV Globo tem sido a emissora com maior número de personagens representantes da comunidade LGBTQIAPN+, no entanto, não ficou imune às críticas.
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Em maio de 2023, uma atitude da Globo gerou revolta em alguns telespectadores: uma cena entre as personagens Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman) terminaria com um beijo das duas, que chegou a ser anunciado pelo resumo oficial da trama. No entanto, a emissora optou por cortar o beijo lésbico.
* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.