Com quase 40% da população brasileira, é de se esperar que a região Sudeste tenha o maior número de políticas sociais, principalmente no que se diz a minorias sociais como a comunidade LGBTQIA+. No entanto, a realidade não é tão simples. Pesquisa aponta que organizações da região têm dificuldades quanto à distribuição de recursos, a depender da cidade ou da "letra" da sigla LGBTQIA+.
A pesquisa “Projeto Pajubá: A realidade das ONGs LGBTQIA+ Brasileiras”, realizou entrevistas com 90 coletivos e organizações da sociedade civil defensoras da causa no território brasileiro e 25 no Sudeste, incluindo as organizações mineiras: Coletivo Cintura Fina, ALEM/Caminhada Lésbica, Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual (CELLOS-MG) e o Grupo Truck do Desejo. No Sudeste, o levantamento aponta que o nível de recursos levantados é influenciado pelo grau de profissionalização da organização e questões de raça, renda e gênero.
De acordo com o levantamento, realizado pela Abong (Organizações em Defesa dos Direitos e Bens Comuns), em parceria com a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos), há uma disparidade no acesso aos recursos de doação entre os grandes centros urbanos e as regiões interioranas.
Foi constatado que organizações de cidades menores e periféricas têm menos visibilidade e apoio financeiro. “Esses contatos estão chegando só na cidade grande e não chega no interior? A visibilidade é sempre para a capital. Tanto que se for qualquer job (trabalho) que você for fazer, é sempre na capital. Quando rola esse apoio (financeiro), não chega na gente”, afirma um transmaculino que foi entrevistado pela pesquisa. Ele é fundador de um coletivo periférico no interior paulista.
Além disso, o levantamento também aponta que os recursos financeiros e apoio político são adquiridos de formas diferentes. O Projeto Pajubá apontou que homens gays, cisgêneros e brancos têm maior facilidade na captação de recursos, enquanto mulheres lésbicas, bissexuais e trans enfrentam mais dificuldades.
“Como que eu vou protocolar um ofício se a própria prefeitura é transfóbica? Se os próprios governantes (são transfóbicos)? (...) A gente tem 109 ofícios protocolados e nenhum respondido. Eles (na prefeitura) não responderam um sequer, entendeu?”, questiona uma travesti fundadora de um coletivo LGBTQIA+ no Triângulo Mineiro. A travesti deu o depoimento à pesquisa.
Um fator que provoca a situação, de acordo com as lideranças entrevistadas, é a concentração de oportunidades em determinados locais o que limita o alcance de políticas inclusivas. “Eu vejo que é gritante essa diferença do campo progressista (entre as cidades da região do Triângulo Mineiro). (Aqui na cidade), ainda é aquela coisa de coronel. Essas famílias dominam a política”, continuou a entrevistada do Triângulo Mineiro.
No entanto, a realidade tem se mostrado em mudança. Isso porque a pesquisa apresentou opiniões similares dos líderes dos coletivos, que concordam que existe uma aliança crescente dentro da comunidade LGBTQIA+ para alcançar maior apoio. É o que afirma um representante do CELLOS de Minas Gerais: “Quando assumi, nossa organização estava falida. Foi juntando a travesti da pista, a bicha preta, a sapatão e outras pautas que renascemos e hoje somos fortes”, relata.