O abolicionista José do Patrocínio, figura que lutou por um Brasil mais inclusivo -  (crédito: Divulgação)

O abolicionista José do Patrocínio, figura que lutou por um Brasil mais inclusivo

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Imagine, por um momento, que, ao amanhecer do dia 14 de maio de 1888, um dia após a abolição da escravidão, a população negra brasileira, em oposição ao curso da história oficial, participaria ativamente dos debates parlamentares do país. Essa é a proposta da exposição “Constituinte do Brasil Possível”, uma reimaginação histórica para uma Constituição que não aconteceu, de um Brasil possível que ainda não existe. 


Por meio de um edital de convocação pública serão selecionadas 10 propostas artísticas inéditas, de pessoas a partir de 18 anos, autodeclaradas pretas ou pardas. Artistas de todo o Brasil, com trajetórias consolidadas ou estreantes, podem se inscrever. 


O projeto foi idealizado pela produtora executiva Mariana Luiza, após o sucesso de sua instalação imersiva, “Redenção”, no Festival Internacional de Documentário de Amsterdã 2023 (IDFA), com colaboração das professoras Ana Flávia Magalhães Pinto e Thula Pires. 

 

 

Mariana explica que a iniciativa é um convite para que artistas negros (pretos e pardos) imaginem projetos para o Brasil a partir de personagens negros invisibilizados pela história oficial. “E se no dia seguinte a abolição da escravidão, uma nova Constituinte fosse convocada para o Brasil com a participação ativa de pessoas negras? Partimos de uma Constituinte afro-brasileira desejando inspirar fabulações históricas de todos os excluídos deste projeto de nação branco, patriarcal e eurocêntrico que se construiu e ainda está em curso no Brasil", explica Mariana.


Inscrições

As inscrições são gratuitas e devem ser realizadas através do formulário on-line até o dia 26 de junho de 2024, às 23h59. O resultado será divulgado no site www.linhadecor.com e nas redes sociais do projeto no dia 15 de julho de 2024.

 

No mesmo formulário, os interessados devem enviar um vídeo de um a quatro minutos que responda à pergunta “Como sua obra pode contribuir para o imaginário de um Brasil possível?”, além de um portfólio e uma proposta artística, que podem ser entregues no formato PDF ou vídeo/animação. 

 

Todos os detalhes, exigências e demais etapas estão no edital, que está disponível no site Linha de Cor. Cada artista selecionado vai receber R$4.500,00 para executar sua obra, que será exibida no Centro Cultural dos Correios do Rio de Janeiro a partir do dia 9 de outubro, data de abertura. 

 

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As propostas artísticas devem conter uma descrição minuciosa sobre a linguagem que o candidato pretende adotar. Entre as linguagens estão pintura (em variados materiais), escultura, impressão 3d, gravura, fotografia, indumentária, artesanato, arte gráfica, xilogravura, poesia visual, arte postal, zine, performance, grafite, lambe-lambe, stencil, colagem, fotoperformance, artes integradas e outras não especificadas anteriormente.

 

14 de maio de 1888

A partir da Constituição fabulada por artistas do presente com personagens históricos negros do século XIX, a exposição busca debater propostas de um Brasil possível, em que pretos e pardos, a maioria da população, são vistos como sujeitos decisivos nos debates e encaminhamentos de projetos políticos, sociais e culturais do país.

 

A abolicionista Maria Amanda Paranaguá

A abolicionista Maria Amanda Paranaguá

Divulgação

 

Ana Flávia Magalhães diz que, “no 14 de maio fabulado por nosso time de historiadores, pretendemos discutir um atraso de 66 anos que separa a afirmação da independência e uma não participação equitativa da população negra e indígena na sociedade.” Segundo ela, personagens que atuaram na sociedade poderão se fazer presentes na Constituinte como alguém que deixou um legado. A exemplo, a professora cita Maria Amanda Paranaguá, Tia Ciata, André Rebouças, José do Patrocínio e Machado de Assis. 

 

A exposição “Constituinte do Brasil Possível” integra o Projeto Linha de Cor, iniciativa que envolve pesquisa, educação e audiovisual realizados por pessoas negras. Ela foi contemplada pelo Edital Pró-Carioca Diversidade Cultural – Edição Paulo Gustavo – SMC nº 04/2023, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (PCRJ), por meio da Secretaria Municipal de Cultura (SMC).

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice