Nesta sexta-feira (17/5) é celebrado o Dia Internacional contra a LGBTfobia. A homofobia, a bifobia e a transfobia ainda são muito presentes na sociedade, fazendo com que a comunidade LGBTQIAPN+ seja marginalizada e sofra diversos tipos de violência.
O dia foi escolhido como uma forma de homenagem à ocasião em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista do Código Internacional de Doenças (CID), em 17 de maio de 1990. Esse foi um passo importante na luta LGBTQIAP+, já que a despatologização permitiu a proibição de “curas gays”, além de reconhecer as sexualidades e identidades de gênero como algo natural e entender essas pessoas como sujeitos de direitos – mesmo que ainda haja muito a ser feito.
No mundo pop, diversos artistas usam seu espaço para defender os direitos das pessoas LGBTs e condenar qualquer forma de preconceito. Conheça 10 dessas celebridades:
A Rainha do Pop é considerada uma das maiores – e primeiras – aliadas da luta LGBT. Já nos anos de 1970, ela era abertamente amiga de homens gays, frequentava baladas em que a liberdade sexual era a regra e via nessas interações para o futuro. Desde o começo de sua carreira, na década de 1980, Madonna trabalhava com artistas gays. Durante a epidemia de HIV/Aids, ela viu de perto o sofrimento das vítimas, acompanhando muitos de seus amigos na luta contra a doença.
No fim da década, Madonna lançou o álbum “Like A Prayer”. Junto com o LP, estavam cartões com informações sobre a Aids, formas de infecção e como as pessoas com a doença precisavam de apoio e compaixão, independentemente de sua orientação sexual. No final do encarte, havia a mensagem “AIDS IS NO PARTY!” ("Aids não é uma festa", em tradução livre). Recentemente, ela admitiu que, durante o auge da epidemia, levava remédios proibidos do México aos EUA, para ajudar no tratamento de conhecidos infectados.
Madonna também retratou cenas de sexo homoafetivo no clipe de “Justify my love”, em 1990. Foi um choque na época, chegando a ser censurado pela MTV nos Estados Unidos. Em “In this life”, de 1993, a Rainha do Pop canta “Você já viu seu melhor amigo morrer? Você já viu um homem crescido chorar?”, em uma referência à morte de seu melhor amigo para o HIV. No mesmo ano, ela lançou “Why’s it so hard”, que fala de luta para viver o amor, sem dor.
Em 2010, Madonna se pronunciou contra o governo do Malawi por causa da prisão de um casal gay detido por ter celebrado publicamente sua união. Dois anos depois, durante apresentação na Rússia, ela foi ameaçada de prisão por fazer “propaganda homossexual”. Sua luta segue até hoje, já que continua retratando publicamente relações homoafetivas nos palcos de seus shows.
O ator Carmo Dalla Vecchia é casado há 18 anos com o autor de novelas João Emanuel Carneiro, mas somente em 2021 falou abertamente sobre sua sexualidade. Segundo o artista, ele nunca escondeu que era gay e casado, mas preferia deixar sua vida privada longe dos holofotes. Os dois são pais de Pedro, de 4 anos, fruto de uma barriga de aluguel.
Em entrevistas, o ator já contou que passou diversas situações de homofobia, mesmo quando era somente uma criança. "Aos 9, 10 anos, tomava soco na boca do estômago de colegas que gritavam 'bicha!'. É cruel quando acontece. A criança deveria sair dali e ir direto contar para os pais, mas tem vergonha de ter tomado um soco por esse motivo. Para quem sofre preconceito, é um soco no estômago calado. Sem falar que, aos 10 anos, você ainda não sabe da sua iniciativa sexual", contou à Globo.
O galã também revelou que descobriu sua sexualidade aos 12 anos. "Pensei: 'E agora, o que vou fazer?'. Porque ser gay não é o padrão. Quando você nasce, te dizem que é errado e, por mais que você resolva isso na vida, tem um lado seu que também tem preconceito. Faço psicanálise há 15 anos, mas falar sobre isso talvez tenha sido também uma forma de eu me libertar do meu próprio preconceito", desabafou.
Nas redes sociais, Carmo compartilha vídeos divertidos sobre sua realidade como um homem gay e se autointitula como "o viado da família brasileira". "Eu fui abraçado, recebi as mensagens mais carinhosas e afetivas da minha vida quando eu resolvi falar (publicamente) que eu sou gay. (...) Eu vejo que acaba dando voz para muitas pessoas que não tem voz, ou não tem coragem de falar, ou que estão em momentos complexos da vida que fazem com que elas fiquem caladas. Isso me deixa feliz, também", declarou ao UOL.
Vecchia defende que cenas românticas de casais LGBTs sejam exibidas na TV aberta. “Não me venha com o papo de que a dona de casa não está preparada ainda para isso, porque se ela não está preparada, cabe a nós ajudarmos ela a estar preparada, e não simplesmente tirar o beijo”, afirmou em um podcast.
Se Madonna foi revolucionária ao apoiar os LGBTs na década de 1980, Lady Gaga se tornou uma grande aliada nos anos 2000, se tornando uma musa da comunidade desde o início de sua carreira. Em 2009, quando tinha apenas 23 anos, Gaga participou da Marcha Nacional da Igualdade. Em um comício, ela gritou para o então presidente americano Barack Obama: “Nós vamos continuar pressionando sua administração para tornar sua promessa realidade”.
Um dos seus looks mais polêmicos, o vestido de carne usado na cerimônia do VMA de 2010 também foi um protesto. Ela era contra a lei Don’t Ask Don’t Tell, que proibia que homossexuais declarados fizessem parte das Forças Armadas. Gaga chegou ao local acompanhada de quatro membros do serviço militar dos EUA que haviam sido dispensados por causa da legislação, e, no palco, usou o famoso vestido para mostrar sua raiva contra a política anti-LGBT. “Se não nos erguermos por aquilo que acreditamos e se não lutarmos por nossos direitos, em breve teremos tantos direitos quanto carne em nossos ossos”, explicou em um talkshow. A lei foi revogada em 2011.
Quando estava prestes a lançar seu segundo álbum, “Born this way”, Lady Gaga firmou um acordo com a rede Target, para a venda de uma versão exclusiva do trabalho. Mas ela rompeu a parceria após a empresa não cumprir o acordo de apoiar grupos LGBT. “Parte do meu acordo com a Target é que eles têm que começar a se afiliar com grupos de caridade LGBT e começar a reformar e fazer as pazes pelos erros que eles cometeram no passado… Nosso relacionamento é articulado na reforma deles dentro da empresa para apoiar a comunidade gay e se redimir de erros que eles cometeram ao apoiar aqueles grupos”, disse à Billboard em uma entrevista em fevereiro de 2011, um mês antes do rompimento.
No fim de 2012, Gaga levou sua turnê para a Rússia e foi acusada de quebrar a lei de propaganda anti-gay. Ela foi ameaçada de prisão e uma multa de 50 mil dólares. Mesmo assim, realizou os shows como planejado. Menos de um ano depois, quando o parlamento russo proibiu qualquer forma de discurso ou demonstração de carinho pró-gay, a cantora mostrou indignação. “O governo russo é criminoso. A opressão se encontrará com a revolução. LGBTs russos, vocês não estão sozinhos. Iremos lutar pela liberdade de vocês”, escreveu nas redes sociais.
Outro momento militante ocorreu em 2016, quando Gaga chamou atenção para jovens LGBTs desabrigados. “Tive uma linda manhã com a juventude [LGBTQ] no @AliForneyCenter, o maior centro de visitas do mundo. Trouxe presentes e os conduzi em uma meditação em grupo”, escreveu após uma visita. Durante a Monster Ball, ela se juntou a uma empresa para recrutar voluntários para ajudar na causa. “Mais de 2 milhões de jovens vão ficar desabrigados neste ano. Um em cada cinco desabrigados na comunidade se identificam como, gay, lésbica, bissexual ou transgênero. Isso me deixa muito brava. Agora é hora para lutarmos de volta. Graças a minha parceria com a Virgin Mobile e a Campanha de Re Generação, centenas de fãs meus doaram seu tempo trabalhando em abrigos para jovens desabrigados durante esse ano de turnê, e todos ganharam ingressos de graça para vir para o show. Mas ainda precisamos fazer mais”, disse na época.
A cantora e drag queen Pabllo Vittar se tornou um dos maiores símbolos LGBTs do Brasil na atualidade. Além da representatividade e inspiração para outras pessoas da comunidade, Pabllo também fala sobre a luta da população LGBTQIAPN+. Durante a parada LGBT+ de São Paulo, em junho do ano passado, contou que o evento era importante para a busca pelos direitos e a formação de políticas públicas para a comunidade. “A vontade de ter dias melhores, de ter respeito”, refletiu à CBN.
Em outra entrevista, em novembro de 2023, Vittar falou sobre como se manter viva enquanto pessoa LGBT já é um desafio. “Neste país em que vemos todos os dias pessoas da nossa comunidade sofrerem violências absurdas, e morrerem, fazer 30 anos é muito emocionante. Por estar viva, e por poder fazer todos os dias o que eu gosto, viver da minha música e estar no palco”, declarou ao UOL.
Ela também se posicionou contra aprovação, pela Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados, de um projeto de lei que veta o casamento de pessoas do mesmo sexo. “Postei falando sobre, mas eu tinha feito também vídeos, com muita raiva, e acabei não publicando. É um retrocesso ridículo. Sempre acho que é uma grande cortina de fumaça para outras coisas toscas que acontecem nesse país”, expressou.
Uma das drags mais famosas do mundo, Pabllo contou que alguns casais a procuraram para falar sobre o medo que sentiam. “Fiquei triste ao receber mensagens de pessoas com medo do casamento ser anulado, de não poderem casar e de não poder ficar com a pessoa que ama. A comunidade enxerga em mim uma super-heroína. Mas espero que as coisas mudem, estão querendo nos tirar o direito de amar”, completou.
Kurt Cobain, líder do Nirvana, é considerado um dos maiores nomes do movimento grunge e, desde a infância defendia pessoas LGBT. Na escola, ele tinha um amigo gay, que sofria bullying. Na época, os valentões também achavam que ele era homossexual. "Eu não sou gay, embora desejasse ser, só para irritar esses homofóbicos", escreveu em um de seus diários.
O Nirvana participou de um show beneficente em prol dos direitos dos homossexuais irem à escola, em 1992. Kurt costumava usar vestidos para protestar contra a homofobia e o sexismo. “Usar um vestido mostra que posso ser tão feminino quanto eu quiser”, disse ele ao LA Times, em um ataque às correntes machistas que ele detestava na cena do rock, e que ele subverteu e muitas vezes satirizou. "Sou heterossexual... Grande coisa. Mas se eu fosse homossexual, isso também não teria importância”, declarou na mesma entrevista.
No encarte de 'Incesticide', coletânea lançada em 1992, ele escreveu: “Se algum de vocês de alguma forma odeia homossexuais, pessoas de cores diferentes ou mulheres, por favor, façam este favor para nós – deixem-nos em paz! Não venha aos nossos shows e não compre nossos discos”.
Casada com a jornalista Malu Verçosa desde 2023, quando se assumiu bissexual, a cantora Daniela Mercury sempre defende os direitos LGBT em suas aparições públicas. No ano passado, durante a Parada do Orgulho LGBTQIA+, em São Paulo, ela defendeu a união homoafetiva. "Quando a gente casou, foi igual ao amor de Julieta e Romeu, um amor impossível. Há dez anos, quando casei com ela, a gente fez todo mundo repensar. A gente quer espalhar o amor", disse.
"Hoje, a gente luta por direitos nessa Parada importantíssima. Que nosso amor inspire as pessoas a lutar. (...) Vamos acolher todos até que as famílias entendam que ninguém é melhor que ninguém. E quem é ruim é o opressor. Nós somos a paz”, declarou. Em uma entrevista, em 2021, Mercury falou sobre como a luta LGBT é importante. “No Brasil, aceitamos muita coisa calados. E sem luta, não há conquista. A luta contra o preconceito é eterna. O risco de violência é contínuo. A gente só se liberta coletivamente. É muito difícil confrontar um preconceito assim sozinho”, opinou.
“A LGBTfobia é estrutural e não é da noite para o dia que vamos vencê-la, mas cada um que se liberta, liberta outros. E assim vamos mudando o mundo, quebrando tabus e celebrando a nossa orientação sexual e identidade de gênero com muito orgulho”, finalizou.
O ator Pedro Pascal, das séries “The last of us” e “The Mandalorian”, já fez diversas postagens nas redes sociais das bandeiras LGBTQIA+. A versão mais recente, criada pelo designer Daniel Quasar, inclui as cores preto e marrom em referência à diversidade racial, e rosa, branco e azul que representam homens e mulheres trans.
Em 2021, publicou a capa de revista que sua irmã, Lux Pascal, estampou para uma revista e revelou ser uma mulher trans. Abertamente favorável à causa LGBTQIAPN+, ele luta para que as empresas sejam mais diversas, além de defender a comunidade em entrevistas e prestar apoio à irmã.
Pascal também estaria pressionando a Disney para maior representatividade LGBT nas produções da empresa. Ele também estaria encorajando colegas de trabalho para que fizessem posts apoiando pessoas trans.
A famosa chargista e cartunista Laerte Coutinho se assumiu como mulher trans em 2009. Desde então, ela já falou abertamente que já sofreu várias formas de discriminação. Para ela, as lutas de pessoas LGBT devem se somar, em busca de direitos para todos. “Não gosto de ver o movimento LGBT como um nicho ou parcela. Vejo os LGBTs como pessoas que lutam pelo gozo do direito de todos, justamente contra um conservadorismo que quer excluir esse direito de uma parcela da população. Quem parcializa é o conservadorismo”, declarou em uma entrevista.
Ao longo de sua carreira, Laerte explorou diversos temas em suas charges, abordando questões sociais, políticas e de gênero. Ela é notável por sua habilidade em abordar tópicos delicados com humor e sagacidade, desafiando normas e estereótipos.
Ela também já pediu maior representatividade na política e foi contrária ao projeto de implantação de um banheiro para pessoas trans. “O banheiro é uma questão crucial. A gente pode até permitir que um transgênero circule no mesmo espaço social, mas o banheiro é tabu. Os conservadores chegaram a propor um terceiro banheiro: para gente estranha. Para alienígenas”, defendeu ao El País.
Antes mesmo de se assumir como um homem gay, em 1992, o cantor Elton John já era considerado um ícone LGBT, por causa de seus figurinos extravagantes e canções provocativas. Desde então, ele se dedica ao ativismo LGBTQIAPN+. O inglês é criador da ONG Elton John AIDS Foundation, nascida em 1993 com o intuito de arrecadar fundos para custear programas para “aliviar a dor – seja ela física, emocional ou financeira – daqueles afetados ou em risco pelo HIV/AIDS”. Hoje, o projeto tem sedes em Nova Iorque e em Londres, abraçando todas as Américas, o Caribe, Europa, Ásia e África. Além de se dedicar à pesquisa, a iniciativa esclarece sobre a infecção e tenta eliminar o caráter discriminatório sofrido pelos pacientes.
Sua biografia e filmografia, intitulada ‘Rocketman”, foi censurada na Rússia, devido às cenas homoafetivas. Sua história com a Rússia começa quatro décadas antes, quando se declarava bissexual. Elton John foi o primeiro artista do Ocidente a pisar em Moscou para um show para 4 mil pessoas. Em um DVD lançado anos depois para celebrar o momento, ele falou da censura de divulgação e venda de suas músicas na região. Até hoje, ele luta para que a discriminação de LGBTs seja abolida, falando publicamente sobre o caso russo. “Eu não sou o presidente Putin ou o presidente Trump. Não estou à frente de um país. Os políticos precisam ser mais humanos. Se não existisse este sectarismo e este ódio, esta doença poderia ser erradicada muito mais rapidamente”, declarou.
Recentemente, o cantor descartou firmar uma residência nos Estados Unidos, por conta da onda conservadora no país. “Existe uma lei agora que permite que médicos da Flórida se recusem a atender pacientes gays, o que para mim é inacreditável. Estamos andando para trás, e isso é contagioso. É como um vírus que ataca o movimento LGBTQ+”, destacou em uma entrevista.
Assumidamente bissexual, a cantora Anitta já foi considerada a brasileira LGBT mais influente do país. Ela se assumiu em 2018, em um clipe de “Não perco meu tempo”, em que beija diversos homens e mulheres. “Queria contar isso com absoluta normalidade, porque é algo que qualquer um pode experimentar, e eu esperei pelo momento perfeito para fazê-lo. Agora estou em um lugar onde muitas pessoas me ouvem, e eu também queria aproveitar isso para poder fazer a diferença", revelou em uma entrevista na época.
A funkeira já condenou abertamente a bifobia, citando o próprio caso. “Quando se trata de bissexualidade, é meio complicado porque antes de tudo, eu nunca namorei uma mulher. Tive relacionamentos com garotas, mas foi muito casual. Nunca namoramos, e não foi uma situação de longo prazo. As pessoas, então, às vezes dirão ‘você não é bissexual de verdade, você só sai com homens’. Não penso que isso signifique que eu não sou. Imagine se eu falasse que sou heterossexual e alguém me pegasse beijando ou saindo com uma garota. Eles diriam ‘meu Deus, você é uma mentirosa!'”, disse.
Ela já apontou que é importante falar sobre sexualidade, mas que as pessoas não deveriam julgar ou criar expectativas baseadas nisso. “É um tema muito delicado, e deveríamos respeitar a maneira dos outros se encontrarem. Deveríamos ser livres para fazer o que quiséssemos. Pessoas preconceituosas estão sempre apontando e falando sobre quem nós somos. Por causa desse preconceito, algumas pessoas não têm coragem de falar abertamente sobre quem são. Temem o julgamento, têm medo do que vão dizer. Quando vemos outras pessoas aparecendo e falando ‘sim, essa sou eu’, isso ajuda quem ainda precisa de um pouco de coragem. É bom. Sentem que estão sendo representados e têm mais pessoas com eles. Acho que é muito importante”, refletiu.