A ocupação das ruas para reivindicar direitos, demonstrar apoio e celebrar a existência e resistência da comunidade LGBTQIAPN + é uma das principais movimentações que marcam o mês de junho, no qual é comemorado o Dia Internacional do Orgulho (28/6). Apesar da importância da “parada” para a comunidade LGBTQIAPN+ e a realização dela em diversas cidades brasileiras, inclusive na capital mineira, alguns municípios de Minas não têm esse tipo de mobilização.
O Estado Minas conversou com coletivos, organizações e pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ para entender as razões da ausência de manifestações nessas cidades no Dia do Orgulho.
Gregory Rodrigues, coordenador estadual da Aliança Nacional LGBTI em Minas Gerais, lista alguns fatores que dificultam cidades a realizar uma parada do orgulho, como a falta de incentivo do executivo municipal ou da iniciativa privada. “Com o advento dos movimentos conservadores e fundamentalistas, que estão hoje entranhados nos parlamentos, nas prefeituras e nos governos, nossa luta se tornou mais difícil. Muitas pessoas estão cansadas dessa luta, estão cansadas porque veem barreiras e mais barreiras diante do avanço da extrema direita e do conservadorismo”, diz.
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O Patos pela Diversidade, movimento LGBTQIAPN+ de Patos de Minas, município na Região do Alto Paranaíba, pensa de maneira semelhante a Gregory. Na cidade, de 159.235 habitantes, não ocorre a parada do orgulho. “Não sei se já tentaram, tenho vontade de organizar, mas sinto pouco engajamento do pessoal. Temos aquele perfil de cidade do interior, conservadora, com vereadores tentando passar lei antitrans e fazendo barraco em frente de escolas. Não sei como receberiam a proposta de uma parada, mas o clima por aqui é esse”, diz o movimento.
Marcelle Sankara, que faz parte da comunidade LGBTQIA + e mora em Patos de Minas, diz que a não realização da parada do orgulho traz “um sentimento de que a cidade está sempre um passo atrás nas questões de representatividade e suporte às pessoas LGBTQIAPN+”. Para ela, a falta de eventos como esse deixa nítido como o conservadorismo está enraizado na cidade. O mesmo pensa Eduardo Pedro Costa, membro da comunidade e morador de Conselheiro Lafaiete, município na Região Central, onde também não há realização da parada do orgulho.
Outras ações
Em algumas cidades mineiras que não realizam manifestações dessa ordem, o movimento LGBTQIAPN+ opta por fazer outras ações ligadas à comunidade. É o caso do Coletivo LGBTQIAPN+, em Poços de Caldas, cidade no Sudoeste mineiro com 163.742 habitantes. A organização diz que, por enquanto, busca fortalecer a causa de outra maneira, mas que há o interesse de realizar a parada no futuro.
“Ainda estamos buscando motivos para que tenhamos orgulho do que seja celebrado. Ainda temos um longo caminho no que se refere a conquistas em âmbito municipal que estejam atreladas à comunidade. (...) Entendemos que a celebração do orgulho em nossa cidade neste momento não reflete o que ele representa”, diz Rhuan Fagundes, presidente do coletivo que atua em Poços de Caldas.
Em Muriaé, na Zona da Mata mineira com 104.108 habitantes, a situação é semelhante. Wesley Ferreira, diretor-presidente da organização Diversidade Muriaé, explica que a realização de uma parada do orgulho está nos planos, mas o foco no momento são mobilizações e debates para construção de políticas públicas, que, para ele, são escassas no município.
Por exemplo, nesta sexta-feira (28/6), o coletivo vai promover uma roda de conversa para discutir o contexto histórico da comunidade e entender a razão por trás do orgulho LGBTQIAPN+. “O movimento vem firmar essa construção de políticas públicas com ou sem parada”, enfatiza Wesley.
Parada do Orgulho
Para Maicon Chaves, presidente do Centro de Luta Pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos-MG), organizador da parada LGBTQIAPN+ em Belo Horizonte, essa mobilização é uma forma de trazer visibilidade para as demandas da comunidade e, por isso, não pode ser vista apenas como uma festa. “A parada é uma manifestação popular que reivindica cidadania”, diz. Por isso, ele acredita que não há uma escolha entre lutar por políticas públicas ou realizar a parada.
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Sobre a falta de apoio público ou da sociedade civil, o presidente do Cellos diz que “deixar que eles roubem sorrisos, a cor, alegria e poesia é muito. Não se pode deixar”. Maicon Chaves também defende que há sempre motivos para comemorar. O mesmo pensa Gregory Rodrigues, da Aliança LGBTI, que afirma que “a nossa existência é motivo de celebração. Estarmos vivos é razão para celebrar”.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata