A diretora estadual de Políticas de Diversidade de Minas Gerais, Walkiria La Roche, manifestou por Justiça pela amiga Gabi Campbel na Parada LGBTI+ -  (crédito: Arquivo pessoal/Reprodução)

A diretora estadual de Políticas de Diversidade de Minas Gerais, Walkiria La Roche, manifestou por Justiça pela amiga Gabi Campbel na Parada LGBTI+

crédito: Arquivo pessoal/Reprodução

Enquanto nesta sexta-feira (26/7) se completa um mês de investigações sem conclusão do caso da artista mineira Gabi Campbel – encontrada morta aos 50 anos em seu apartamento no bairro Santo André, na Região Noroeste de Belo Horizonte –, nessa quinta-feira (25/7), a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) concluiu o inquérito do caso da travesti Marcinha Ribeiro, morta em abril deste ano na Grande BH. As ocorrências são emblemáticas e marcam o aumento da violência contra a população LGBTI+ no estado.


De acordo com Walkiria La Roche, diretora estadual de Políticas de Diversidade de Minas Gerais e amiga de Gabi Campbel, as investigações sobre o caso dela resultaram em “provas irrefutáveis”. A PCMG complementou informando que o suspeito já foi identificado e trata-se de um homem de 23 anos cujo mandado de prisão temporária já foi expedido, mas não deu mais informações. O caso está com o delegado Marcelo Augusto Couto.

 

“Infelizmente, esse monstro ainda não foi preso, o que me causa profunda tristeza e indignação”, diz ao Estado de Minas. No último domingo (21/7), ela esteve na 25ª Parada do Orgulho LGBTI+ e, mais uma vez, pediu justiça pela amiga.


“Levei essa dor para a parada e manifestei ao público e autoridades presentes. Desejo que a imagem desse criminoso seja amplamente divulgada e que a população denuncie. Que a Justiça seja exemplarmente feita, e ressalvo que, aqui no Brasil, está proibido depreciar a mulher vítima de transfobia, feminicídio, e ainda mais de transfeminicídio”, declara.


Walkiria chegou a dizer que ela e algumas amigas pretendem organizar uma homenagem após a prisão do responsável pelo crime.


“A Gabi, quando nova, teve muitos problemas familiares, assim como eu e muitas outras, e nos organizamos como família afetiva. Queremos que a justiça seja cumprida e que ela sirva como um marco para que nenhuma outra mulher sofra nas mãos de pessoas como esse sujeito, seja para roubar, estuprar, ou realizar qualquer outro crime descabido”, fala.

 


Aumento da violência contra LGBTI+

Os casos de Gabi Campbel e Marcinha Ribeiro refletem a escalada de um cenário grave em Minas Gerais.O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que o estado foi o terceiro que mais matou pessoas da população LGBTI+. Ao todo, foram 32 registros de homicídio doloso, ficando atrás apenas do Maranhão, com 34, e do Ceará, com 44. Em relação ao ano anterior – que teve 15 registros –, houve um aumento de 113,3% na conta dos mineiros.


Os números conversam com dados oficiais do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Uma pesquisa feita em parceria com o Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH) da UFMG mostrou que, entre 2014 e 2022, 89 pessoas trans e travestis foram mortas de forma violenta no estado, e outras 62 foram vítimas de tentativa de morte. Das consumadas, 78 (87,6%) foram registradas como homicídio.


 

“Dentro da comunidade LGBTI+, a letra T já é a que mais sofre preconceito e violência, e eles vêm de todos os lados: é estrutural e institucional”, explica o presidente da Comissão de Diversidade Sexual, Gênero e Minorias da OAB-MG, Washington Fabri.


Em relação à violação de direitos da população LGBTI+, o cenário continua preocupante: ao fim do mês do Orgulho (junho), Minas Gerais já tinha registrado 3.897 casos, cerca de 40% a mais que o observado no mesmo período do ano passado, segundo o Painel de Dados da Ouvidoria Nacional do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.


O Painel LGBTQIA+fobia, fornecido pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), mostra que a tendência de crimes contra essa população parece se manter estável em Minas Gerais: entre janeiro e junho de 2024, foram 264 – apenas cinco a menos que o número registrado no mesmo período de 2023.


Para Fabri, a escalada dos crimes de LGBTI+fobia no estado estão acompanhados de lideranças e políticos que tratam a pauta com desdém e até preconceito.


 

“Nós da Comissão atentamos órgãos de Segurança Pública sobre a necessidade da conclusão de inquéritos, punição definitiva e julgamento para quem comete essas violências. A partir do momento em que a Justiça olha para a população LGBTI+ de forma séria, passa-se uma mensagem – principalmente para aqueles inclinados a cometer esses crimes – de que esse preconceito não pode existir e que ele será combatido”, afirma Fabri.


A Comissão da OAB afirma que está acompanhando o caso de Gabi Campbel e já pediu empenho e brevidade na conclusão do inquérito, mas ainda não teve retorno oficial.