HC oferta curso para profissionais da saúde visando diminuir violências contra pessoas LGBTQIAPN+ -  (crédito: Mateus Parreiras/EM/D.A Press)

HC oferta curso para profissionais da saúde visando diminuir violências contra pessoas LGBTQIAPN+

crédito: Mateus Parreiras/EM/D.A Press

O Laboratório de Estudos e Intervenções em Terapias Cognitivas e Contextuais (LaEIC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) oferece uma capacitação para profissionais da área da saúde nos dias 7 e 8 de agosto. A iniciativa busca capacitar os profissionais do Hospital das Clínicas (HC), no campus Saúde, para melhor atender grupos minorizados, como pessoas LGBTQIAPN+.


A “Capacitação no atendimento profissional às pessoas LGBTQIAPN+: como evitar microagressões e realizar atendimentos culturalmente sensíveis” lida com pessoas que não possuem pleno acesso a direitos básicos, como saúde, educação e trabalho. Segundo o professor do Departamento de Psicologia Bruno Cardoso, coordenador do LaEIC, pessoas pertencentes às minorias sexuais e de gênero podem ser afetadas constantemente por uma série de estressores.


 

“Os reflexos do preconceito contra diversidade sexual e de gênero ainda repercutem, infelizmente, nos atendimentos em saúde. Profissionais não capacitados para atender a população LGBTQIAPN+ podem reproduzir um arsenal de microagressões que acionam o sofrimento desta população”, diz Cardoso.


Nos dois dias de capacitação, Bruno Cardoso e a psicóloga Ana Clara Braga, estudante do Programa de Pós-graduação em Psicologia: Cognição e Comportamento, vão propor reflexões que podem auxiliar os profissionais a atender, de forma mais qualificada, pessoas que compõem a sigla LGBTQIAPN+. 


A capacitação será dividida em dois encontros. No primeiro, os pesquisadores vão compartilhar conceitos básicos sobre diversidade sexual e de gênero e informações sobre sofrimentos e adoecimentos mentais aos quais essa população é mais suscetível. O segundo momento vai se dedicar ao desenvolvimento de atendimentos de saúde acolhedores e afirmativos. Bruno Cardoso explica que a capacitação foi elaborada de forma cuidadosa, com o objetivo de disseminar a informação e a promoção da saúde para todos. 


“Como pesquisador, psicólogo e professor, acho muito importante contribuir para a reflexão sobre este tema, trazendo conhecimento de forma acessível e inclusiva para todos. Nosso objetivo é proporcionar reflexão sobre as microagressões que podem ocorrer no dia a dia ou nos atendimentos e como desenvolver competências multiculturais para profissionais no trato com essa população”, completa o coordenador.


Importância da capacitação

Na área da saúde, quando pessoas LGBTQIAPN+ tem acesso à saúde, o indivíduo ainda tem de lidar com preconceito, falta de informação, despreparo e resistência dos profissionais no trato com a diversidade de gênero e sexual. Segundo o pós-graduando no programa de saúde pública da UFMG, Samuel Araújo Gomes da Silva, pacientes da comunidade ainda enfrentam muitos desafios que vão do não reconhecimento de algumas possibilidades no atendimento até a violência física.


“Esse não reconhecimento é que, infelizmente, a gente ainda tem uma formação de saúde muito voltada para o corpo humano heterossexual. A gente tem uma discussão muito teórica sobre a determinação social da saúde, mas na hora de aplicar e de atender não é muito visto no serviço de saúde”, diz Samuel, que também é demógrafo.


O pesquisador explica que quando um profissional questiona sobre o comportamento sexual, ele não cogita que a pessoa seja transexual ao não ser que ela diga. O mesmo ocorre quando o profissional pergunta sobre um possível parceiro já imaginando que a pessoa seja heterossexual. Isso pode impedir que algumas pessoas usem o serviço de saúde.


 

“É preciso levar em consideração que as pessoas são LGBTQIAPN+, porque isso muda a forma como essa pessoa cresceu, toda a violência, preconceito, estigma que ela foi exposta. Provavelmente, em alguns casos, isso afetou a manutenção da pessoa na escola, o que afeta a entrada no mercado de trabalho que afeta a disponibilidade de comprar alimentos, então são várias questões que vão afetar os resultados de saúde, mas não necessariamente a gente está falando de uma condição de saúde”, completa o pós-graduando.


Samuel explica que pessoas LGBTQIAPN+ sofrem diversas violências ao longo da vida, que se desdobram na saúde pública. Portanto, considera a iniciativa do HC muito válida para desnaturalizar situações que ocorrem no cotidiano. De acordo com ele, é preciso desnaturalizar certos comportamentos baseados no sexo biológico.

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice