Lançamento do projeto Ginga, da Secretaria de Estado de Educação de MG em parceria com o MPMG -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Lançamento do projeto Ginga, da Secretaria de Estado de Educação de MG em parceria com o MPMG

crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press

Um projeto para combater o racismo estrutural e promover a cultura negra vai englobar, a partir do ano que vem, mais de 3 mil escolas mineiras. A iniciativa, chamada "Ginga: Construindo a Educação Antirracista em Minas Gerais" foi lançada nesta quarta-feira (4/12) e formará professores e alunos do ensino fundamental e médio da rede estadual. A ação é fruto de uma parceria entre Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Secretaria de Estado de Educação (SEE-MG), Instituto AGÔ e o Instituto Pela Educação de Resultados (IPE).

 

 

A iniciativa vai atingir diretamente as 47 Superintendências Regionais de Ensino e 3,4 mil instituições. Para a capacitação dos professores e estudantes, o Ginga fornecerá ferramentas práticas e teóricas para que a temática racial seja abordada em sala de aula de forma crítica e pedagógica. 

 

De acordo com Ana Carolina Zambom, promotora de Justiça e coordenadora do Centro de Apoio às Promotorias de Educação (Caoeduc), o Ginga é mais do que um projeto, e sim um movimento, um compromisso e uma necessidade de trabalhar a educação antirracista dentro das escolas. Para Zambom, é uma forma para tentar desconstruir uma situação vivenciada por toda a sociedade, o racismo estrutural. “Temos um material teórico e prático que vai ser trabalhado nas escolas com intervenções pedagógicas, promovendo espaços para debates seguros, para que seja um momento de reflexão e pensamento crítico”, afirma ela.

 

Para guiar as discussões e desenvolver as ações foram definidos alguns pilares. São eles: a valorização da cultura negra, a conscientização sobre o racismo e a criação de espaços seguros para debates e diálogos abertos entre alunos, docentes e toda a comunidade escolar.

 

 

  

 

O processo começa com a produção de conteúdos. “O AGÔ cria os materiais e todos os parceiros analisam os conteúdos para fazer a aprovação e encaminhar para as escolas. São atividades práticas com conteúdos teóricos propositivos para que seja realizado esse debate dentro da sala de aula, promovendo uma mudança de mentalidade em toda a comunidade escolar”, explica Zambom.

 

Com conteúdos aprovados, inicia-se a fase de treinamento. “Inicialmente, pelo menos um diretor de escola de cada regional passará por um trabalho de conscientização sobre a educação antirracista, que, posteriormente, vai para as escolas. Serão ações oferecidas pelo MP, com profissionais que irão trabalhar através de oficinas, materiais didáticos e cartilhas. Tudo isso será desenvolvido e entregue nas nossas escolas”, descreve o secretário de Estado de Educação, Igor de Alvarenga. Segundo ele, as práticas começam a partir do ano que vem, ainda sem data definida.

 

 

A motivação para implementar o Ginga veio, conforme a promotora, da dificuldade de se medir como a temática é trabalhada nesse ambiente. “As escolas já trabalham esse tema de modo transversal, porque elas se inserem em todas as matérias. Mas é difícil termos uma dimensão de como isso é trabalhado”, comenta. Por isso, Ana Carolina garante que o projeto terá métricas para verificar qual o resultado do trabalho realizado.

 

Formação de adultos antirracistas

 

De acordo com o promotor de Justiça Allender Barreto, é preciso trabalhar na educação das crianças e dos jovens para a formação de adultos antirracistas. O também líder da Coordenadoria de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação diz que o projeto visa a construção do antirracismo na formação da cidadania das pessoas. “Hoje, tentamos inaugurar um novo tempo, de uma construção de políticas antirracistas no nascedouro da formação das crianças e dos jovens nesse estado”, declara.

 

 

O promotor ainda destaca a importância da política. “O antirracismo é uma pauta da democracia brasileira. A Constituição da República traça como objetivo fundamental o enfrentamento ao racismo. Esse enfrentaremos não pode ser eventual ou episódico em casos de crimes. A punição é muito importante, mas devemos trabalhar com a formação, portanto, o ambiente escolar é fundamental para a construção de uma sociedade verdadeiramente antirracista”, destaca.

 

Movimento e resistência

De acordo com dados do MPMG, apresentados no evento de lançamento desta quarta (4), Minas possui 853 municípios e 47 superintendências regionais. Ao todo são 1,7 milhão de estudantes – deles, 62% se autodeclaram negros. “Quando olhamos para esse cenário, é no centro das escolas que mora a incubadora de transformação social a qual devemos nos apegar”, comenta a representante do Instituto AGÔ, Iara Viana.

 

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“Por isso, contamos com os superintendentes para gingar contra o racismo, gingar e fazer movimentar ainda mais a política educacional antirracista”, conclui Igor de Alvarenga. Para firmar o compromisso, o evento contou com a assinatura de Memorando de Intenções entre MPMG e SEE-MG.

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Fábio Corrêa