Para o empresário Abilio Diniz, o Brasil está num bom momento: o desemprego e a inflação estão caindo, e os juros estão começando a arrefecer. Ele afirma, porém, que falta "ambição" para o país crescer mais e que o investimento privado deve aumentar para isso acontecer.
"Não se faz crescimento sem investimento. Nós vemos o governo lutando por mais verba, para não ter corte [de verba]. Mas e a quantidade de dinheiro que tem no setor privado? Não precisa amar a Faria Lima ou gostar do mercado, mas deixa eles trabalharem para o Brasil", disse o empresário em evento do Itaú BBA nesta quinta-feira (9).
"Vamos dar segurança jurídica e política, deixar investirem e fazer esse país crescer. Por que temos que nos contentar com [crescimento] de 2,5%, 3%? Qual é a nossa ambição? Nossa ambição está muito baixa, é muito importante que tenhamos consciência disso", disse Diniz.
Questionado sobre o varejo, o empresário afirmou que, apesar de o cenário parecer negativo, o setor não está em crise no Brasil.
"O consumo das famílias já voltou a crescer, e há projeções da Abras [Associação Brasileira de Supermercados] de crescimento para o setor. É claro que o mercado não está amando as varejistas, e há motivos para isso, mas o varejo está estável e ligeiramente crescente", disse Abilio.
Ele afirma, porém, que o setor de bens duráveis e demandantes de crédito, como eletrodomésticos e eletrônicos, ainda enfrenta desafios para crescer, em especial por conta dos juros altos (hoje, a Selic está em 12,25% ao ano), que, na visão de Diniz, devem permanecer por mais tempo que o esperado.
Apesar da perspectiva de cortes para a Selic, não haverá espaço para reduções mais profundas nas taxas brasileiras. Como pano de fundo, estão os juros americanos, que ainda devem permanecer em alto patamar e limitam o cenário de cortes no Brasil.
"Dizem 'os juros estão baixando, vai melhorar muito'. Para quem? Para nós, investidores, sim. Mas não vai cair muito. Para as pessoas que vão comprar bens de consumo, que diferença faz a Selic em 12,25% ou 9,5%? Ainda continua muito alta", diz o empresário.
Na última semana, o boletim Focus, do Banco Central, que reúne projeções econômicas, mostrou que a previsão de economistas sobre a taxa de juros para os próximos anos subiu. Agora, os analistas esperam que a Selic fique em 9,25% no fim do próximo ano, ante 9% no levantamento anterior. A previsão para 2023 foi mantida.