Em meio a recuperação judicial, 123milhas anuncia promoções para Black Friday
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Em meio a recuperação judicial, 123milhas anuncia promoções para Black Friday

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Após a suspensão de pacotes de clientes e acumular dívida de R$ 2,5 milhões, as empresas 123Milhas e Maxmilhas, agências de viagens do mesmo grupo, entraram na Black Friday e anunciaram descontos em voos e hospedagens, nacionais e internacionais, em seus sites.

 

A promoção "Esquenta Black123”, ativada nessa quinta-feira (23/11), tem ofertas de quase 70%. Há descontos, por exemplo, de voos para Aracaju (SE) de R$ 1.422 por R$ 451, redução de 68,2%. Enquanto isso, a “MaxFriday” oferece até 20% off nos pacotes.

 

Nas ofertas, as agências anunciam emissão imediata de reservas de voos e hospedagens. Em uma publicação nas redes sociais, a 123Milhas garante estorno do valor, caso o pedido não seja emitido em até 24 horas. 

A promoção acontece quase três meses depois de as empresas entrarem com pedido de recuperação judicial. Na manhã desta sexta-feira (24/11), o Estado de Minas acessou os sites das empresas e fez simulações que confirmam que a venda de passagens com preços promocionais ainda está ativa.

 

Procurada pela reportagem, a 123Milhas disse estar operando normalmente. "A manutenção das operações é fundamental para o futuro da companhia e para honrar o compromisso com seus credores", afirmou por meio de nota.

 

A expectativa da empresa é de uma procura maior pelas promoções no sábado (25/11). "As promoções da BlackFriday oscilam de acordo com os valores das passagens praticadas pelas companhias aéreas", completa o texto.

 

Já a Maxmilhas reforçou que, apesar de ter sócios em comum com a 123milhas, sua operação é separada e não suspendeu nenhuma linha de produtos. "A ideia fundamental da recuperação judicial é garantir a continuidade das atividades da empresa a fim de assegurar sua manutenção e de honrar o compromisso com clientes e fornecedores", destacou por meio de nota.


 

Promoção revolta clientes

 

O anúncio de vendas a preços promocionais surpreendeu clientes que estão com os pacotes e emissões de passagens suspensos há meses pela plataforma. É o caso da enfermeira Flávia Rabelo, de 43 anos. Ela tinha uma viagem marcada para a Itália em outubro deste ano e continua pagando as parcelas, sem nenhum retorno de restituição do valor ou nova data para o passeio.

 

Indignada, Flávia diz já ter buscado todos os meios para reaver seu dinheiro, porém, sem sucesso, nem mesmo para rescindir as parcelas pelo serviço do cartão de crédito. “Continuo pagando o pacote, porque não consigo cancelar. Já sei que a viagem não vai acontecer. Eu queria pelo menos cancelar as parcelas e ter meu dinheiro restituído”, lamenta.

 

Em outubro, a Justiça mineira determinou que clientes lesados pela empresa poderiam estornar as compras realizadas por meio de cartão de crédito no site da agência de viagens. A decisão tem como base o art.477 do Código Cìvil e no direito fundamental dos consumidores, uma vez que houve descumprimentos contratuais.

 

Para Flávia, o anúncio promocional no site da empresa é uma falta de respeito com os consumidores. “É uma furada. Ninguém deveria comprar", disse ao Estado de Minas.

 

Ações seguem paradas

 

Em agosto, a 123 Milhas suspendeu a emissão de passagens até para quem já havia efetuado pagamentos das viagens até dezembro deste ano, deixando milhares de consumidores na mão de última hora em todo o Brasil. A situação pegou muita gente de surpresa.

 

Com o acúmulo de dívidas, os donos entraram com um pedido de recuperação judicial, que, em Minas Gerais, foi aceito e depois suspenso pela 21ª Câmara Cível Especializada de Belo Horizonte, no dia 20 de setembro.

 

Na prática, no entanto, a suspensão não trouxe nenhuma mudança para os clientes e credores lesados pela empresa. Isso porque, embora tenha anulado a medida, a Justiça manteve o período de blindagem de 180 dias em que ficam suspensas todas as ações judiciais em tramitação contra a agência de turismo.

 

Isso significa que, até meados de março de 2024, as ações seguirão paradas. Para ressarcir os consumidores lesados, que, segundo a empresa, representam 5% dos 5 milhões de clientes anuais, foram oferecidos vouchers, que são parcelados em três a cinco vales-compras.